Acendeu-se na sociedade angolana uma enorme discussão relativamente ao projecto de construção do Metro de Superfície de Luanda. Enquanto cidadão, há bastante tempo (muito antes da elaboração do projecto), que sou apologista e defensor da construção do metro para Luanda. Parece-me evidente que nem mesmo a multiplicação do número de autocarros ou a reabilitação das vias secundárias e terciarias que continuam a ser urgentes poderão ser soluções bastantes ou suficientes para resolver os problemas de mobilidade urbana em Luanda.
Apesar de achar que é sempre necessário que se considere todas as opiniões, entendo que se trata de um projecto necessário e ao mesmo tempo prioritário. Os críticos do projecto levantam todo o tipo de argumentos, sendo “a fome” o mais destacado neste momento. Elencam-se outras circunstâncias, tais como a nossa realidade, o estado negativo actual dos sistemas de saúde, ou da educação e o ensino, o investimento ainda insuficiente noutro meio de transporte ferroviário (o comboio), ou na agricultura, bem como a ausência de disponibilidade de energia eléctrica como seria desejado, ou ainda o fracasso dos catamarãs.
Resumindo e concluindo defendem que não somos realistas em termos de políticas públicas. Como referi acima, respeito a opinião desse conjunto de cidadãos, mas discordo completamente da sua opinião e dos argumentos que levantam para tentarem justificar a inviabilização da construção do metro. Na minha modesta opinião, apesar das dificuldades e constrangimentos que certamente encontraremos, esta é e será sempre uma excelente opção do Executivo angolano e afirmo- o sem o mínimo de hesitação, porque tenho a firme convicção que este projecto, caso seja executado rigorosamente poderá gerar uma autêntica revolução nos domínios económico e social.
Considerando a população residente em Luanda, estimada em número superior a oito milhões de habitantes, não podemos continuar a perder tempo, deixando os anos passarem e mantendo-nos à margem do desenvolvimento e mobilidade gera desenvolvimento. Entendo que não podemos parar, temos de implementar o metro e ao mesmo tempo dar resposta, encontrar soluções para as questões mais prementes, às nossas necessidades mais básicas da vida social de modo harmonizado. Uma coisa não invalida a outra.
A adopção deste meio transporte é inegavelmente uma necessidade urgente e caso não tenhamos a capacidade de o por em prática não vamos conseguir melhorar nunca a mobilidade urbana e avançar para a requalificação da cidade do modo desejável.
Não compreendo como é possível falar-se tanto em sofrimento e contrariamente não se demonstrar compadecimento com as dezenas de milhares de pessoas, que sofrem todos os dias devido a insuficiência da oferta que temos em termos de transportes públicos; que andam quilómetros a pé para atingirem as paragens das avenidas principais; que são assaltadas regularmente por demasiado tempo de espera nas paragens; de muitíssimos cidadãos trabalhadores que vivem só para pagar o transporte de casa para o local de trabalho, sem conseguirem fazer poupanças devido a necessidade de apanharem vários “táxis colectivos” vulgarmente conhecidos como “candongueiros” num só dia ao longo do mês, sem contar que sempre que lhes apetece encurtam as rotas em prejuízo do cidadão.
Qualquer um que faça o trajecto diário entre o Zango e Mutamba e outros, pode ver o sofrimento das pessoas devido a insuficiência de comboios, táxis ou autocarros que circulam todos abarrotados, enquanto nas paragens permanecem milhares de pessoas a aguardarem por transporte. Sinceramente, não compreendo as motivações de tanta frustração em torno deste processo, quando o metro de superfície não significará em esmagadora maioria um investimento público, cabendo ao estado uma percentagem mínima de recursos a serem direcionados a esta operação.
Não consigo vislumbrar aonde está o problema quando os técnicos especializados garantem existir condições para a sua implementação. Entendo que será uma excelente solução e não tenho quaisquer dúvidas que os cidadãos mais desfavorecidos serão os maiores beneficiados, ou seja, os que mais irão usufruir deste meio de transporte. Os cidadãos mais abastados não irão andar certamente de metro a não ser em situações excepcionais (embora este transporte não escolha classes).
