O secretário-geral da Central Geral dos Sindicatos Independentes e Livres de Angola (CGSILA), Francisco Jacinto Pedro Gaspar, revelou, a OPAÍS, que há empresas de segurança que vão recrutar funcionários nas províncias de Benguela, Cunene, Huíla e Namibe para os “explorar” em Luanda, mantendo-os nos postos por até três meses sem serem rendidos e com “salários de miséria”
O sindicalista disse que, como não têm residência na capital do país e a própria empresa não dispõe de dormitórios, tais indivíduos acabam por tornar o serviço mais rentável para os seus patrões, pois, ao permanecerem mais tempo nos postos para os quais foram destacados, maximizam os lucros com a redução de mão-de-obra e com a agravante de este ter direito de apenas a uma refeição por dia, de péssima qualidade, em termos de nutrientes para o corpo humano.
“Nós, a CGSILA, temos a informação que há empresas que vão buscar pessoas no Sul do país, não sei com que apetência ou desejo, talvez para os aproveitar ao máximo como uma mão-de-obra barata”, frisou.
Declarou que, em alguns casos, ao finalizar 30 dias num determinado posto, o segurança é trocado com um dos seus colegas que está noutro posto em igual período de tempo.
A título de exemplo, contou que a sua própria organização sindical se viu forçada a rescindir o contrato com uma empresa de segurança que protegia as suas instalações, por esta ter adoptado a prática de manter um funcionário três meses sem o render.
Francisco Jacinto denunciou que tal ocorre apesar de a lei impor que os seguranças só devem permanecer nos seus postos, no máximo, 72 horas, violações que ocorrem com frequência por não existirem equipas de inspecção encarregues de fiscalizar este segmento.
No entender da CGSILA, não obstante à intenção do sindicato em defender os trabalhadores naquilo que são os seus direitos e interesses, impõe-se a necessidade de o Governo intervir neste sector.
“Nós estamos a falar de seres humanos que estão a mercê de outrem. O Executivo deve dar maior atenção aos profissionais deste sector, por o detentor da prorrogativa apresentar propostas legislativas [para regular o sector] ao legislador, de modo a que se aprove e tenhamos um instrumento que nos dê poder para intervir a favor dessa classe de trabalhadores que muito sofrem”, frisou. Acrescentou, de seguida, que “eles [os seguranças] estão a ser vítimas de uma escravatura à moda antiga. Têm apenas uma refeição por dia, que é arroz com feijão”.
No seu ponto de vista, os profissionais que trabalham em empresas de segurança privada merecem uma maior atenção, na medida em que são indivíduos que trabalham com armas letais.
O tratamento a que se refere está também relacionado com as melhorias das condições de trabalho, a começar pelos uniformes e passando pelos postos onde estão destacados, o que, para si, demostra a falta de humanização que há na relação entre a entidade empregadora e os empregados.
Segundo o nosso interlocutor, isso resulta do facto de a maioria das empresas privadas serem propriedades de oficiais superiores das Forças Armadas Angolanas e da Polícia Nacional. Os civis que estão envolvidos neste negócio têm parceria com os militares.
Francisco Jacinto disse que, em caso de despedimento, o funcionário, que foi aliciado a vir a Luanda, é abandonado à sua sorte sem a devida indemnização e nem sequer lhe é dado o dinheiro para regressar. A única saída que encontram é trabalhar como “roboteiro” para conseguir juntar dinheiro a fim de regressar ou enviar para as famílias que deixaram na sua província.
Alegado salário de miséria
No entender da CGSILA, ao se analisar a situação dessa classe de trabalhadores, é preciso que se tenham em conta as condições sociais e económicas.
A título de exemplo, contou que o salário pago a um profissional deste sector varia de 25 mil a 40 mil Kwanzas, no máximo, e as empresas não contribuem na Segurança Social, o que vai perigar a passagem deles à reforma. Para “piorar” ainda mais a situação, o pagamento dos salários não é regular, pois, ocorrem atrasos de dois a três meses, no mínimo.
Para Francisco Jacinto, tais atrasos não se justificam, pelo facto de muitas das empresas de segurança serem bem remuneradas pelas instituições colectivas e singulares, públicas ou privadas, com as quais celebraram os contratos.
Sendo mais preciso, o sindicalista disse que entre os clientes estão os bancos comerciais e grandes empresas públicas e privadas.
“Pagam muito pessimamente os seus trabalhadores que estão expostos a riscos muito grandes”, frisou, citando como exemplo os seguranças da empresa Socorro, SA, que foram intersectados, recentemente, por um grupo de marginais quando faziam a transportação de elevadas somas monetárias. Esta acção terminou na morte de um dos seguranças, tendo outro ficado gravemente ferido. O sindicalista apontou ainda a falta de seguro contra os riscos de trabalhadores, isto é, “acidentes” desta natureza, como outra debilidade que tais empresas têm de sanar, de modo a conferir maior dignidade aos seus profissionais.
1 Comentário
Sex, 27 Ago 2021 às 11:59
Demostra uma falta de humanismo total tal comportamento! e o mais agravante é que situações desta natureza, nem sequer têm o fim a espreita pelo facto de tais empresas serem muitas das vezes de Governantes, que no emgodo de se verem deuses, tornam- se jogadores e árbitros ao mesmo tempo.