Filmes angolanos em cena na 36ª edição do “Festival do Filme de Fribourg” na Suíça

São no total 14 filmes angolanos, entre ficção, documentários e curtas-metragens, de vários produtores que serão exibidos na 36ª edição do “Festival do Filme de Fribourg”, que acontece na Suíça, de 18 a 27 do corrente mês

As obras, que serão apresentadas através da secção “Novos Territórios” do festival, faz uma retrospectiva dos 20 anos do cinema angolano, com a curadoria do produtor da “Geração 80”, Jorge Cohen, convidado pela organização para o feito.

De acordo com o produtor, são trabalhos feitos desde as duas últimas décadas, grandes produções, como aquelas mais antigas e também as mais recentes, como “Rainha Ginga”, de Sérgio Graciano e escrito por Joana Jorge, “O grande kilapi”, de Zézé Gamboa, “Na cidade vazia”, de Maria João Ganga, “A independência”, produzido por Paulo Lara & Jorge Cohen “Mwana N’keto, realização de José Ambriz “Satanha Cinéfilo” e produção executiva de Sílvio Nascimento.

Jorge Cohen disse ainda constarem outros formatos, como documentários dos mais variados géneros, desde o “Into the Okavango”, a primeira expedição científica ao longo da bacia hidrográfica do Okavango, feito por uma equipa de cientistas liderados por Adjany Costa, directora do projecto da National Geographic, e “I love kuduro”, do realizador português Mário Patrocínio, fala sobre este género musical e dançante.

“Na verdade, diz-se muito e não concordo, que pouco se faz no cinema em Angola, mas acho que não, porque foi muito difícil escolher estes 14 trabalhos. Há mais filmes agora a serem lançados. Aqui, penso que há uma parte que não foi bem representada, aqueles que começamos a fazer em 2005, mas a ideia era de dar um panorama geral”, aclarou.

Explicou que o festival, nas suas várias edições, tem tido em foco países com pouca representação ao nível do cinema. Na edição passada destacou-se os trabalhos produzidos no Rwanda e este ano será Angola. “Uma das coisas que queriam perceber é sobre a diversidade dos conteúdos produzidos, o tipo de produções que são desenvolvidas no nosso país”, apontou.

Sobre o convite para fazer curadoria das obras que serão apresentadas no festival, defende que se deveu ao facto de ao longos dos últimos anos, através da produtora Geração 80, produzirem mais de 10 filmes, entre estes, desde 2015, a estreia do documentário “A independência”, “Para lá dos meus passos”, o filme “Ar condicionado” e recentemente terem lançado a obra “À nossa senhora do lajo dos chineses”.

Referiu que grande parte destes trabalhos foram premiados, alguns passados em Angola e outros internacionalmente. “Penso que essa escolha vem um pouco através desta visibilidade, desta continuidade de trabalho que acabaram por chegar até nós. Agora, é uma grande honra, pelo facto de não estarmos a ir sozinhos, porque estamos a fazê-lo em conjunto através destes trabalhos”, disse.

“Há um grande alerta, ainda bem que aqui já se começa a falar mais de cinema, mas não precisamos esperar que a Suíça faça isso. Nós, enquanto produtores, pode mos fazer localmente. Também, acho que a imprensa joga aqui um papel importante, na divulgação de trabalhos que está a ser feito no sector do cinema”, arrebatou.

Avaliação de produções internacionais

Jorge Cohen também faz parte do corpo de júri do festival para a categoria internacional de Longa-Metragem, onde concorrem 12 filmes de África, Ásia, América Latina e Europa. Quanto à sua participação, para avaliar trabalhos feitos por produtores de vários países, disse ser gratificante, já que se trata de um festival dirigido artisticamente por Thierry Jobin, que, além de destacar as obras angolanas no festival, almejava ter ainda a presença de um angolano nesta área.

“É uma responsabilidade muito grande, é muito importante vermos filmes de outros lugares e podermos dar o nosso parecer. O cinema não é só de um país. Ele, às vezes, é feito com a co-produção internacional, uma maneira de nos conhecermos um pouco mais. Então, é sempre uma grande honra, uma responsabilidade também, poder trazer para casa o que está a ser feito no mundo.

Nós não podemos estar tão fechados ao que acontece no mundo”, considerou. Para maior aprendizado, apontou ainda a necessidade de se fazer o intercâmbio, uma vez que muitos dos filmes angolanos têm sido exibidos em vários festivais de carácter internacional.

“Precisamos de mais investimentos na área de cinema, que se tem desenvolvido bastante nos últimos tempos, de uma forma orgânica, e penso que merece mais atenção ao nível nacional. Continuamos a precisar de um fundo do cinema, para o desenvolvimento e produzir filmes ao nível do mundo”, apelou.