Padre Pio clama por medidas primárias para aliviar a dor dos habitantes dos Gambo

Padre Pio clama por medidas primárias para aliviar a dor dos habitantes dos Gambo

O prelado considera que muitos projectos de solução podem pecar por defeito e efeito por não obedecerem à constatação das pessoas que enfrentam os mesmos. Daí que recomenda o diálogo constante com os circunstantes

Pio Wakussanga, o sacerdote que defende a causa da povoação da região de Gambos, em Chiange, província da Huíla, disse que, para se reverter o quadro da seca e da pobreza extrema que assola os habitantes dessa área, as autoridades devem adoptar medidas primárias adequadas à realidade local.

“O Governo angolano tinha de investir no sector primário, nomeadamente na agricultura familiar, que proporciona sustento nas comunidades”, declarou o missionário da Igreja Católica.

Para sustentar o que estava a defender, recorreu à Declaração de Malabo, sob a qual acusou o comprometimento do governo angolano em atribuir cinco por cento para a agricultura, em orçamentos gerais do Estado.

O prelado realçou que o não cumprimento desse compromisso retarda o combate à fome e à pobreza e prolonga o problema da seca, que, de contrário, veria solução nos programas exequíveis do cultivo dos campos.

“Porque se formos ao Orçamento Geral do Estado em vigor, podemos notar com facilidade como o investimento para fomento à agricultura familiar está estipulado nas cifras abaixo de um. Pode ser qualquer coisa como 0, 5 ou mais alguns centésimos perto do número inteiro um.

Pio Wakussanga advertiu aos decisores do país, sentenciando que a aposta na segurança humana, por via de todos os mecanismos que contribui para o bem-estar das populações é o melhor caminho para a resolução dos problemas imediatos.

O prelado admira a postura de um Executivo que não consegue dar água a um povo que clama, há muito tempo, ao ponto de questionar-se o que mais se podia esperar.

“Faço questão de salientar com boa nota que a povoação de Gambos dificilmente cobra outra coisa senão água”, ressaltou, tendo acrescentado que, quando isso sucede, o povo quer adquirir sustento a partir de esforços próprios.

No entender do entrevistado, se se investe na agricultura, no turismo e na pecuária, rapidamente, se estará a criar capacidade de sustentabilidade e, consequentemente, existência de alimentos.

“Primeiro, porque o sector primário é o que mais emprega, emprega, soube O PAÍS do seu interlocutor, que coloca em segundo lugar o sector secundário, nomeadamente o da indústria de transformação de alimentos.

E acrescentou, “só depois disso é que se deve investir em sectores de alta tecnologia, para o caso de zonas rurais e sub-urbanas”.

O eclesiástico considera estas como evoluções de topo que não se pode sobrepor às de base.

Quanto aos problemas de saúde, o padre aponta o surgimento de casos de sarna, uma pandemia que ele cogita ser resultante da falta de água ou da utilização de um líquido do género de má qualidade.

“Há também problemas frequentes de paludismo e de algumas complicações do fórum respiratório que afecta quase todas as idades”, disse o padre Pio Wakussanga, tendo lembrado que a sarna atinge maioritariamente as crianças.

“Autarquias seriam um passo grande”

Para o padre Pio Wakussanga custa entender as respostas que tem vindo a receber de administradores e outros dirigentes do município de Gambos, sobretudo as que lhe dão indicativos de que, para se resolver um problema teoricamente de pequena magnitude, tem de se accionar o Governo Central.

Agastado, o missionário da Igreja Católica recordou que, no tempo colonial, apesar de ter tido uma liderança ditadora, os concelhos funcionavam como órgãos resolutores de problemas locais.

“As autarquias seria um grande passo para se acabar com essa dependência quase que total”, sublinhou o sacerdote, tendo referido que as primeiras autarquias do Lubango data de 2013.

Por causa disso, o Padre Pio não entende o receio em avançar-se com a efectivação desse poder. Aliás classifica como um retrocesso para o desenvolvimento das comunidades mais recônditas dos municípios a não realização das eleições autárquicas.