Localizada no bairro do Kimbele, município de Belas, com um investimento de mais USD 1 milhão, a fazenda Strick da Luz vai produzir 35 mil pintainhos por semana. A meta é atingir 100 mil pintainhos nos próximos meses
O processo de produção de pintainhos começa com a importação da matéria – prima, neste caso, os ovos a partir de países como o Brasil, a Holanda e a África do Sul. No país, os ovos são transportados em carrinhas frigoríficas, com a temperatura adequada para conservar o embrião e ter maior rendimento no momento da inclusão até à empresa. No local, os ovos são encaminhados para uma sala com uma temperatura de 18º C, onde permanecem durante três dias até serem incubados.
Após o tempo estipulado, os ovos são levados em carrinhos de roda inox com capacidade para 19 mil e 200 ovos com máximo cuidado para o incubatório e permanecem durante 18 dias. A seguir são transportados para outro equipamento denominado nascedora, no período de três dias. Cada carrinho alberga 32 bandejas. A sala conta com três incubadoras com uma capacidade instalada de 35 mil pintainhos por semana, com a dimensão de 3 metros/80 cada. Os incubatórios possuem um painel digital que são programados, desde a temperatura (37.2º C), humidade, dióxido de carbono e a luz. Caso haja alguma alteração na incubadora, a máquina dispara o alarme e logo a seguir o técnico vai averiguar o que se passa.
Na incubadora, os ovos não permanecem fixos. O instrumento mexe ligeiramente como se tivessem numa chocadeira para não coagular a gema. Logo após o ovo sair da incubadora é feita a ovoscopia, que serve para ver se o ovo tem o embrião, tal como acontece numa ecografia. Em média, os ovos pesam 0,35 gramas, alguns têm uma coloração branca e outros acastanhada. Depois dos pintainhos saírem da nascedora são vacinados no pescoço com Vaxxitek para a prevenção de algumas doenças, como Marek e Gumboro e colocados em caixas apropriadas para serem comercializados. A fazenda Strick da Luz é especializada na produção de galinha de corte. A empresa está dividida em diferentes áreas, nomeadamente sala de ovos, incubadora e a nascedora.
A responsável de Departamento de Operações da incubadora Strick da Luz, Carla Fernandes, acredita que a produção de 35 mil pintainhos é insuficiente para atender a procura dos avicultores e pessoas que pretendem entrar no segmento avícola. Segundo Carla Fernandes, o aumento da produção vai depender da procura, mas a meta é atingir 100 mil pintainhos por semana. “Angola só estará bem servido com a produção de 300 mil pintainhos/dia para minimizar o problema da fome, pobreza”, disse.
O empreendimento surgiu, segundo a responsável, após um estudo apurado, de modo a minimizar a carência do produto no mercado, ressaltando que o principal objectivo passa por reavivar a agricultura nacional e fazer com que os aviários que encerraram as portas voltem a ressurgir. “A incubadora Strick da Luz é a primeira de cariz industrial, com uma produção de 35 mil pintinhos por semana”, disse. No que diz respeito aos preços, Carla Fernandes disse que o valor depende da quantidade adquirida, e varia de 400 a 560 kzs.
Dificuldades
A principal dificuldade é convencer os empresários do sector avícola sobre a necessidade de se produzir a galinha de corte no país, para reduzir o consumo de galinhas congeladas, que normalmente são usadas para fazer churrasco, e apostar numa alimentação saudável. “Estamos a trabalhar no sentido de convencer os avicultores para apostarem na produção das galinhas poedeiras e galinhas de corte”, garantiu. A responsável explicou que a galinha de corte precisa de 45 dias para atingir a fase adulta, enquanto a poedeira precisa de 4 a 5 meses.
No seu entender, a importação da matéria-prima encare o produto, tendo ressaltado a necessidade de se investir em ovos férteis, antes do investimento em matadouros. “A necessidade é grande, no entanto, a procura ainda é reduzida porque grande parte dos aviários encontram-se fechados e os produtores vão precisar de financiamento para alavancar actividade avícola”, disse. Para Carla Fernandes, o aumento da produção vai depender da procura, mas a meta é atingir 100 mil pintainhos por semana. A empresa garante 45 postos de trabalho directos e conta com o serviço de entrega usando uma taxa adicional de kz 12 mil.
