É de hoje… Pobres milionários

É de hoje… Pobres milionários

Em 2020, há sensivelmente um ano, um vídeo mostrava um ex-ministro de um país africano a ser achincalhado por um cidadão da terra de que foi governante por causa da vida luxuosa que exibia em solo europeu, seguramente na sequência de constantes roubos que terá efectuado.

Há dias, num encontro com um mais velho escriba, tive conhecimento que entre nós existem muitos dos nossos pseudo-milionários, desabrochados das maracutaias que hoje vão sendo desmontadas pelos Serviços de Informação e Segurança de Estado, Serviço de Investigação Criminal (SIC) e a Procuradoria-Geral da República, muito preocupados quando recebem chamadas telefónicas de números estranhos.

Não fossem os processos levantados nesta fase em que o país vive, certamente que muitos já teriam partido para os paraísos que edificaram na Europa, América e até mesmo na Ásia, o que demonstra que, desde sempre, muitos deles não estiveram engajados, sequer, em propósitos que iriam levar este país para o desenvolvimento.

A forma doentia como se atiraram ao pote, sem qualquer remorso, espelha fielmente a pobreza mental e espiritual em que muitos deles vivem, independentemente dos largos milhões que amealhavam em detrimento de uma maioria de cidadãos que hoje vagueiam pelas ruas à procura de um pão ou uma oportunidade de emprego.

É comum dizer-se que por trás de uma grande fortuna haverá sempre um crime. Se sim ou não, entre nós, a vida luxuosa de muitos dos supostos endinheirados esteve sempre associado a uma história cheia de inverdades, algumas das quais demasiado perigosas.

No meio de todas estas ilicitudes, espanta sobremaneira a apetência que muitos deles têm para, logo na primeira oportunidade, enviarem o que sacam por meio de falcatruas para o exterior, conscientes de que num futuro não muito distante poderão acabar por perder o dinheiro e nem serem aceites naquelas sociedades em que pensavam pertencer.

Mesmo com as listas intermináveis de bens, como os exibidos, por exemplo, por Lussaty e companhia, os nossos milionários são pobres. Mesmo com as mansões que espalharam pelo mundo, ainda assim não conseguem ter um sono tranquilo.

O ódio que vão ganhando daqueles que um dia governaram e o desdém daquele primeiro mundo em que um dia pensavam estar ligados faz deles não só seres de segunda, como também aprendizes de feiticeiro que nem sequer se aproximam dos contos de Robin dos Bosques.

A forma piedosa como um dos intervenientes se dirigiu, no final, ao antigo patrão do Instituto Nacional de Estradas, por exemplo, dizendo ter visto partir todos os amigos deste e algumas pessoas próximas que o cortejavam onde quer que fosse, é sintomática. São vários os fantasmas com que irão conviver até aos últimos dias das duas vidas, apesar dos milhões que ainda ostentam lá fora.