Celso Rosas: PCA Porto do Lobito “Apostamos na comunicação como principal instrumento da nossa gestão”

Celso Rosas: PCA Porto do Lobito “Apostamos na comunicação como principal instrumento da nossa gestão”

Um ano depois de ter sido nomeado Presidente do Conselho de Administração do Porto do Lobito, Celso Rosas fala sobre os desafios, avanços e a situação actual daquela empresa, tida como dos principais contribuintes activos do processo de fortalecimento da economia nacional. Nesta entrevista, o PCA do Porto do Lobito falou, dentre outras coisas, das mercadorias que passam por aquele porto, das infra-estruturas sociais e do concurso internacional para a privatização dos Terminais.

Qual é o estado actual do Porto do Lobito?

O Porto do Lobito encontra-se numa fase boa.

Porquê?

É que, apesar da crise económica que assolou o nosso país em geral, e a nossa empresa em particular, reflectindo-se directamente no poder de compra dos nossos principais clientes que são importadores, tem sido possível melhorar os indicadores de produção em mais de 60% comparativamente ao ano de 2020, melhoria esta que resulta da inclusão de muitos mecanismos de controlo interno, investimento constante no capital humano e noutras abordagens que têm impactado de forma positiva a performance da empresa.

Recuado o tempo, quando cá chegou, aquando da sua nomeação, que Porto encontrou?

Encontramos um Porto com muitas dificuldades, que trabalhava de forma manual, pois não tinha um software de gestão das operações. Encontramos trabalhadores com um índice motivacional baixo, sem muitos instrumentos de gestão bastante importantes para a tomada de decisão, com indicadores de produção em declínio, com muitas inconformidades a vários níveis.

E que mecanismos foram usados para contornar estas adversidades?

Logo que chegámos, fizemos um diagnóstico a fim de saber a real situação funcional e organizacional da empresa. A primeira acção de grande relevância foi a reposição do software de gestão portuária, pois o Porto trabalhava de forma manual, o que representa uma grande falha em termos de controlo interno. A seguir, efectuámos, pela primeira vez, na história da empresa, um concurso para preenchimento de vagas no quadro directivo da empresa, obedecendo o princípio da meritocracia e da transparência.

Esta iniciativa gerou algum conflito interno?

Claro que não. É que tivemos de investir seriamente na componente comunicação, envolvendo os próprios trabalhadores das vantagens que as mudanças em curso poderiam trazer de forma individual e colectiva.

Mas dificilmente as pessoas aceitam as mudanças com naturalidade.

Aqui foi diferente porque desde que cá chegamos temos dado muita importância no papel da comunicação. E a comunicação, quando é feita com responsabilidade, amor e respeito, acaba por gerar um clima bom nas relações quer profissionais como pessoais. E todos os dias temos feito o exercício de nos comunicar um com os outros para a dissipação das dúvidas e fofocas. Neste caso particular, os trabalhadores foram abertos ao concurso para preenchimento de vagas no quadro directivo da empresa porque sabiam que era uma acção que os envolve directamente.

E venceu a meritocracia?

Sim. Todos os responsáveis e pessoas que estão nas áreas de direcçao foram seleccionados por via do concurso para preenchimento de vagas no quadro directivo da empresa. Isso fez com que as pessoas tivessem a certeza da sua posição dentro da empresa.

Decorrido mais de um ano desde a sua nomeação, que Porto do Lobito temos hoje sobre a sua gestão?

Temos um porto onde os trabalhadores têm vontade de cá estar porque se sentem valorizados. Sentem que os seus problemas são ouvidos, resolvidos e sentidos. Sobretudo, temos um Porto do Lobito cada vez mais motivado e que, por via dos seus trabalhadores, está a contribuir para o fortalecimento da economia nacional.

Qual é o impacto que a Covid-19 causou na operacionalização do Porto do Lobito?

A previsão de crescimento do movimento de navios no Porto do Lobito é negativo, pois os riscos estão fortemente encostados ao lado negativo, já que existe uma grande incerteza sobre a duração e a severidade do impacto da pandemia da Covid – 19 na procura global e sonas preocupações sobre o excesso de oferta nos mercados petrolíferos, apesar do acordo entre os produtores. Tendo em conta os dados do I Semestre 2020 em relação ao mesmo período do ano anterior, verificou – se a redução de 41% no volume de negócios da Empresa. E qual foi o valor arrecado durante o ano de 2020 e o primeiro semestre de 2021? Durante o ano 2020 foi arrecadado 16.057.385.857 e o I Semestre 2021 foi de 8.436.783.940.

