Carlos Burity “empresta” parte da sua obra às vozes de Patrícia Faria e Gersy Pegado

Carlos Burity “empresta” parte da sua obra às vozes de Patrícia Faria e Gersy Pegado

Um dos projectos mais bem-sucedidos na cena musical recente, o Duetos N’Avenida, despede-se temporariamente do seu público no próximo dia 14 de Dezembro, fazendo um intervalo de dois meses entre o fim da terceira temporada, ainda em curso, e o início da quarta, planeada para arrancar em Fevereiro de 2020. O concerto de encerramento da actual fase será comandado pela dupla formada por Patrícia Faria e Gersy Pegado que, ao lado de Carlos Burity, vão recriar a obra deste “mestre” da música angolana.

Espectáculos realizados Ao fim do próximo espectáculo, a Zona Jovem Produções, realizadora da empreitada, terá realizado 19 concertos e reunido 14 duplas, portanto 28 intérpretes, numa contagem acrescida da presença de Carlos Burity, totalizando assim 29 artistas a protagonizar os espectáculos sempre a registar casa cheia. Neste próximo show, o artista que emprestará a sua obra ao Duetos não vai, por estar presente, desfazer o conceito de duo, sendo ele uma “entidade viva”, presente e também a cantar, mas principalmente um músico a ser exaltado e homenageado, num esforço de releitura das suas canções mais marcantes.

O carácter cultural do Duetos convenceu o mestre a juntar-se à ideia dos realizadores e participar no encerramento da terceira temporada: “Gosto de participar nas iniciativas que engrandecem a cultura angolana, e esse é o caso do Duetos N’Avenida. Isso me impulsionou a aceitar este convite da Zona Jovem. Aceitei e sintome muito honrado em dar vida a essa ideia”, realça Burity em tom de alegria. Outra alegria revelada por Carlos Burity tem que ver com as duas vozes femininas escolhidas:

“Patrícia Faria e Gersy Pegado são duas excelentes cantoras a quem vou emprestar boa parte da minha obra. Tenho a certeza que será um grande concerto e um grande encontro”, manifestou-se mais uma vez com bastante satisfação.

Três vozes, uma só obra Gersy Pegado tem a sua imagem muito popularizada por ter integrado o grupo “Gingas do Maculusso” e também ressalta a importância do Duetos, com o qual já desenvolveu uma certa “intimidade”: “Gosto demais desse projecto e do seu conceito. Eu assisti a muitos concertos de todas as temporadas. Sou bem assídua! E considero uma ideia genial poder explorar, nesse próximo Dueto, uma só obra, na voz de três intérpretes”. Sobre cantar com Carlos Burity, a cantora resume o entusiasmo de estar na Casa 70 no próximo dia 14 da seguinte forma: “É monumental a obra de Carlos Burity e terei grande prazer em compor esse Dueto”.

Quanto a voltar a cantar na Casa 70, Gersy Pegado diz ser um “local de grande prestígio”. E completa com o seguinte relato: “Grandes nomes da música angolana e também alguns vindos de outros países se apresentaram ali. O local representa muito para mim também, porque, no lançamento do quarto álbum das Gingas, o Presidente da República na altura assistiu ao show realizado na Casa 70. Foi inédito e honrou-nos muito pelo tempo de estrada que já tínhamos”, contou.

Retorno de Patrícia Faria

Patrícia Faria também conversou com O PAÍS sobre o seu segundo Duetos N’Avenida. Destaque do concerto de estreia da primeira temporada do projecto, em Agosto de 2018, ela dividiu o palco com Puto Português, fazendo na Casa 70 um espectáculo aplaudido pelo público e elogiado pela crítica. “À época, a convicção da Zona Jovem já demonstrava que se tratava de um projecto que vinha para ficar”, relembrou. Animada em poder cantar  “Carlos Burity”, Patrícia Faria chama o cantor e compositor de “‘Senhor do Semba’, aquele que traz um novo paradigma à forma como o género musical é produzido e até interpretado, sem perder a sua essência e actualidade”, disse.

Ainda em processo de selecção do reportório do show do próximo dia 14, Patrícia já avisa que quer cantar, dentre outras canções de Burity, “Manazinha” e “Zumbi Dya Papá”. “Mas eu arriscaria uma lista interminável, impossível de enumerar”, declara. Recentemente, Patrícia Faria lançou o álbum “De Caxexe”, quase totalmente produzido no país, sob a égide da Chicote Produções. “Todos os intervenientes deste CD foram peças-chave para que o produto final fosse o que apresentamos ao grande público, e a novidade foi ter trabalhado com o DJ Mania, o que nunca antes havia acontecido; e foi possível demonstrar que uma produção de Semba pode ser feita quase a 100% em Angola”, exteriorizou.

Hip-Hop e Gospel

A comemorar a realização de três temporadas, com os cartazes completos anunciados nos respectivos arranques, o director executivo da Zona Jovem carrega o sentimento de “missão cumprida”. “Penso que conseguimos elevar a Cultura angolana e dar o nosso humilde contributo para a valorização dos músicos locais, principalmente os instrumentistas, tão importantes na estrutura dos espectáculos”, considera Figueira Ginga.

A boa notícia para os fãs do Duetos é que, garante Figueira, a quarta temporada terá início já em Fevereiro de 2020 e a marca de ousadia, sempre presente em todas as temporadas, dessa vez ficará por conta da introdução no cartaz de um show de Hip-Hop. E não só: para quem gosta de música Gospel, vai voltar a ter Bambila e Miguel Buíla na quatra temporada do Duetos N’Avenida.

Já podemos falar em quinta temporada?

Mais uma vez a palavra fica com o executivo Figueira Ginga: “Prefiro não falar ainda, mas posso adiantar que o próximo ano reserva grandes surpresas para o Duetos. E o projecto Serenatas à Kianda, que trouxe os brasileiros Jorge Vercillo e Maria Gadu para apresentações, respectivamente, com Filipe Mukenga e Gabriel Tchiema – poderá ter o seu retorno. Aguardem, pois até Fevereiro, com certeza, teremos novidades”, conclui o empresário cultural.

*com Marlene Lopes