Gong Tao: ‘Angola é um país que sempre honra as suas palavras’

Gong Tao: ‘Angola é um país que sempre honra as suas palavras’

Sempre afável e bem-disposto, o embaixador da República Popular da China no país, Gong Tao, recebeu a equipa deste jornal para abordar os 40 anos de relacionamento diplomático entre o seu país e Angola. Peremptório, o diplomata realça que os dois Estados têm um passado semelhante e desafios que os aproximam cada vez mais. Apesar de estarem conscientes da aproximação de outros estados, nesta fase, Gong Tao considera que isso só vem mostrar que o seu país sempre esteve certo, quando, em 2002, estendeu a mão a Angola, para apoiar o processo de reconstrução nacional, depois de o país ter batido a porta de outras instituições no Ocidente

Como é que estão as relações entre Angola e a China?

Acabamos de celebrar na semana passada, no dia 12 de Janeiro, o 40º aniversário das relações diplomáticas entre a China e Angola. As relações são excelentes e tudo indica que se irão desenvolver ainda mais. Um dos pontos altos, na semana passada, foi a visita do novo ministro das Relações Exteriores da China, o embaixador Qin Gang, que foi no- meado para esta missão na véspera do ano novo. A visita a Angola foi a primeira dele depois de ter sido nomeado ministro. Também é tradição chinesa que, no início do ano, o ministro efectua a primeira visita do ano para o estrangeiro, mas sempre dirigido para a África.

Porquê África?

Porque África é um continente do futuro e também um continente de parceiros, amigos e irmãos da China. Sabemos que foi com o apoio de países amigos de África que a China recuperou o seu lugar e a cadeira nas Nações Unidas. Foi através da resolução 2758, no ano de 1971, que se expulsou as autoridades de Taiwan e o Governo central da República Popular da China recuperou o seu assento como um membro permanente do Conselho de Segurança. África também faz parte dos países em desenvolvimento. É o continente que mais tem países em desenvolvimento e a China é o maior país em desenvolvimento. A China e a África são parceiros naturais para o desenvolvimento comum.

Por isso, as relações China e África são uma prioridade das prioridades da diplomacia chinesa. É nesta lógica que o ministro chinês, logo depois de ser nomeado, veio à África e a Angola. Ele chegou a Angola no mesmo dia, isto é, a 12 de Janeiro. Na primeira visita foi recebido pelo Presidente João Lourenço e teve uma reunião de trabalho com o seu homólogo, o ministro das Relações Exteriores de Angola, Teté António. Durante as audiências e reuniões, as duas partes manifestaram, mais uma vez, a vontade para continuarem a seguir o caminho que fizemos nos últimos 40 anos, ou seja uma relação baseada na confiança política, respeito mútuo e na não ingerência nos assuntos internos, assim como no apoio mútuo para a soberania e integridade territorial. E, sobretudo, uma relação de parceria que procura a cooperação nos diversos domínios económicos e sociais na base de winwin, e aproveitamento das vantagens recíprocas das duas partes, para trazer maiores e melhores benefícios para os dois povos, para um maior ou melhor bem-estar destes.

E como estão estas relações entre Angola e a China?

As relações nos 40 anos, durante a visita do meu ministro foram reportadas nestas reuniões. As duas partes tiveram uma intervenção muito positiva. As notas, conquistas e realizações para as duas partes no domínio bilateral para a cooperação e também no domínio China- África. Como nós sabemos, África tem uma grande importância para a diplomacia chinesa, então também temos aquele palco, o mecanismo de cooperação China-África (FOCAC) e também uma avaliação positiva sobre as duas partes quanto à coordenação política, os trabalhos feitos dentro das organizações internacionais, especialmente nas Nações Unidas. Para em conjunto salvaguardar a paz, segurança e o desenvolvimento do mundo e também tratar os assuntos importantes, quentes, tanto ao nível internacional como ao nível regional. Portanto, estas são relações extremamente positivas, mas ainda vamos ir à frente. É neste sentido que estamos a comemorar este 40º aniversário das relações diplomáticas e também procurarmos explorar as melhores potencialidades que existem entre os dois países.

