Académico angolano destaca, em conferência, três dimensões do “Ubuntu” em palestra no Museu do México

Académico angolano destaca, em conferência, três dimensões do “Ubuntu” em palestra no Museu do México

O académico proferiu essa dissertação durante uma conferência online promovida pelo “Museu Nacional das Culturas do Mundo”, no México”, actividade do quadro da sua grelha de programação ordinária, cujo link pode ser acedido na plataforma Youtube

O académico angolano Daniel da Purificação, residente na cidade do México, destacou, recentemente, numa palestra promovida pelo Museu Nacional das Culturas daquele país americano, que o “Ubuntu” é uma reconfiguração, um desafio e um apelo à re-humanização. Antes da principal abordagem, o também poeta conceituou o termo “Ubuntu” como sendo uma forma de pensamento africano centrada no humanismo e na construção do “ser” e do “eu” em relação à comunidade, analisada nas últimas décadas do ponto de vista da Filosofia.

A palavra “Ubuntu”, como uma combinação das raízes “ntu”, que em várias línguas africanas significa “pessoa”, “muntu” referindo-se a “uma pessoa” e “bantu” que é “várias pessoas”, o plural. Argumentou, no entanto, que “Ubuntu seria uma reconfiguração, um desafio e um apelo para re-humanização, de modo a relocalizar o “Ntu” e o “Bantu” que somos. “Visto que uma das suas máximas é viver a unidade na diferença, onde a diferença não é o ponto de chegada, mas algo com que nascemos e aprendemos a viver, e implica um ponto de equilíbrio entre empatia e tolerância”, sublinhou o académico e filósofo Daniel da Purificação.

Na sequência, recomendou três formas de abordar o Ubuntu, começando pela “via ou caminho formal”, revendo os textos de filósofos e escritores que reflectiram sobre este tema, tais como Mogobe Ramose, Bas’Ilele Malomalo, Jean Bosco Kakozi, Eduardo Oliveira e Paulina Chiziane, entre outros. Um outro aspecto é o “caminho não formal”, que seria “toda a estrutura de conhecimento que se pode articular hoje, mas de uma perspectiva crítica e descolonial”. Assim como “dialogar com formas de pensamento em diferentes latitudes para construir pontes e abrir caminhos, com a fi losofi a de Pachamama, a ‘sumak kawsay’ ou o Yeknemilis que é o ‘bom-viver’ náhuatl”. E o mais importante, salientou, o “caminho prático”, que compreende “uma agenda própria baseada numa práxis onde ‘o outro’ e a realização da sua humanidade é a força centrífuga”.

Se todos nós pensarmos e agirmos desta forma, não tenho de me preocupar com o que me vai acontecer, porque os outros me têm no centro da sua agenda de realização humana como elemento central”. Daniel da Purificação partilhou, por outro lado, alguns pontos para o exercício do Ubuntu a partir do trabalho de Mark Mathabane (“Th e Lessons of Ubuntu”. Estados Unidos: Skyhorse, 2018), que após analisar as causas da desumanização e da perda de empatia, sugere atitudes como o compromisso, a aprendizagem, a não-violência, o perdão, a justiça restaurativa, o amor e a espiritualidade. Destacou ainda o trabalho de Mungi Ngomane (“Everyday Ubuntu”: Viver melhor todos juntos, à maneira africana”. Inglaterra: Transworld Digital, 2019): “recomenda ideias tais como ‘ver-se a si próprio nos outros’ ou ‘a força reside na unidade’, e propõe exercícios tais como uma perspectiva mais ampla, procurar novas formas de interligação, aceitar a nossa diversidade e aprender a ouvir”.