“É possível ser escritor sem patrocínio”, demonstra jovem com novela “Checkin para Genebra”

“É possível ser escritor sem patrocínio”, demonstra jovem com novela “Checkin para Genebra”

Elias Joaquim, mais conhecido por “Diego”, é um jovem de 21 anos, que sempre sonhou em ser escritor. Na falta de patrocínio, o jovem não cruzou os braços e, por se estar na era da modernidade, achou conveniente lançar a sua primeira obra numa versão digital, o que lhe fica menos dispendioso e, também, permite-lhe mostrar o seu trabalho ao mundo.

“Checkin Para Genebra” é o nome da sua obra – inspirada no romance do Tolstoi “A Morte de Ivan Ilitch” – distribuída em três capítulos e que comporta 50 páginas.

Lançada neste Sábado (6), num blog que recém-criou denominado “Dna In Papel”, a obra procura contar de maneira breve, mas muito densa, a história de um simples segurança, que depois decide camuflar-se em uma personalidade alheia e assalta o banco onde trabalha.

“Escolhi Check-in Para Genebra como título da obra, pelo facto de no começo da história, Genebra, por ter a fama de maior paraíso fiscal da história, é o destino escolhido pelos assaltantes para congelarem o dinheiro que, eventualmente, fossem roubar, mas depois, passa a ser mais do que isto, passa a ser mais do que uma cidade suíça, passa, na verdade, a ser um destino para quem quisesse se desfazer das suas culpas”, descreve.

A dada altura da história, conta o jovem aspirante a escritor, todas as personagens encontram-se em uma situação embaraçosa e, no momento da aflição, pensam logo em um outro destino “que não fosse este onde estamos e é a este outro destino que chamei Genebra.”

A obra, além de falar, de maneira óbvia, segundo Diego, sobre uma história de família, a que se podia chamar comum, procura fazer, embora não tanto, uma comparação curta e irônica ao longo das páginas, da governação actual com a passada.
“Não quero chamar-lhe romance político, mas há política nele, pois, além da história que é contada, há, de maneira muito intrusa, a visão de mundo do autor no meio”, acrescenta.
“Existe uma carga metafórica escondida na narrativa, que traz a reflexão, para quem a encontrar, claro, de que, não somos sempre o que juramos ser, não há sempre ética, não há sempre moral nem há sempre o carácter e a personalidade forte como fazemos supor, o que há, na verdade, penso eu, é uma sucessão de circunstâncias, que ora nos favorecem, ora nos desfavorecem e estamos continuamente sujeitos a ver o bem e o mal como duas caras da mesma moeda, e não como atitudes isoladas, em que uma é simplesmente a ausência da outra”, esclarecia sobre a reflexão que a sua obra traz.

Motivação
O que lhe motivou a escrever esta obra, conforme partilha com OPAÍS, como todos os outros textos que já tenha escrito, tal como crónicas e contos de pouquíssimas linhas, foi a vontade que tem de traduzir as emoções, pensamentos, devaneios ou outras formas de ideias “que, muitas vezes, encontram-se congeladas na minha cabeça, em uma linguagem que fosse acessível, com signos e símbolos linguísticos”, adita.
“Ou seja, o que me motivou foi, nada a mais nem a menos, do que a vontade de ser lido e compreendido. Tal como diz a epígrafe do livro, inspirada na frase de um escritor português que tenho como uma referência, António Lobo Antunes: que as páginas sejam como um espelho”, fez saber.

Por que um lançamento on-line?

Elias Joaquim conta que o lançamento on-line não foi por vontade própria. O jovem revela que bateu algumas portas e foi mal sucedido.

“Os custos para lançamentos de livros no nosso país são um absurdo, penso que já é tempo de se rever isto. Acho que as universidades já deviam contribuir neste sentido, devíamos olhar para a literatura com maior sensibilidade, com maior atenção, como uma forma de cultura também, não apenas a música e a dança como se tem feito”, revoltou-se.

Apesar disso, acredita que cada coisa tenha o seu tempo determinado e o que tiver de acontecer, acontecerá, ressaltando que “é possível ser escritor sem patrocínio“.

Um outro aspecto que motivou Diego a apresentar a novela on-line foi o facto de que um lançamento nestes moldes vai ao encontro do leitor de maneira mais fácil, sem custos e pensa ser, também, uma forma de incentivo a própria leitura.

Jovem procura crítica profissional

Questionado sobre se já alguém avaliou a sua obra, Diego respondeu que sim, porém, acrescentou que não foi por disse que por nenhum crítico. “O lançamento oficial da obra foi no passado dia sete, e já houve algum feedback, embora pouco, por parte de alguns leitores. Na maior parte são só elogios, eu gostaria de uma crítica profissional. Acho que se aprende muito mais com elas do que com as ‘almofadas’ que criam os elogios“, rematou.

Perfil

Elias Joaquim, mais conhecido por “Diego”, é um jovem de 21 anos autóctone de Luanda que aspira ser escritor renomado a nível nacional e além-fronteiras.

Estudante de Economia e apaixonado por música, escreve há cerca de um ano e é influenciado sobretudo pela solitude.

As suas inspirações residem, sobretudo, na escrita portuguesa. Desde Fernando Pessoa, José Saramago, António Lobo Antunes, Ricardo Araújo Pereira e muitos outros.