Quadros seniores do Ministério do Turismo contra transformação dos hotéis AAA em escritórios

Quadros seniores do Ministério do Turismo contra transformação dos hotéis AAA em escritórios

Das 51 unidades dessa cadeia hoteleira espalhada pelo país, 19 foram entregues a outras instituições públicas e, deste número, sete foram transformados em escritórios e os 12 restantes continuam a funcionar como hotéis, entretanto, sob gestação dos beneficiários

Segundo a directora Nacional de Qualificação de Infraestruturas e Produtos Turísticos do Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente (MCTA), Zahira de Assunção, esta situação tem causado constrangimento na actuação do sector pelo facto de a diminuição de hotéis ser um entrave para o desenvolvimento do sector do turismo com reflexos para a economia do país. Em entrevista ao Jornal OPAÍS, Zahira de Assunção disse que a transformação da rede hoteleira das AAA em escritórios, em nada beneficia as estratégias que visam transformar o sector turístico num ponto de atracção de investimento.

Quem alinha no mesmo pensamento é o director-geral do Instituto de Fomento Turístico (INFOTUR), Afonso Vita, acrescentando que a decisão de se transformar os hotéis em escritórios e passar outros para gestão de outras entidades configura-se numa fatalidade para o sector. “Esta decisão é contraproducente e um golpe fatal para o desenvolvimento do turismo em Angola”, considera Afonso Vita. Entre as instituições que agora participam na gestão dos hoteis AAA, segundo as fontes, estão o Ministério da Justiça, a Procuradoria-Geral da República (PGR) e o Ministério do Interior através dos Serviços Prisionais. Zahira de Assunção disse que, inicialmente, estava a se trabalhar para a criação de uma comissão de gestão para que os hotéis continuassem a funcionar dentro do projecto para o qual foram concebidos, o da hotelaria, mas de repente viram parte das infraestruturas entregues a outros entes.

Segundo revelações desta responsável, os funcionários do seu gabinete não foram chamados a participar na comissão que decidiu a entregue dos 19 hotéis a outros departamentos do Estado, adiantando que ainda assim não vão cruzar os braços, pois o objectivo é o de fazer com que o número de hotéis no país não baixe. Zahira de Assunção disse ser necessário ter-se mais atenção e olhar-se para as incogruências, pois o ramo hoteleiro é específico e a presença de vários serviços num único espaço condiciona o seu funcionamento e afugenta o turista.

“Um turista ou hóspede não se sente confortável quando no mesmo edifício ou no outro ao lado haja serviço muito diferente, como é o caso das AAA de Cacuaco que, no edifício ao lado agora funciona os Serviços Prisionais”, referiu. Outro edifício AAA retirado da tutela da Direcção Nacional de Qualificação de Infraestruturas e Produtos Turísticos é o que está localizado na Marginal de Luanda, que segundo os funcionários do MCTA é uma estrutura concebida, inicialmente, para um hotel de cinco estrelas, à semelhança da cadeia Intercontinental.

Províncias sem hotéis condignos

Projectada para 365 quartos, a unidade, acredita Zahira de Assunção, serviria para dar outra visibilidade ao país no que a oferta hoteleira e do turismo dizem respeito, o que atrairia mais turistas ao país. No projecto AAA foi feito um investimento que possibilitou o crescimento do parque hoteleiro nacional, ainda assim caracterizada pela responsável como sendo insuficiente para a satisfação das necessidades reais, pois, revela, há localidades no país que não disponhem de nenhum espaço com alojamento condigno. Como exemplo, cita a cidade de M’Banza Congo que, apesar de ser considerada Património da Humanidade, precisa melhorar o seu turismo e fazer uma aposta mais séria em unidades hoteleiras para que mais turistas vão ao local.

“Como sector, achamos que não podemos deixar uma cidade como M’Banza Congo, não ter um hotel em condições e de referência para o acolhimento dos turistas. O Estado deve salvaguardar o investimento que fez nestes hoteis”, disse. Por esta razão, estes funcionários do MCTA solicitam a revisão do processo dos hotéis AAA, realçando que a melhoria do sector tem merecido uma avaliação constante da Organização Mundial do Turismo (OMT), cujo representante manteve um encontro recente, na sua sede, em Espanha, com o Presidente da República, João Lourenço. Aliás, revelaram que há cerca de 15 dias estiveram em Luanda três consultores da OMT para trabalhar no plano turístico nacional.