É um absurdo ter um sistema de ensino monolingue num país heterogéneo do ponto de vista linguístico e étnico

É um absurdo ter um sistema de ensino monolingue num país heterogéneo do ponto de vista linguístico e étnico

O contexto sociolinguístico angolano fala por si só dos efeitos nocivos que o sistema de ensino monolingue, em Angola, tem trazido sobre o processo de ensino e aprendizagem, mormente quando os educandos têm como língua materna uma das línguas bantu. Erudição nenhuma seria necessária para compreender tal facto!

Como se sabe, Angola dispõe de uma população escolar heterogénea, do ponto vista cultural e linguístico, evidências irrefutáveis que nos levariam a rever e, quiçá, a desfazer urgentemente o sistema monolingue vigente em Angola. Vê-se na Lei de Bases do Sistema da Educação, art. 9. Nas áreas recônditas, a título de exemplo, lá no interior, ouve- se, com regularidade, casos de professores que se vêm impossibilitados de ensinarem em português devido aos alunos que têm como língua materna uma das línguas bantu, vezes há que o professor se sacrifica, a fim de encontrar um tradutor, este, por sua vez, durante o curso d’aula, traduz todo enunciado oral do professor numa das línguas bantu dominada pela turma.

Assim sendo, há em falta uma política linguística abrangente e contextual. A diversidade linguística não é vista só em Angola, há tantas outras regiões africanas como África do Sul, Malawi, Moçambique e demais países que acharam preferível e mais sensato adoptar um ensino bilingue, paradoxalmente, ao nosso, para que tenham um ensino mais abrangente e profícuo!

A rigor, é um absurdo ter um sistema de ensino monolingue num país, potencialmente, heterogéneo do ponto de vista étnico e linguístico. Portanto, defendemos que a prática de ensino em línguas bantu deva reflectir-se e soar no seu próprio contexto, ou seja, onde são faladas.

Nesse caso, para evitarmos o fracasso escolar dos alunos de língua materna bantu, sugerimos, à semelhança dos autores Severo, Sassuco e Bernardo (2019), o cokwe para a região Leste, o kikongo para o Norte, o kimbundu para o espaço Centro- Nordeste, o umbundo para o Centro-Sul, e o oshikwanyama e olunyaneka para o Sul profundo de Namibe a Kunene, respectivamente.

Por: António Raimundo