Kâmia Madeira

Kâmia Madeira

Cinéfilo que é cinéfilo e que gosta de ficção científica acompanhou a saga de Neo, que combatia um sistema informático que prendia as pessoas dentro de uma realidade alternativa, sendo que o grupo de insurgentes enfrentava agentes enviados pelo próprio sistema e acabou por descobrir depois de muitas mensagens enigmáticas da Oráculo que afinal o salvador era também ele uma falha do próprio sistema… Filme do século passado onde a inteligência artificial domina os humanos e os escraviza… e se ao contrário do que pensamos não haverá extreminadores implacáveis nem super robots e nós já estamos a ser dominados? Será que é realmente o leitor que escolhe o que vê nas suas redes sociais? Será que o questionário prévio sobre os seus gostos e preferências não é já uma forma de influenciar o que vê? E o que faz assim que acorda? Pega no telefone para ver o que perdeu enquanto dormia?

Estudos mostram que desde 2011-2013 com o boom dos telefones digitais o consumo de plataformas online aumentou, longe os tempos do MIRC, Hi5 ou correspondência por email, quando demos por nós todos abrimos contas no Facebook, Instagram, Twitter, Snapchat, Whatsapp, Pintrest e agora o Tik Tok o nosso telefone passou a ser quase uma extensão do nosso corpo e a quebra na comunicação é gritante pois famílias já não conversam e os bons momentos só são bons se estiverem documentados em alguma rede e com muitos likes. Tornamo-nos ansiosos e susceptiveis à depressão, os nossos filhos são alvo de bulling e cada vez mais propensos a ter visões erradas sobre si e a realidade, num mundo onde podemos sorrir para a selfie e chorar logo após a publicação, pois esta não teve tantas reacções como almejado.

Caro leitor para que saiba, estamos todos conectados e a ser enganados a inteligência artificial está aqui e as pessoas que a criaram dizem que a conseguem controlar, mas até eles não têm a capacidade de compreender a velocidade com que os algoritmos se modificam e adaptam-se às nossas preferências, dou como exemplo, quando procura algo em alguma das redes mencionadas já reparou como nos dias seguintes mesmo sem que o faça aparecem páginas semelhantes ao que pesquisou no dia anterior…. é a Inteligência Artificial a trabalhar, e como com base nas suas interacções são sugeridas amizades ou páginas para seguir…. Neste emaranhado rápido e volátil, as empresas pagam para que as plataformas nos consigam manter o mais conectados possíveis, de modo a que possam vender os seus serviços, e os que dominam as tecnologias criam notícias falsas que polarizam a opinião pública ou ajudam à eleição de presidentes. Esta indústria precisa de regulamentação e de leis e fiscalização apertada. Não foi à toa que o responsável do Facebook teve que explicar ao senado Norte Americano a interferência Russa nas eleições.

Nós por cá devemos ter cuidado com a utilização que fazemos de um espaço público mas de igual modo comum, pois se existem contas anónimas criadas com o intuito de alertar os cidadãos para factos desconhecidos tendo como base por vezes mujimbos suculentos, também é verdade que a maioria da nossa população facilmente se deixa enredar por qualquer Fake News sem procurar uma outra fonte de informação que a valide. Nem tudo o que se passa nas redes é real não se iluda…. Não considero que os avanços tecnológicos sejam de todo nocivos, mas preocupa-me que não estejamos a saber lidar bem com eles, é um facto que esta nova geração desde tenra idade sabe mexer e entender tudo o que é electrónico mas torna- se prejudicial quando prefere passar mais tempo conectada do que simplesmente sair e apanhar raios de sol.

Confesso-lhe a minha adicção, sendo que estas plataformas são feitas para isso pois estimulam a nossa dopamina, tendo em tempos optado por bloquear o tempo de uso, assim como desligar as notificações, mas sentia sempre a necessidade de saber o que acontecia no Facebook ou no Instagram sendo a sensação de scrooll e pôr uma reacção bastante prazerosa mesmo que depois de 30 minutos já nem me lembrasse de metade do que vi. Após assistir ao documentário da Netflix “ The Social Dilemma” e que deu azo a este texto vou voltar a policiar-me e a desfrutar de coisas tão simples como ler um livro e imaginar os locais para onde me transporta ou simplesmente apreciar um entardecer. P.s Não vou fechar as minhas contas nas redes sociais, mas com certeza diminuirei o tempo que passo nelas, faço-o também se o que escrevi fez sentido, cuide de si e dos seus, aprecie as pequenas coisas da vida.

POR: Kâmia Madeira