Estilista defende maior troca de experiências entre a nova e velha geração de criadores angolanos

Estilista defende maior troca de experiências entre a nova e velha geração de criadores angolanos

Soraya da Piedade em entrevista exclusiva admitiu, ontem, ao Jornal OPAÍS que os criadores do país possuem potenciais natos, todavia, por falta de materiais de trabalho, formação e partilha de ideias com os conceituados, o número de criadores a nível dos grandes eventos da moda internacional não chega a uma dezena

Com grande experiência de participações em certames internacionais, a estilista Soraya Piedade revelou que, não obstante ao facto de nascer-se com habilidades para a arte de desenhar, cortar e/ou costurar, é preciso abonar a carreira com outros quesitos, entre os quais a formação. A interlocutora deste jornal exortou para a importância de se acompanharem as tendências evolutivas e actualizações dos padrões universais, para que Angola não fique à margem de realidades mais desenvolvidas neste sector, de modo a colocar a moda angolana ao nível dos grandes expoentes internacionais.

“Graças a Deus, não nos falta criatividade, penso que o angolano já nasce com o dom de criar. Mas, como o nosso mercado ainda é muito pequeno, temos que investir mais. Por isso, os bons estilistas aqui contam-se aos dedos. Falta mais eficácia na execução, e isso só será possível se pesquisarmos mais, se as novas e antigas gerações partilharem mais experiências”, destacou a criadora. Soraya da Piedade reforçou que, por estar-se fora do padrão exigido internacionalmente, é muito reduzido o número de profissionais que conseguem viver desta arte e, diante das dificuldades, torna-se difícil os fashionistas nacionais contribuírem para a economia do país.

“Por exemplo, se for para apontar, numa escala de 1 a 100 dos estilistas daqui que se encontram no nível dos grandes criadores internacionais, podíamos ter, se calhar, uns 6 ou 8, porque ainda há muito para se fazer cá, se quisermos contribuir para economia do país através da moda, como acontece em França, Espanha, até mesmo aqui no África do Sul”, ressaltou. A estilista apontou erros que, actualmente são inadmissíveis nesta área, cometidos ainda por diversos profissionais, como o ajuste do corte, a tipologia do fecho apropriado, linhas visíveis dentro das roupas, isto é: “as roupas devem ser bonitas por dentro e por fora”, realçou.

Falta de materiais

Soraya Piedade avançou, por outro lado, que um dos impasses para a morosidade do desenvolvimento do sector da moda em Angola, é o facto de não haver fábricas ou afluência de materiais de trabalho para os criadores. A fonte disse que instrumentos minúsculos e que facilmente podiam ser produzidos no país, ainda tem de se esperar que venham do estrangeiro, o que precipita a raridade, os preços altos e a grande procura, para que aqueles, tal como ela, que precisam criar roupas ao gosto de cada um.

“Hoje mesmo, se decidir fazer uma nova colecção e precisar 100 botões de um único modelo, te posso garantir que não vamos encontrar. Nem agulha, tecidos ou outras coisas pequenas é preciso buscar fora. Isso faz com que o material de trabalho aqui fique muito caro e contribui negativamente para o não desenvolvimento deste sector em Angola”, reclamou a estilista. A estilista Soraya da Piedade afirmou que, se se olhar com atenção para a necessidade de indústrias têxteis, se viria o bom contributo da moda para a economia, pois mais profissionais apareceriam e o mercado cresceria bastante.

Entre 12 criadores da marca africana

Depois de ter participado, recentemente, no Africa Fashion UP, na África do Sul, em que também participou a conhecida marca Balenciaga com mais 12 criadores da Nigéria, Ruanda, Congo, Senegal e outros, foi escolhida para ser uma das criadoras para a nova marca africana, sendo ela a única de expressão portuguesa. “Estou a fazer parte da criação da primeira marca de roupa africana, Santi, que terá o lançamento oficial ainda esse ano, na África do Sul, com pontos de venda em várias partes do mundo. A sede será na África do Sul e em Londres”, disse. De salientar que Soraya da Piedade e todos os 12 criadores convocados são pagos pela organização e todas as semanas têm de mandar as suas novas propostas de modelo de roupas.