Como é que nasceu essa relação entre Angola e a China a ponto de se tornarem dois grandes parceiros ao nível do continente africano?

Como já referi, China e África são o maior país em desenvolvimento e o maior continente com países em desenvolvimento. São aliados, parceiros e irmãos naturais. Concretamente, em relação à China e Angola, nós também tivemos um passado muito semelhante. A Chi- na, há um ou dois séculos, era um país atrasado com feudalismo, sobretudo um país que sofreu invasões estrangeiras e uma sociedade ruralizada.

Angola também teve o seu passado de séculos de coloniza- do. Entretanto, os dois países estiveram juntos para alcançar a independência e a libertação nacional. Nós conseguimos, e ao assegurar as soberanias e as nossas integridades territoriais, também tivemos os mesmos desafios. Como sabemos, a China, depois da segunda guerra mundial, teve uma guerra civil. Houve combates entre o Partido Comunista da China e o Partido Nacionalista Kuomitang. O Partido Comunista da China conseguiu ganhar esta guerra de libertação e proclamou a República Popular da China.

Igualmente, aqui em Angola, depois da independência, também houve um longo período de guerra civil, que foi um período infeliz, mas o povo angolano soube terminar esta guerra, fazer a reconciliação nacional e, sobretudo, a reconstrução do país. É neste sentido que os dois países têm um entendimento recíproco com as histórias do seu passado, angústia e, sobretudo, da sua aspiração de independência, de desenvolvimento, prosperidade e acompanhar a corrente da história para desenvolver os nossos países e as nossas pátrias. Isso é uma base que se alicerça e serve para as duas partes desenvolverem as suas relações.

Qualquer relação tem sempre momentos altos e outros baixos. A relação entre Angola e China, ao longo destes 40 anos, também viveu isso?

Acho que não fazemos a leitura das nossas relações desta maneira. Como já lhe referi, tivemos passa- dos muito semelhantes, na procura conjunta da libertação nacional, independência. E também durante os combates da guerra civil tive- mos esta amizade e compreensão que serve para a base política das nossas relações. Depois da guerra civil angolana, a China, no início deste século, numa altura em que Angola precisava de apoios externos, a parte chinesa não hesitou em estender as suas mãos para oferecer os apoios, tanto financeiros como económicos e através do intercâmbio entre pessoas. Estão a dar resultados extremamente positivos que agora estão a servir para uma melhoria das condições económicas e sociais de Angola, para se desenvolver e atrair investimentos externos.

Nos últimos anos, por causa das dificuldades financeiras, económicas que Angola enfrentou devido aos desafios e incertezas criadas pela conjuntura internacional, em especial a situação da pandemia, assim como por causa das mudanças de ambiente de desenvolvimento sócio-económico angolano, percebemos que o país está a fazer reformas nos diversos domínios para atrair investimentos e iniciativa privada para criação de riqueza e oferta de empregos. São estas mudanças que as cooperações económicas estão a ter mudanças estruturantes, ou seja, ao invés de ter aquele apoio financeiro, a parte chinesa a corresponder as necessidades do desenvolvimento angolano com mais iniciativa de investimento e comércio. Por causa da pandemia, as duas partes estabeleceram cooperação na área da saúde pública para a salvaguarda da vida dos nossos dois povos. Isso também está a trazer novos resultados.

