A “liberdade” na óptica da consciência

A “liberdade” na óptica da consciência

Nos cânones dos mais avançados preceitos da civi l i zação humana moderna, a Liberdade é descrita como um dos mais elementares direitos.

Pela Liberdade, lutamos contra o absolutismo, a escravidão, o preconceito, a ignorância, a ortodoxia, o machismo e todas as formas que mitigassem a real dimensão humana. Pela Liberdade, instituímos a Democracia, como modelo de representação social.

 Implantamos o mercado, como premissa para a expressão da livre iniciativa econômica, e, no processo civilizacional, é dito que, no topo da pirâmide, estes pressupostos dariam lugar à igualdade e à justiça, ao bem estar e ao desenvolvimento.

 Qual o limite para a Liberdade? Existe uma Liberdade positiva e outra negativa? Onde começa e termina a minha Liberdade? Será que falar aquilo que os outros não querem ouvir é liberdade?

A questão se ramifica em incontáveis nuances, porém, todas elas levam-nos a expressar a pergunta do milhão. Serei eu uma pessoa livre? Se a resposta for “SIM, eu pergunto. Livre do que? E se disser “NÃO”, o que me aprisiona? O facto é que, a medida que crescemos em consciência, começa a se definir, diante dos nossos olhos, a premissa segundo a qual a verdadeira batalha pela Liberdade, aquela que nos livraria das amarras do existencialismo humano, esta seria travada dentro de cada um de nós.

“Sim, no interior dos templos e nas sombras da cidade; Vi os mais livres entre vós usarem a vossa própria Liberdade como corrente e um par de algemas”.

O poema pertence à Khalil Gibran e nele há um subtil apelo à consciência humana, pois, na visão do poeta, no sagrado e no profano, nas modernas e tradicionais instituições sociais, ao longo da história, aqueles dotados de poder, regra geral, usaram a pretexto da Liberdade para escravizar.

À propósito, as antigas culturas do planeta referem-se à condição humana como coexistindo entre duas grandes possibilidades. Com base nesta visão, a natureza humana e animal, em nós, deveriam ser atendidas e conciliadas de forma harmoniosa. (…) De tal modo que se estivermos conscientes, obedecemos à elas as e as equilibramos, fazendo sempre com que a dimensão humana se sobreponha à nossa condição animal.

Porém, se estamos inconsciente, existi ria apena s u ma possibilidade: a obediência à nossa natureza animal e material, que nos escravizaria, sem margens para fuga. Neste plano, o ser humano seria, então, regido pelos três atributos do universo material: criação, manutenção e destruição.

Se não temos consciência da nossa dimensão humana, somos escravizados por estes três passos e, neste plano vibracional, as nossas escolhas são profundamente influenciadas pelo animal racional, dentro de nós, a tal ponto que “criação” se torna apenas sexo; “manutenção”, assumese como posse e “destruição” se traduziria em apenas violência, destruindo muitas vezes os nossos próprios valores, em favor da libertinagem.

A filósofa Lúcia Galvão, da Nova Acrópoles, sustenta que a Liberdade por si só, não deveria ser a primeira finalidade humana. “Ela deveria ser encarada como um subproduto dos valores e dos deveres; das virtudes humanas.

 Ela seria uma consequência e não uma finalidade em si”, sustenta a filósofa. O homem se liberta de que? Da sua cólera. Dos seus instintos. Da sua irresponsabilidade. O homem se liberta quando se compromete com o seu Eu humano. A vida ê uma viagem e nela há apenas duas possibilidades de realizarmos esta jornada.

Ou assumimos nós o leme do barco das nossas vidas e nos direcionamos, no sentido das nossas metas e propósitos, ou então, alguém fará isso por nós. De olhos vendados e sendo conduzidos pela vontade alheia, iremos à todos os lugares, com excepção daquele, onde realmente gostaríamos de estar. O fluxo da vida move-se incessantemente e nada se detém ou se escapa do Todo.

Se não estivermos comprometidos com nada, alguém usará o vazio gerado pela nossa inação e criará um compromisso em nosso nome, sem que disso tenhamos consciência. Solto ninguém fica!

E isso acaba gerando uma tirania, uma escravidão inconsciente; a pior que existe. Afinal, se eu sou um escravo consciente, na primeira oportunidade, eu fujo e me liberto. No entanto, se sou escravo e me considero livre, eu acaricio as correntes que me prendem e se alguém tentar me libertar, eu o terei como inimigo.

E quando seremos livres? Quando, independentemente das circunstâncias de dor ou das amarras da vida, formos sempre capazes de responder de cima, como seres humanos e nunca sob as amarras da nossa animalidade.

E, então, teremos necessidades de “criação”, como qualquer ser na Natureza, mas não criaremos somente corpos. Criaremos esperanças, possibilidades para as pessoas a nossa volta. Termos necessidade de “manutenção”; de posses, como todos os seres humanos, mas, iremos querer possuir também a nós mesmos, possuir virtudes e valores.

Teremos necessidade de “destruição”, que é próprio da vida(…) sim! E então iremos destruir as nossas debilidades, a cólera em nós(…) De tal maneira que, quando alguém olhar para a nossa trilha; para as nossas peugadas, dirá: “aqui passou um ser humano”.

Isso chama-se legado, de quem teve a Liberdade de escolher deixar o mundo melhor do que o encontrou. (…) Pois a verdadeira liberdade, se expressa na viagem consciente que cada um de nós realiza ao encontro da divindade dentro de si. É disso que se trata a evolução humana.

 

Alexandres Lucas Tchilumbu