Os 99 anos do destacado filho de Angola

Os 99 anos do destacado filho de Angola

Ao fazer, hoje, 99 anos, caso estivesse em vida, Agostinho Neto, primeiro Presidente de Angola, continua a ser uma das figuras convergentes do nacionalismo angolano, quer na sua dimensão como homem, médico, político e poeta

Para os mais diversos segmentos da sociedade civil angolana, a dimensão de Agostinho Neto ultrapassa a compreensão partidária e a sua existência e a passagem pelo solo angolano deve representar um acto de regozijo e unidade nacional. Por este motivo, a recente criação, da parte do Presidente da República, João Lourenço, de uma Comissão Interministerial para a organização das acções comemorativas alusivas ao seu 100º aniversário, a ser assinalado a 17 de Setembro de 2022, justifica a grande figura que foi Agostinho Neto.

A referida Comissão é coordenada pelo ministro de Estado e chefe da Casa Civil do Presidente da República, Adão de Almeida, e integram ainda outros departamentos ministeriais que terão a missão de celebrar o centenário de Agostinho Neto dentro e fora do país.

O político e académico Mário Pinto de Andrade, em entrevista ao OPAIS, lembrou a figura do primeiro Presidente angolano, António Agostinho Neto, como um grande político angolano, africano e mundial e como o principal líder do Movimento de Libertação que conduziu a Independência Nacional.

Para Mário Pinto de Andrade, que enalteceu o gesto do Governo angolano em ter criado uma Comissão Interministerial para o homenagear e preparar o seu centenário, a figura de Agostinho Neto tem uma dimensão angolana, africana e mundial.

O político referiu que Neto, que nasceu no dia 17 de Setembro de 1922, em Kaxicane, região de Icolo e Bengo, tendo falecido a 10 de Setembro de 1979, em Moscovo, actuam Rússia, foi o fundador da nação angolana, o construtor do início da criação do Estado Democrático e Popular, na época, e foi ele quem deu uma dimensão africana e mundial à República de Angola, razão pela qual, alega que deve ser homenageado, no sentido de se poder honrar a sua memória.

Educação

Mário Pinto de Andrade apontou a educação como a melhor forma de transmitir o legado de António Agostinho Neto, tendo em conta a dedicação que ele tinha pelo ensino e pela cultura para a harmonia e desenvolvimento nacional. Para ele, Agostinho dedicou- se a criar a expansão do ensino que tinha sido negado aos angolanos no tempo colonial e foi o primeiro reitor da própria Universidade Agostinho Neto.

Sublinhou, por outra, que o Presidente Neto, enquanto político, era um homem de unidade nacional, relembrando a sua frase “Um só Povo, uma só Nação”, que no seu entender dava aos angolanos o significado e a importância de viverem sob um signo único pelo Estado e lutarem todos pela unidade nacional na diversidade.

“É preciso transmitirmos isso através dos seus discursos, através de bandas desenhadas nas escolas, irmos estudando um melhor aprofundamento do seu pensamento político, económico e social. Desde o ensino primário até ao universitário, é necessário que se estude o pensamento do Presidente Neto, quer como estadista, quer como escritor”, acrescentou.

Ressaltou que não se pode esquecer de Agostinho Neto como um dos grandes estrategas na libertação total do continente africano do apartheid e do colonialismo.

Mencionou que Agostinho Neto quando dizia que “Angola é e será por vontade própria a trincheira firme de revolução em África”, assumiu o risco de ajudar na libertação da Namíbia, do Zimbabwe, e da queda do apartheid na África do Sul.

Avançou que Neto alertou aos africanos de que, a África não poderia ser só um continente produtor de matérias-primas, mas teria que ter a capacidade de se transformar e produzir a sua matéria-prima a partir do solo e transformá-la.

“É isso que está hoje na visão da União Africana. O desenvolvimento do continente africano não é só exportar matérias-primas inacabadas. É o que acontece connosco na produção do petróleo. Somos um país produtor, mas não produzimos em quantidade suficiente para fazer o nosso comércio interno e nem produzimos em quantidade suficiente para podermos exportar”, disse.

Lembrou ainda que Agostinho Neto envolveu-se desde muito cedo em actividades políticas, sendo preso em 1951, quando reunia assinaturas para a Conferência Mundial da Paz em Estocolmo, Suécia. Após a sua libertação, retoma as actividades políticas e torna-se representante da juventude das colónias portuguesas junto do Movimento da Juventude Portuguesa, o MUD juvenil.

Maior divulgação da imagem às novas gerações

Mafuta Júnior, ex-estudante da Universidade Agostinho Neto, caracteriza Neto, enquanto político, como o maior expoente do nacionalismo angolano e figura na galeria de líderes como Kwame Kruman, Jomo Keniata, Julius Nierere, Leopold Sengor, Abdel Nasser, entre outros que libertaram o continente africano do jugo colonial.

No que respeita à transmissão do seu legado, Mafuta Júnior afirma que o legado de Neto não tem sido devidamente transmitido às novas gerações, alegando que pouco se fala dele no sistema de ensino do país.

“A maior parte da juventude sabe apenas que foi o primeiro Presidente da República, muitos desconhecem o lado cultural e poético de Agostinho Neto. O próprio Governo divulga pouco os feitos de Agostinho Neto. Repara que só se fala de Neto no mês que o país assinala o dia do herói nacional, depois disso esquece-se do Presidente Neto e voltam a falar dele somente no mês de Setembro do ano seguinte”, disse.

O jovem enaltece a medida da criação da Comissão Interministerial, e, entende que o Governo deve engajar todas as franjas da sociedade angolana nessas comemorações, uma vez que se trata do centenário do nascimento daquele que proclamou a independência do país.

Despartidarizar as celebrações

Para Lopes Baptista, também ex-estudante da Universidade Agostinho Neto, o trabalho deve ser feito para que as celebrações sejam de todos e não partidarizadas. O jovem angolano deixa um apelo para que se dê mais vida às instituições com o nome do fundador da Nação, e aos académicos mais estímulos para continuarem a estudar Agostinho Neto, quer na vertente política quer artística.

Defende que a essa altura, os departamentos de ensino e investigação das diferentes Universidades estariam a desenvolver concursos internos sobre Agostinho Neto, no âmbito das comemorações do seu centenário.

“Com as referências de Agostinho Neto é possível ter uma Angola diferente, mas isso requer muita competência, entrega e amor verdadeiro ao país”, apontou.

Lopes entende que a literatura tem o poder de instruir e produzir conhecimento, e cita que António Agostinho Neto, através da escrita, ajudou a situar os homens do seu tempo, e os jovens hoje podem recorrer à sua escrita para tornar a Angola diferente.

“Neto demonstrou estar preocupado com o seu próximo, quando em 1978 dizia ‘Desde a alfabetização até ao aperfeiçoamento com o estudo de matérias do ensino secundário ou do ensino superior até ao aumento da cultura geral, aprofundando o conhecimento do mundo’.

Tudo isso são elementos que valorizam o homem, que tornam o homem mais digno, mais capaz, mais consciente da sua existência no mundo”, sublinhou.