Enfim, são relações fortes, que podem ser diferentes, em diferentes áreas, períodos, independente das realidades que enfrentamos. Mas, o que não muda é uma amizade, solidariedade e a irmandade que sempre existe entre os dois países. Outra coisa que importa realçar é a importância comum que os dois povos atribuem às relações bilaterais. O Presidente chinês, Xi Jin- ping, enquanto vice-presidente, visitou Angola no ano de 2010. O Presidente angolano, sua excelência João Lourenço, foi duas vezes à China. Uma vez por causa da cimeira da FOCAC e outra para uma visita de Estado. Nos últimos anos, mesmo com dificuldades da pandemia, os dois chefes não cessaram de comunicar por telefone, ligações directas, e também por mensagens e cartas. Também percebemos que no dia 12 de Janeiro, os dois chefes de Estado também trocaram mensagens de felicitações pelo 40º aniversário das relações diplomáticas. Manifestaram em conjunto o desejo de conjugar esforços entre as duas partes para elevar a nossa parceria estratégica para um novo patamar. Também há uma vontade comum das duas sociedades para o intercâmbio entre pessoas. São essas bases sólidas que não mudam, que sempre existem e vão promover, impulsionar as nossas relações.

‘Estamos a ver Angola a retomar a trajectória de ascensão do crescimento económico’

O que levou a China a financiar a reconstrução de Angola, naquela fase depois da guerra, sem nenhum receio?Quanto é que se deve hoje?

Estes financiamentos a partir dos órgãos financeiros da Chi- na, a partir de 2002 até agora, são avaliados em vários mil milhões de dólares norte-americanos para ajudar o Governo angolano a construir novas estradas, aproximadamente 20 mil quilómetros, e caminho-de-ferro, cerca de 1500 quilómetros, 25 mil fogos habitacionais, 100 hospitais, 100 escolas, aeroportos, grandes centralidades, centros eléctricos, estações de energia. São estruturas construídas para trazer condições básicas para Angola se desenvolver e criar um bom ambiente diferente de outros países de África para atrair mais financiamentos e apoios que são favoráveis.

Há muitos amigos meus, colegas chineses, que tiveram experiência de visitar ou trabalhar noutros países de África, eles têm uma impressão muito interessante que, quando chegaram e entraram na cidade de Luanda, diziam que não parece que entraram num país de África. Parece que é um país com bastante desenvolvimento e modernização, mostrando que é um país com dinâmica e com futuro. E é neste senti- do que a parte chinesa está muito alegre em ver. Naquele momento, também pensamos que Angola é um país com recursos naturais e potencialidades. Naquele momento de dificuldades, os outros tiveram receios para os riscos de financiamentos, mas não entendemos as coisas desta maneira, porque Angola tem o petróleo.

E a China, naquele período ou ciclo de explosão económica, precisava de petróleo. É a vantagem recíproca, em que uma parte precisa e a outra que pode servir uma parte económica para que a China pudesse dar este apoio. As duas partes também sabem ultra- passar as dificuldades. Sabemos, nos últimos anos, que Angola é um país que sempre honra as suas palavras. Oferecemos os créditos e Angola, sempre que possível, honrou as suas palavras. Mesmo com dificuldades económicas e financeiras, nos últimos anos as duas partes, especialmente a parte chinesa, soube compreender as dificuldades que Angola tem. E na base da compreensão mútua consegiu-se ter soluções. Houve uma moratória para um período de três anos, entre 2020-2022, que foi fundamental para ajudar Angola a sair daquelas dificuldades todas.

Neste momento, estamos a ver Angola a retomar a trajectória de ascensão do crescimento económico. Entretanto, neste momento, o valor da dívida a embaixada não tem certeza, mas as contas da parte das autoridades angolanas são de 20,9 mil milhões de dólares norte-americanos. Também podemos constatar que no período 2020-2022, a China não só soube estender as mãos para disponibilizar créditos e financiamentos, mas nos períodos de dificuldades também soube oferecer uma moratória ou mora no serviço da dívida para ajudar Angola a passar este período. Pode- mos ver outros órgãos credores ex- ternos que não fizeram isso. Quer dizer que a China é um país com credibilidade e uma confiança política entre os dois povos e parceiros que temos que valorizar. Temos que continuar a sair deste espírito de solidariedade e abrirmos uma nova perspectiva para o futuro das nossas relações.

Está confiante de que Angola tem condições suficientes para pagar esta dívida?