Novas incubadoras nas províncias
Por sua vez, o sócio da empresa Celso Silva salientou que o projecto foi desenhado há algum tempo. No âmbito do processo de expansão da fazenda Strick da Luz, surgiu a ideia de apostar em incubadoras. O responsável garante que projecto ainda não terminou e prevê aumentar a capacidade nos próximos meses. “Estamos prontos para servir e diversificar a economia do país”, disse. Segundo Celso Silva, depois da instalação das incubadoras em Luanda, serão implementadas outras em algumas províncias para facilitar os avicultores que querem apostar no negócio e reduzir o custo da transportação para as demais localidades. A sede da fazenda Strick da Luz está localizada na Quiminha, comuna de Catete, município de Icolo e Bengo, e surgiu com fundos familiares. Começou com outros segmentos como é caso da suini cultura, ciprinicultura e está no mercado há 15 anos. Este ano resolveu apostar na avicultura em grande escala. A administração municipal garante apoio às famílias que trabalham no sector avícola.
Administração municipal vai apoiar as cooperativas
Na inauguração do espaço, o administrador do Belas, Miguel Almeida, enalteceu o projecto, tendo ressaltando que o segmento da avicultura no país está direcionado para a produção de ovos, mas a fazenda Strick da Luz traz uma particularidade porque vai produzir a galinha de corte. “ Pretende-se criar uma cadeia de negócios que vai fortalecer as famílias que possuem experiência produtiva no sector avícola e a administração abraça este investimento, tanto que nos próximos dias serão identificadas famílias com aptidão da área da avicultura para apoiar”, explicou.
Na sua opinião, a produção de galinha de corte vai criar uma cadeia de vários intervenientes e promover o empreendedorismo de uma forma muito prática, pelo facto de a fazenda produzir os pintainhos. “A administração municipal vai apoiar as cooperativas com infraestruturas, kits de ração para os pintainhos nos primeiros 45 dias e posteriormente o negócio tornase autossustentável”, disse. Segundo o dirigente, com a comercialização dos primeiros pintainhos, o produtor estará em condições de efectuar novas aquisições. Por outro lado, o país vai diminuir as importações de galinhas de corte congelada. Com o surgimento do projecto as pessoas vão poder adquir galinha viva, com alguma qualidade para o consumo humano.
O responsável lembrou que existe um programa do Governo na componente do combate à fome e à pobreza. O referido projecto dá resposta de forma muito objectiva. Com alguma disciplina e acompanhamento, as cooperativas que estiverem envolvidas no projecto não têm como falhar, porque haverá mais oferta e com qualidade para se fazer refeições saudáveis, acrescentou. Questionado sobre a dificuldade na aquisição de ração, o responsável disse que actualmente o país conta com alguma importação, mas é possível ser produzida localmente. “Os problemas estão identificados e acaba por ser uma oportunidade de negócios e as soluções serão encontradas”, disse.
Estrear no segmento avícola
Por sua vez, o empresário João Sales, que decidiu investir no segmento avícola, acredita ser um negócio viável por se tratar da produção da galinha de corte. Para ele, o surgimento da incubadora Strick da Luz vai incentivar mais empresários a terem iniciativas, e é possível criar mais projectos Made in Angola. “A produção e criação de pintainhos vai despoletar automaticamente outros serviços, se tivermos empresários a produzir ração ficará mais acessível e pode ser adquirido a um custo reduzido”, explicou. Disse ainda que o projecto merece o apoio do Governo, de modo a incentivar os demais empresários a enveredarem no sector, lembrando que o surgimento das pequenas e médias empresas contribui para o crescimento da economia.
Importação de frango absorve mais de USD 145 milhões no país
A importação da carne de frango absorveu cerca de USD 145 milhões nos primeiros oito meses do ano de 2021 no país, segundo dados oficiais. Os altos valores em divisas que o país desperdiça na aquisição de frango no exterior deve servir de alerta, não só para o Executivo, como também para quem participa no processo de redução das importações. A Avicultura é um dos sectores definidos como prioritário no processo do aumento da produção nacional, numa fase em que o país já regista diversas estruturas produtivas que podem servir de modelo para os jovens, num contexto em que são chamados a abraçar o desafio, pois, o futuro do país depende da sua firmeza e entrega.