Norma-padrão europeia: Um vislumbre da não Democracia “linguística”

Norma-padrão europeia: Um vislumbre da não Democracia “linguística”

Alguém poderá pensar que falar de democracia linguística em Angola, o cerne da nossa abordagem seria falar das línguas locais, visto que paira na mente de muita gente que a língua portuguesa não é nossa, pelo facto da razão histórica (colonização), pelo que a sua presença em Angola fosse imposta, mas, a realidade linguística faz perceber-nos que língua é um património, não é exclusividade de ninguém, aliás, a língua portuguesa já está connosco há mais de 4 séculos, é a língua mais falada no nosso território, segundo a nossa carta magna, artigo 19, é a língua oficial de Angola, logo, a língua portuguesa é nossa, então, se do ponto de vista linguístico, a língua portuguesa é nossa, logo, devemos valorizar a nossa língua portuguesa, a língua portuguesa falada em Angola, e deixar de copiar a norma-padrão europeia, visto que falamos diferente.

Se não tivemos tempo de adoptar uma das línguas locais de Angola como língua oficial, que nos contentemos com a nossa língua portuguesa. Indo ao âmago da nossa abordagem, com a chegada dos portugueses a Angola, a democracia linguística começou a ser extinta por uma imposição dos portugueses, o fenómeno imperialismo linguístico – a permaneça de uma língua ou variante em detrimento da outra, neste caso, a proibição das línguas locais de Angola, para a utilização exclusiva da língua portuguesa. Depois da saída dos portugueses do nosso território, não nos bastou a língua portuguesa deixada, a gente ainda tem a sua norma-padrão como também a nossa norma-padrão, quer dizer, por incrível que pareça, ainda há imperialismo linguístico que nós, os angolanos, criamos entre nós, mesmo depois de tantos anos de independência! Isto é, somos independentes de tudo, menos da norma-padrão! Queremos sempre imitar? Como é da práxis, a democracia é uma forma de governação que dá o poder ao povo, o povo é que manda e determina.

Linguisticamente, poderíamos considerar que o povo angolano não é um povo democrático no que à norma-padrão da língua portuguesa diz respeito, tudo porque a gente não padroniza uma das nossas normas, mesmo depois de 45 anos de independência, somos obrigados a falar e a grafar à luz da norma-padrão europeia. O falar do povo angolano não é legislado, é legislado o falar do português. Questões como: “ir na escola, assistir filme, vamos se estigar, você és a linda flor do meu jardim”, todas frases tiradas em textos autênticos, já não seriam vistas como frases inadequadas. As pessoas teriam noção que é nosso, é o normal do falar de Angola. O imperceptível é o facto de a nossa realidade ser aquém da adopção da norma-padrão europeia como norma-padrão vigente em Angola. Qualquer norma a ser eleita como padrão existem bases, que são: históricas, geográficas, sociais e culturais.

Quando os portugueses adoptaram a norma padrão-europeia não olharam no nosso aspecto histórico, não foram fazer um estudo em Luanda, Benguela, Huambo, Cabinda ou Malanje, por exemplo; não valorizaram a presença das línguas locais de Angola no português como línguas de contacto, nem deixaram léxicos originais das línguas locais de Angola no português. Embora seja a norma-padrão vista e tida como uma norma preconceituosa, visto que é a espelho de todas as variantes linguísticas, mas ela tem de ter sempre marcas da nação (das restantes normas). Logo, a norma-padrão a ser eleita deve vislumbrar aspectos culturais do povo que tem esta variante como padrão. A língua é factor de identidade cultural, logo, em todas as normas de uma língua, inclusive a norma padrão, deve identificar uma cultura.

Agora, a pergunta que não se quer calar é: a norma-padrão europeia identifica a cultura angolana? Atrevo-me a responder: Não! Nós não sabemos os motivos dos portugueses terem a norma-padrão que têm. Já é tempo de a gente adoptar a nossa norma-padrão angolana, a gente precisa legislar, ter uma norma cujas bases históricas sejam demarcadas pela nossa angolanidade, que seja uma norma que represente a realidade linguística de muitas províncias do nosso país, com bastante presença das línguas bantu faladas em Angola, com uma grafia segundo o alfabeto das línguas bantu para os léxicos oriundos dessas línguas. A língua sendo uma identidade cultural, a nossa norma-padrão deve espelhar muito da nossa cultura. A língua é do povo, por conseguinte, quem governa devia ser o povo.

POR: Adilson Fernando João