Acho que sim. Angola tem condições. Estes financiamentos e créditos funcionam por regras de mercado. Os órgãos financeiros chineses sabem fazer avaliações das capacidades financeiras angolanas e analisar em conjunto os valores dos projectos que estão em causa para os créditos. Sabem os prjectos que podem ajudar Angola a desenvolver-se, e, entretanto, daí podem tirar as suas ilações de que Angola tem capacidade para pagar as dívidas. Mas também pode- mos ver que, com estes apoios chineses, a passar por estes períodos de dificuldades, os órgãos externos também estão a oferecer financiamentos à parte angolana para vá- rios grandes projectos nos sectores económicos e sociais que a sociedade angolana precisa.

A relação entre Angola e a China foram cimentadas na construção civil, mas hoje se nota um maior envolvimento das autoridades chinesas e de empresários noutros domínios. Qual é a visão que os chineses, sobretudo empresários, recebem da embaixada sobre Angola?

A partir do período em que ter- minou a guerra civil, nós tivemos aquelas grandes obras, entretanto, um grande número de empresas chinesas vieram a Angola, para fazer os seus trabalhos, as suas operações, sobretudo na área da construção e infraestruturas civis, por isso podemos ver as bonitas cidades, estradas, portos, casas, centralidades. Mas, também, Angola não só se desenvolve nas infraestruturas, mas também na sua economia, produção, agricultura e pescas. Daí também nos últimos anos há cada vez mais empresas chinesas que têm o foco da atenção dos seus investimentos nestas áreas que podemos constatar. Algumas dezenas de fábricas chineses estão a funcionar na Zona Económica Especial de Luanda. Também mostramos que há uma grande empresa chinesa, a Sinoword, que está a funcionar na província do Bengo para a produção de azulejos, que satisfaz o mercado interno e também faz exportação para os mercados vizinhos de Angola, nomeadamente República do Congo, RDC, Zâmbia e Namíbia. Também podemos constatar que os empresários chineses investiram em grandes fazendas para a ajudar a desenvolver a economia e a agricultura. Na área da pesca também há vários projectos que estão em curso. Na área do comércio, toda a gente conhece a Cidade da China, um mega centro de comércio que está a ajudar no dia- a-dia da população de Angola. Há também outros estabelecimentos comerciais cuja construção está em curso.

Entretanto, com a experiência dos anos passados, agora que a conjuntura económica internacional está a melhorar, o governo chinês levantou os confinamentos, vai haver um maior intercâmbio entre as pessoas. De acordo com as informações que a embaixada tem, há vários empresários chineses e fundos privados da China que estão interessados em vir a Angola, para estudar, analisar o mercado angolano e ver outras oportunidades para que possam investir aqui. As empresas chinesas já estão aqui instaladas e integradas na sociedade angolana e na economia. Já se podem considerar parte de Angola. Os indivíduos chineses, em particular, eles sentem uma boa recepção do Governo angolano, com hospitalidade, espírito acolhedor e também estão disponíveis para continuarem aqui.

O comércio bilateral entre a China e Angola foi de 27,34 mil milhões de dólares norte- americanos

Cruzamos, recentemente, num hotel no Huambo, com o embaixador à frente de uma grande de- legação. Quais são os projectos em curso nesta província, embora não exista muita divulgação?

A divulgação não é feita por mim, mas sim pelos empresários quando se concretizar os projectos deles. Segundo sei, por exemplo, aquela fazenda de Jianzhou, que tem uma grande dimensão, mas também não deixo de dizer que existem alguns litígios ou divergências das propriedades com a população local que precisamos de ultrapassar. Para que estes empresários tenham uma confiança de investimentos. Há um outro projecto industrial na exploração florestal, que é a industria de produção de pasta de papel, onde há uma empresa chinesa a querer desenvolver na província do Huambo. Na próxima semana irei visitar a província do Cunene e aquele grande projecto de Cafu. Um com- plexo de obras para a transportação de água para a agricultura para a melhoria da vida da população. Também podemos constatar que nas ruas de Angola há vá- rias marcas de automóveis chineses que circulam e, igualmente, mostramos os telemóveis chineses que estão a ter muitos clientes no mercado angolano. Entretanto, são vários os sectores com grandes potencialidades que a China pode trazer. Aqui tenho alguns números mais novos para lhe oferecer.

