Solidariedade da cidadania nacional

O meu instinto, teimosamente, recusa- se, faz quase um mês, de navegar, no oceano da doce maré da surpresa, quando no 15.05, a repórter da “Causa Solidária”, Djamila Alves, no Canal 1, da Televisão Pública de Angola, caracterizou a maneira como os angolanos têm aderido a campanha de recolha de donativos para as famílias vítimas da seca e estiagem do Sul de Angola.

O trabalho que os órgãos de comunicação social estatal e privados estão a empreender, constitui um marco histórico ao juntar, na empreitada vários profissionais da e na imprensa: jornalistas; apresentadores; fotógrafos; técnicos; gestores; motoristas, numa incontida união e convivência, visando, pioneiramente, o objectivo de com a força da voz, do texto, da notícia, emprestar solidariedade, não só imaterial, como material, as populações mais carenciadas, que vivem na carne e na alma, os nefastos efeitos da estiagem. Uma grata acção! Uma excepção, que cala fundo nos nossos corações.

Verdade seja dita, este acto, iniciado no sentir dos jornalistas, sem o estigma de filiação partidária, não dos chefes dos jornalistas, que abraçaram, posteriormente, a causa, salvo os momentos políticos, mais eufóricos e indeléveis que marcaram as nossas vidas comuns como a proclamação da Independência Nacional (1975); a Assinatura do Memorando de Entendimento do Luena (2002), que determinou o fim do conflito militar (durou 27 anos); às 11 conquistas da Selecção Nacional de Basquetebol masculina (hegemonia iniciada em 1989); a qualificação da Selecção Nacional de Futebol, para o Mundial/2005, esta acção tem estado a capitalizar a sensibilidade de milhões de angolanos.

E, de repente, dou, de novo em mim, orgulhosamente, a imaginar, algo que é apanágio das instituições castrenses: a coesão da classe, onde não se questiona a idade, crença, ano ou local de ingresso, valendo única e simplesmente o cumprimento de missão, no espírito de camaradagem e da defesa dos mais elevados ideais de defesa da Pátria e de todos os seus filhos.

O trabalho é tão bonito que de facto está a demonstrar que, juntos podemos alavancar o nosso país, não importa as divergências ideológicas, que tenhamos, em um dado momento, quando cientes do objecto comum, enquanto cidadãos de um povo heróico e generoso, que não se revê nos péssimos hábitos e costumes de uma certa franja de indivíduos descontentes por ainda não terem logrado os seus intentos e, a todo custo, tentam impingir no seio do nosso humilde e pacato cidadão, a lógica da desobediência, desacato às autoridades, bem como o de fazer justiça por mãos próprias, nunca clara afronta as forças da Ordem e Segurança Pública.

Num mar de incertezas, assistir estes gestos, temos quase a certeza de o muito que vai mal no país pode ser vencido se a unidade na diversidade imperar.

Sabemos que há fome e que todos devemos fazer, ao nosso nível para reverter este triste e sombrio quadro, com realismo e não populismo, ciente de que com a crise económica internacional e nacional, a baixa do preço do petróleo, nosso principal produto de exportação e a pandemia do COVID – 19, todos devemos ter humildade bastante, para a união que se impõe e não apoiar a continuidade de “tachos” em “bar aberto”, sem restrições, para gaudio de uns poucos, em detrimento da maioria.

A solidariedade de uma classe, se estendida as demais é capaz de derrubar e derrotar as matilhas do mal, que se agigantam de vaidade, com a desgraça alheia, mesmo nestes novos tempos, daí ser importante rememorar, a poetisa e romancista haitiana Kettly Mars (62 anos de idade -03 de Setembro de 1958, Porto Príncipe, Haiti

Livros: Savage Seasons, Kasalé, L’heure hybride), que assevera: “O passado é um terreno minado”. Logo todos devemos ter ciência, que ainda hoje, pelo mundo, litígios com muitos séculos continuam a opor nações e povos, por persistência numa interpretação difusa e, muitas vezes, difusa da realidade, quando se apostando no bem comum, no hoje e amanhã risonho se podem enterrar as desavenças, a masturbação política, a autoflagelação hipócrita ou a auto satisfação estéril do passado, projectando-se os dias de um futuro melhor, individual e colectivamente para todos angolanos.

Por esta razão, “ in fini”, um bem-haja ao(s) mentor(es) do projecto, pois o trabalho é mesmo tão bonito quanto os intervenientes, que se doam de corpo, alma e inteligência, num bem fazer, que a todos verdadeiros angolanos orgulha, quando Angola avança.

Por: Alberto Kizua