MEA quer merenda de volta nas escolas para evitar desistências de alunos

Os últimos acontecimentos que dão conta do abandono escolar de 20 mil crianças, por causa da fome, dos 41 mil matriculados para o ano lectivo findo de 2020/2021, em Cacula, na Huíla, marcaram profundamente o Movimento de Estudantes de Angola (MEA), que apela o Governo a repor a distribuição de lanches, mas de forma regular, de modo a corrigir-se também a intermitência que ora registava

Francisco Teixeira, o líder do MEA, asseverou que ele e a sua equipa já falaram com a ministra da Educação, com a da Acção Social, Família e Promoção da Mulher e até mesmo com o Presidente da República, na ocasião do último encontro que concedeu à juventude, a fim de se efectivar a concessão ininterrupta da merenda escolar, em todas escolas primárias e secundárias do I ciclo do país.

“Se até hoje ainda não o fizeram, ao ponto de se registarem situações semelhantes a que está a acontecer na comuna do Viti Vivali, município de Cacula (Huíla) é porque há má-fé e insensibilidade da parte daqueles que nos governam”, acusou Francisco Teixeira, para quem a questão da merenda escolar, além de constituir uma obrigação do Estado em garanti-la, constitui uma recomendação da UNESCO.

O responsável do MEA adiantou que o mais triste, nisso tudo, é o facto de haver países muito mais pobres do que Angola, como são os casos de Cabo Verde, São Tomé e Moçambique a cumprirem com esta exortação.

“Mas a rubrica merenda escolar é contada no Orçamento Geral da Estado (OGE). Há alguém que fica com esse dinheiro e sobre isso já falamos com todas as entidades com quem devíamos falar”, disse o representante dos estudantes, tendo realçado que esteve por duas ocasiões com o Presidente da República, as mesmas vezes que lhe cobrou a necessidade da merenda escolar.

“Infelizmente, sentimos que não há vontade política”, desabafou. Os encargos com a alimentação e o material escolar devem ser da responsabilidade do Governo, sendo que os pais só começam a assumir esses encargos, a partir do ensino médio, actual ensino secundário do II Ciclo.

Invocando a clareza da lei que postula que, da 1ª a 9ª classe, os estudantes estão sob a responsabilidade do Estado, salientou que, tratando-se de uma situação de extrema pobreza, a responsabilidade se torna ainda maior e cobra sentimento pelas crianças carenciadas que estudam nas escolas estatais.

O caso agravante da falta de água em muitas escolas do primeiro nível, em pleno tempo da pandemia da Covid-19, é usado pelo líder do MEA como o mote do desinteresse dos dirigentes do sector do ensino e de Angola.

Contou que, receberam a informação das 20 mil crianças que abandonaram a escola no Viti Vivali, com muita preocupação.

“Mas nós já temos estado a alertar o Governo sobre a postura que tem de insistir em não distribuir a merenda escolar para as crianças- estudantes”, retorquiu o entrevistado, salientando que o que aconteceu nesse município da Huíla também já aconteceu no Curoca (Cunene), bem como no Cazenga, em Luanda.

Pela constatação que tem feito, conclui que, em quase toda parte do país, em função daquilo que ousa chamar de deterioração, as famílias ficaram empobrecidas.

“Então, os estudantes, que são crianças, não conseguem ficar das oito às 12 horas sem comer alguma coisa”, declarou.

Pronunciamento de altos dirigentes do país requerem-se

O homem forte do Movimento de Estudantes de Angola manifestou- se espantado pelo facto de, até ao momento dessa entrevista, não ter havido nenhum pronunciamento da ministra da Educação, porque, segundo alegou, num país sério, entidades como ela, o director provincial da educação da Huíla e o governador já deviam pronunciar-se sobre o assunto.

Para ele, em vez de ficar pela admissão do facto e o anúncio dos dados numéricos de abandono escolar, na sua jurisdição, o director municipal da educação de Cacula devia pedir apoio da área social do governo provincial ou recorrer a outras organizações não-governamentais.

“Já fizemos relatórios e entregamos, não foram respondidos. Nós vamos continuar a pressionar. Nesse momento, estamos a preparar outra exposição referente à situação degradante e agravante da parte Sul de Angola, para vermos como fica”, revelou Francisco Teixeira, tendo acrescentando que, para o actual caso da Huíla, têm aí um secretariado devidamente orientado para ver a gravidade da situação, fazendo um trabalho ´in loco´ muito mais profundo, produzir um relatório e enviá-lo para Luanda.

Em solidariedade com essas crianças, o Movimento de Estudantes de Angola está a colocar vários panfletos nos viadutos e nas pedonais, sobretudo no corredor da Shoprite da circunscrição do Congolenses, distrito urbano do Rangel, em Luanda, de modo a chamar atenção novamente ao Estado para olhar no facto de termos quase 3 milhões de crianças fora do sistema de ensino.

“Vazamento de exame espelha a forma como o Governo olha para a educação pública”

Relativamente ao vazamento dos exames que ditaram a anulação de algumas provas da 9ª classe, o líder do MEA disse que não há seriedade no uso das posições profissionais.

“Não é a primeira vez que isso acontece, já aconteceu muitas vezes. Acontece nas escolas normais, nas direcções provinciais. Amanhã pode acontecer coisas piores do que isso. O vazamento de exames espelha a forma como o Governo olha para a educação do sector público”, desafogou.

Francisco Teixeira avisou que o Movimento de Estudantes de Angola (MEA) não vai aceitar que se punam estudantes, por não terem sido eles que elaboraram a prova. Adiantou, em seguida, que tem de se punir os verdadeiros responsáveis e o seu elenco está ávido em ver quem vai ser responsabilizado.

Quanto à anulação da prova, determinada pelo Gabinete Provincial da Educação de Luanda, o líder do MEA disse que não se pode apenas ficar por essa medida.

“É necessário que a culpa não morra solteira. Nessa altura o Movimento de Estudantes de Angola tem programados alguns mecanismos de pressão que serão utilizados no momento certo”, anunciou o dirigente do MEA, tendo reiterado que não podem culpabilizar os estudantes.

Segundo entende, se vazou é porque alguém deu, daí que se devia ver as pessoas que elaboraram as provas.