Quais são estes números?

Vou dar em primeira mão. Os números só saíram ontem. Para o ano 2022, o comércio bilateral entre a China e Angola foi de 27,34 mil milhões de dólares norte-americanos. Um aumento e crescimento homólogo em relação a 2021 de 16.3 por cento. Entre este volume de comércio, 23,25 foi exportação de Angola para a China, um aumento homólogo de 10.6 por cento. Depois, 4.1 mil milhões foi importação de Angola através da China, um aumento de 65 por cento homólogo. Angola no ano 2022, definitivamente, tornou-se no segundo maior parceiro internacional da China em toda a África, logo depois da África do Sul, à frente de países como a Nigéria, RDC e Egipto. São números muito estimulantes que nos encorajam para fazer- mos mais conquistas ao longo do ano 2023 e também para os próximos anos que estão a chegar.

Está em Angola há muitos anos: qual é a imagem que tem vendi- do aos amigos e às pessoas que lhe contactaram para saber sobre o nosso país?

Em princípio, eles pensam que Angola é um país politicamente estável. Como já referi, Angola sofreu, passou pela crueldade da guerra civil, mas soube fazer a reconciliação política. Tem o partido no poder e os partidos na oposição. Mas sabem fazer a paz e organizar uma sociedade para a estabilidade.É neste aspecto, sobretudo, que os investidores chineses sentem , em comparação com outros países de África, esta estabilidade política e social para virem cá trabalhar e fazer investimentos. Também pensam que Angola é um país com potencialidades. Com terras, população jovem, mão-de-obra, sol, bom clima e, principalmente, um povo que sabe receber bem a população e os empresários chineses. De uma maneira geral, durante os trabalhos, eles sabem manter e desenvolver boas relações de trabalho e amizade com o povo e colegas angolanos. Digo uma coisa: é preciso algumas melhorias em Angola, por exemplo na segurança para os indivíduos. Há casos de insegurança. Há criminalidade.

Tem recebido muitas queixas por parte da comunidade chinesa?

Sim, as queixas não faltam. Tem os assaltos, capturas, roubos e até algumas vezes há homicídios que ainda falta fazer justiça. Há uma certa insegurança que a comunidade chinesa pode sentir.

Viu-se, durante algum tempo, que nos casos de raptos estavam envolvidos até mesmo integrantes da própria comunidade chinesa. O que pensa disso?

Agora a embaixada da China tem o adido policial, numa parceria em conjunto com o Ministério do Interior. Neste caso de raptos e criminalidade dentro da sociedade chinesa, os órgãos de segurança pública sabem fazer as suas investigações e cooperação para minimizar os efeitos. Nos últimos anos estes casos têm uma tendência de descer. Estão sob controlo. Mas há preocupações e, sobretudo, certos sentimentos de insegurança, porque recebemos informações de que a população angolana está sempre a aumentar. É um desafio para o Governo, por isso a comunidade chinesa está a dar a sua contribuição para a criação de postos de trabalho e dar melhor vida às famílias. É um esforço que as duas partes precisam de fazer para diminuir a criminalidade, mas fundamentalmente para aumentar a nossa cooperação, oferecer mais postos de emprego e as famílias viverem melhor.

A questão da segurança tem alterado a vida dos cidadãos chineses em Angola ou já se sentem como peixes na água?