No entanto, a meio a crise que o país vive, que tipos de mercadorias passam pelo Porto do Lobito?

Cobre, Exofre, Magnésio, viaturas, sabão Ocido nítrico, sulfato de amónio, volumes com plásticos e material diversos lideram o movimento de mercadoria em trânsito São cargas principalmente provenientes da Republica Democrática do Congo e da China, numa lista liderada com 9.530 toneladas de magnésio da RDC com destino à China, bem como 5.917 tonelada de cobre da RDC para China e Bulgária e 4.648 tonelada de enxofre da Rússia para RDC e para a China.

Qual é o impacto que essas mercadorias têm no pulmão económico do País ?

Têm um grande impacto, pois o Porto do Lobito, com as infraestruturas que possui, representa uma porta de entrada do país e da região, principalmente com a ligação ao sistema transafricano de vias férreas a partir do Caminho de ferro de Benguela, com a ligação da estrada nacional número 100 e também ao aeroporto internacional da Catumbela, constituindo assim um importante sistema multimodal. Portanto, como vê, numa altura em que o país ainda não produz o suficiente para o consumo da população, o impacto das mercadorias que entram pelo Porto é grande, pois permite o abastecimento de várias cadeias logísticas. Recentemente, foi lançado um concurso público internacional para adjudicar a concessão do terminal polivalente de contentores e de carga geral do Porto do Lobito Encontramo-nos na fase de preparação tendo sido criada a comissão de avaliação para o processo das concessões e, pelo que sabemos, a mesma está já a trabalhar nas peças para o efeito.

Qual é a visão dos trabalhadores sobre esse processo de concessão?

No princípio havia muito medo e boatos à volta do processo. Mas, como dissemos no princípio, mais uma vez o factor comunicação acabou por dissipar todas as dúvidas. Por isso, hoje, os próprios trabalhadores compreendem que é um processo normal que acontece noutras economias.

“Situação social dos trabalhadores salvaguardados”

Quantos trabalhadores tem o Porto do Lobito? O Porto do Lobito tem 1.581 trabalhadores. Como está a situação social desses trabalhadores? A situação social desses trabalhadores esta bem salvaguardada. Como assim? A nossa gestão é humanizada. Pensamos sempre nos outros antes de qualquer valor financeiro. As pessoas são o centro da nossa gestão. Por isso mesmo é que, para além do salário, que é uma obrigatoriedade, o Porto do Lobito presta ainda subsídios de cesta básica e assistência médica e medicamentosa aos trabalhadores.

Como está a situação de habitabilidade dos trabalhadores? Recentemente tivemos uma situação com a construtora, o que impediu a entrega das casas. Também, constavam da primeira lista pessoas que não eram funcionários da empresa Portuária do Lobito. Tivemos de refazer a lista de maneira que, actualmente, só tem casa no projecto quem é funcionário da empresa. Portanto, é uma situação resolvida e também já foram entregues os apartamentos aos contemplados.

Para além do condomínio, de que forma estão a ser geridas as outras infraestruturas sociais do Porto do Lobito? Todas as infraestruturas sociais do Porto do Lobito têm como destinatário os próprios trabalhadores. É assim com a Clínica, condomínio habitacional, o complexo turístico da Caotinha e a casa de Passagem do Porto. Todas estas unidades sofreram, recentemente, um processo de reabilitação com vista a dar melhor comunidade aos utentes. E orientamos aos responsáveis pela gestão destas unidade a uma administração rigorosa e res

Perfil

Nomeado em Abril de 2020, por Decreto Presidencial, o actual Conselho de Administração do Porto do Lobito é constituído por Celso Rosas, Presidente do Conselho de Administração, Janeth Sofia Alberto dos Santos Matana, Joaquim Cristiano Sobrinho, Romão Matoso Pedro de Andrade, para Administradores Executivos e José António de Freitas Neto, para Administrador não Executivo. Faz ainda parte do actual CA, a Administradora Executiva, Maria Madalena.