Ao contrário do que se quer fazer crer, o metro não é um meio de transporte de luxo e andar de metro não é uma questão de vaidade em nenhuma parte do mundo, pelo contrário, normalmente é um meio de transporte barato e acessível a todos.
Por outro lado, porque não se destaca a possibilidade das obras virem a ter impacto positivo, podendo contribuir para a redução dos níveis de desemprego actuais, através da criação de milhares de postos de trabalho directos, numa empreitada que impulsionará a mobilidade urbana e irá gerar desenvolvimento, trazendo ganhos para o sector empresarial com as pequenas e médias empresas a beneficiarem imenso, caso se torne uma realidade, pode ser altamente positivo em termos de impacto ambiental, ajudando na redução da emissão de gases poluentes, colocando Angola na rota dos acordos internacionais neste domínio. É um projecto que pode contribuir para alavancar a economia e de modo sustentável.
Recordo que a falta de mobilidade causada pelos intermináveis engarrafamentos afecta muito negativamente a economia e a saúde física e psicológica dos cidadãos embora neste quesito estejamos ligeiramente melhor devido ao abrandamento da economia. Não tenho a mínima dúvida que o metro irá melhorar substancialmente a qualidade de vida dos cidadãos, contribuirá para desafogar e aliviar a pressão sobre o trânsito, sobre os transportes públicos e “táxis colectivos” e ainda ajudar a promover o turismo.
Poderá melhorar os níveis de eficiência das empresas, uma vez que irá certamente contribuir para a redução do número de funcionários a chegarem atrasados ao local de trabalho sempre com a desculpa do trânsito, ou da falta do táxi e até o saneamento básico terá de melhorar. Outrossim, no que respeita a questão da energia elétrica, concordo que seja um enorme desafio, que temos de melhorar radicalmente, mas é notável que este sector tem registado avanços significativos e transmitido sinais positivos, apesar de ainda não na medida que gostaríamos.
É do conhecimento geral que no presente momento, o problema não tem a ver tanto com a capacidade de produção, mas sim com a distribuição e tem-se investido imenso neste domínio, estando ainda em construção a Barragem de Caculo Cabaça que irá dar ainda mais fôlego, pelo que convém que aguardemos pelos resultados.
Relativamente ao resto mantenho a ideia de que havendo a capacidade de captação do investimento necessário e a implementação do projeto dentro do prazo previsto devemos avançar sem vacilar. É urgente que abandonemos um certo radicalismo e negativismo de lado, deixemos de ser um tanto quanto “fundamentalistas” nas análises criticando todos e quaisquer projectos de iniciativa do Executivo angolano mesmo sendo razoáveis ou positivos e visando melhorar a vida de todos sem excepção.
Não é possível que todas e quaisquer acções empreendidas por quem nos governa sejam negativas tal como é defendido por alguns. Sem sonhos ou ambições de crescimento, nunca faremos as coisas que realmente necessitamos. Já não vamos a tempo de projectarmos e darmos um passo de cada vez. Temos de nos organizar estruturalmente no sentido de granjearmos a capacidade de podermos dar ao mesmo tempo em diferentes domínios, passos firmes e concretos rumo ao futuro, ao desenvolvimento sustentável considerando a dinâmica veloz e altamente galopante da sociedade, onde o crescimento demográfico é enorme, (todos os anos a população aumenta e surgem novos bairros) e a passo de camaleão como alguns cogitam não chegaremos lá.
As outras questões sociais devem ser resolvidas com base em projectos e programas próprios, não podendo ser ignoradas de modo algum, mas repito, independentemente delas, é possível termos o metro de superfície em Luanda sim.
Por: Omar Ndavoka Abel
1 Comentário
Mario da Silva Sáb, 17 Jul 2021 às 17:33
Uma boa ideia, mas deve ser colocada em prática.