Cada individuo é um individuo. Eles têm as suas maneiras de viver e conviver com a população local. Há estas preocupações, eles também sabem como se devem tratar e fazer a prevenção, principalmente para protegerem as suas vidas e os seus bens. São questões complexas, com vários ângulos para ver e resolver. Primeiro, são parcerias para a cooperação entre os órgãos, isto é, as embaixadas e ministérios para se dar mais apoios de segurança aos cidadãos. E os cidadãos e as empresas também se organizam para melhorar as condições de protecção e uma noção de que o país é, fundamentalmente, de hospitalidade, sabe acolhe bem a comunidade chinesa. A China estendeu as mãos a Angola num período de extrema necessidade e o país vai procurando encontrar o caminho do crescimento. Hoje, vêem-se que mui- tos países vão piscando os olhos a Angola, incluindo os EUA, os países da União Europeia…Emiratos Árabes, Turquia. Até o Japão, India.

Está-se a perder algum fulgor nas relações entre a China e Angola?

Não entendemos o assunto desta maneira. Mas estás muito correcto. A China sabe estender as suas mãos para recuperar, reconstruir, estando agora no caminho certo para o desenvolvimento sustentável, para a melhoria das condições que favoreçam a atracção de outros apoios. África e Angola não são palcos de disputas de interesses privados. Deverá ser um palco de apoios de todos nós para o continente ou Angola se desenvolver, porque o povo angolano e africano tem esse direito. Merecem isso. Por isso, a China não está desfavorável que agora surjam parceiros em termos de Estados ou empresas virem para ajudar Angola. Isso também está a provar que, mais uma vez, a China estava correcta desde o início que depositamos confiança no desenvolvimento de Angola. Mas da parte chinesa também sabemos ver as coisas para o futuro.

Sabe que no ano passado o Par- tido Comunista da China realizou o 20º Congresso Nacional. Duran- te este congresso fizemos os novos planos quinquenais e já temos os objectivos e as conquistas do primeiro centenário do Partido Comunista da China, que é o facto de ter conseguido fazer a erradicação da pobreza absoluta. Neste último congresso desenhamos o objectivo para o segundo centenário, que é o da China para o ano 2049.

Neste momento, a China vai conseguir alcançar a sua modernização. Uma modernização de 1, 4 mil milhões de habitantes. É uma obra nunca vista nem feita, neste mundo, anteriormente. A modernização chinesa é de prosperidade comum, ou seja, há cada vez mais uma menor diferença entre os ricos e os pobres. Todos os chineses vão gozar uma vida confortável. Será uma modernização chinesa também de equilíbrio e de combinação do desenvolvimento material, moral e espiritual. Em quarto lugar, a modernização chinesa será uma combinação e um equilíbrio entre o desenvolvimento económico e desenvolvimento verde, a protecção do ambiente. Quinto: a modernização chinesa será de percorrer o caminho de paz e desenvolvimento em conjunto com a comunidade internacional. A China vai continuar a oferecer as oportunidades que está a criar nesta nova fase do desenvolvimento chinês com o resto do mundo.

É nesta lógica que a parte chinesa está disponível, em conjunto com a parte angolana, porque sabemos que no ano passado houve as eleições gerais e saiu o novo mandato do Presidente João Lourenço. Angola está a desenhar também o seu plano de desenvolvimento sustentável para os próximos anos. Entretanto, as duas partes podem estabelecer sinergias e conjugação dos seus planos de desenvolvimento, e nós vamos fazer planos da nossa cooperação bilateral. Não só de curto prazo, mas também para médio e longo prazos, porque o desenvolvimento, industrialização e modernização também é uma aspiração da parte angolana. Neste aspecto, a experiência da China nos últimos 45 anos, de acordo com as nossas reformas e aberturas, tem cria- do muitas experiências que temos como compartilhar com a par- te angolana. Resumindo, a China e Angola continuam a ser parceiros sólidos e a ter um futuro mais brilhante, que vale a pena as duas partes continuarem a trabalhar em conjunto.

O que este programa até 2049 reserva para o FOCAC e o Projec- to Rota da Seda para o continente africano?

Nós acabamos de ter uma última sessão ministerial no Senegal, em 2021, do FOCAC e daí saiu o novo programa. E vocês sabem. Tem vários programas que a China tem com o Governo angolano nas diversas áreas, como a saúde pública, em que vamos enviar novas equipas médicas para restabelecer o mecanismo de cooperação hospitalar com a parte angolana. Também há a parte da promoção do comércio, com o FOCAC, que a China oferece a Angola e outros países de África, isenção de impostos para itens de mercadorias de exportação de Angola e África para a China. Noventa e oito itens destas mercadorias terão direito à isenção de impostos. Agora, a par- te chinesa está a trabalhar com a parte angolana. Também agora há novos projectos na área da transformação digital para Banda Larga.

Há órgãos financeiros da China que vão ajudar e oferecer ao Governo angolano Banda Larga e Fibra Óptica com o valor de 250 milhões de dólares americanos. Trata-se de um crédito de empréstimo concessionado. Assinei pessoalmente na semana passada com a ministra das Finanças. Sabemos que a empresa chinesa Huawei acabou de fazer a inauguração do novo parque tecnológico aqui em Luanda. Não só vai ajudar Angola e a sociedade na transformação digital, mas também ajudar na formação dos jovens talentos angolanos para avançarem na ciência informática nos próximos tempos. Também sabemos que no campo da energia verde, o maior projecto ou centro hidroeléctrico de Caculo Cabaça está na segunda fase de construção e em bom andamento. Também há promoção de investimentos da parte chinesa a fazerem, tanto para as empresas estatais e privadas. São os vários os projectos em curso no quadro bilateral ou da FOCAC que estamos a desenvolver entre as duas partes. Vão sair constantemente os resultados.

E quanto à Faixa e Rota da Seda?

Em relação à Faixa e Rota, temos aqui o novo aeroporto internacional de Luanda que está na fase final. Tudo indica que no ano cor- rente vai ser inaugurado. É uma grande obra com financiamento.chinês. Também o novo aeroporto de Caio, na província de Cabinda, está em construção. Vai originar uma conectividade de Angola para com o exterior.

Além de Angola, em África, a China está a ajudar várias outras obras para a melhoria de conectividade dentro de África. Quer dizer que em África ou entre os países africanos falta caminhos de ferro, estradas, aeroportos e ligações entre um e outro país. Por exemplo, se precisamos viajar até ao país vizinho da Zâmbia de avião, antes precisamos de ir para Addis Abeba ou para Joanesburgo. Depois com as melhorias poderemos viajar com ligação directa ou também por estradas e caminho de ferro. É nesta lógica que faz sentido a iniciativa Faixa e Rota. Para uma maior conectividade de estradas e infraestruturas, assim como uma maior mobilidade entre as pessoas e ajudar numa maior mobilidade de investimentos.

Como é que estarão as relações entre a China e Angola quando se atingirem os 50 anos de relações?

Acho que até chegar aos 50 anos será uma relação que terá uma parceria estratégica, confiança política e, sobretudo, no sector económico. Com um comércio mais forte com mais qualidade e também oferecer mais resultados concretos, melhorar a vida das pessoas e oferecer mais empregos para as famílias. Uma coisa que gosta- ria de ver é um maior intercâmbio, amizade e entendimento entre os dois povos. Por exemplo, há mais angolanos que falam mandarim e mais chineses a falarem português. Agora, na China há mais 50 ou 60 universidades que têm o curso de língua portuguesa. Aqui te- mos o centro do Instituto Confúcio na Universidade Agostinho Neto. Estão a ministrar aulas para alunos aprenderem língua e cultura chinesas. Espero que a língua chinesa seja integrada no sistema de ensino básico do Governo angolano e cada vez mais jovens angolanos possam dominar a língua chinesa. E assim possam dar mais tarde um maior contributo para a nossa amizade e cooperação.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

operações económicas estão a ter mudanças estruturantes, ou seja, ao invés de ter aquele apoio financeiro, a parte chinesa a correspon- der as necessidades do desenvolvi