Laura Macedo: “como será João Lourenço como PR e presidente do MPLA”

Laura Macedo: “como será João Lourenço como PR e presidente do MPLA”

A activista social Laura Macedo afirmou, ontem, que João Lourenço, enquanto Presidente da República, não devia ser presidente de partido nenhum. A activista teme que ele deixe de ser presidente de todos os angolanos e se torne somente no presidente dos militantes do MPLA

Texto de: Neusa Filipe e Maria Custódia 

Laura Macedo defende que é preciso separar a água do vinho. Na sua opinião, não é benéfico que João Lourenço tenha dupla subordinação, alegando que os Presidentes da República que o país já teve, priorizam sempre a subordinação ao partido contra a subordinação aos restantes cidadãos. Salientou que, sendo agora João Lourenço Presidente da República e do MPLA, a pergunta que paira no ar é de saber se o povo poderá confiar nele e no tratamento que ele vai dar aos assuntos que dizem respeito ao cidadão.

“Eu não sei o que será daqui em diante, sendo ele Presidente da República e do MPLA. Ou ele vai virar um ditador igual a José Eduardo dos Santos com uma cúpula de apoiantes no Bureau Político e fazer o que quiser, ou então, não sei o que vai ser”, disse, Laura Macedo, avançando que o cumprimento das promessas eleitorais, para o benefício de todos, é o que mais a preocupa.

Pespectivas

O director do Observatório Eleitoral Angolano (OBEA), Luís Jimbo, entende que o desafio que se impõe ao Presidente João Lourenço é de olhar pela reforma eleitoral pela forma como são eleitos os Presidentes. Para ele, João Lourenço deve fazer uma análise, decidir se vai manter o estatuto do MPLA e a Constituição da República (CRA), ou se vai efectuar mudanças. Avança que deverá preparar a sua sucessão a
partir de agora.

O responsável afirmou que, caso o Presidente não aspire a mudanças, deverá tomar a iniciativa de fazer uma reforma eleitoral nos estatutos e na orientação do partido. Luís Jimbo anseia que João Lourenço dê continuidade à dinâmica de abertura do diálogo, ao incremento duma sociedade mais aberta ao diálogo bem como à necessidade de investir mais na educação cívica eleitoral.

Por seu turno, o escritor Pedro Capracata referiu que a acumulação de funções como Presidente do país e do partido não representa vantagens, realçando que será uma situação recorrente. Na sua opinião, o MPLA vai continuar a trabalhar de forma a se manter intacto e não afrouxar a sua inserção no seio da população.

Histórico dos Congressos

Ordinários e Extraordinários do MPLA Em 10 de Dezembro de 1956, fundou-se oficialmente o Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA). Em 1977 o MPLA realizou o seu primeiro Congresso Ordinário, no qual Agostinho Neto é eleito presidente do MPLA, foi nessa mesma data que o MPLA se
constituiu partido político. Com a morte de António Agostinho Neto em 10 de Setembro de 1979 vítima de doença, José Eduardo dos Santos foi eleito Presidente e assumiu a direcção do MPLA. Em 1980 orienta o 1º Congresso Extraordinário, em 1985, o 2º Congresso Ordinário, com fundamentação política de Agostinho Neto. Em 1990 o MPLA realiza o 3º Congresso Ordinário, numa altura em que ocorriam transformações políticas, económicas e sociais em quase todo o mundo, que resultou sobretudo no desanuviamento da tensão internacional com o fim da guerra fria.

 

Em 1991 e 1992 realizou-se o 2º e 3º Congresso Extraordinários. Nessa altura verificou-se reformas na base jurídico-legal, com a consagração do multipartidarismo e da economia de mercado, neste período o MPLA voltou a transformar-se em partido de massas. Em 1998, 2009 e 2013 o MPLA realiza o 4º 5º e 6º Congressos Ordinários, em 2011 realiza o 4º Congresso Extraordinário.

De 17 a 20 de Agosto o MPLA reuniu o seu conclave para analisar e discutir a vida interna do partido, os desafios políticos, económicos e sociais de Angola. O VII Congresso Ordinário realizou-se sob o Lema, MPLA – Com o Povo Rumo à Vitória. Finalmente, o VI Congresso Extraordinário realizou-se, ontem, 8 de Setembro de 2018, marcando a transição da liderança de José Eduardo dos Santos para João Lourenço.

Biografia de José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos nasceu a 28 de Agosto de 1942, filho de Eduardo Avelino dos Santos e de Jacinta José Paulino. Casado com Ana Paula dos Santos. Concluiu o ensino secundário em Luanda (Liceu Salvador Correia) e integrou-se no MPLA em Novembro de 1961, no exílio.

Licenciou-se, em 1969, em Engenharia de Petróleos no Instituto de Petróleo e Gás de Baku (antiga União Soviética). Regressado ao país, foi Ministro das Relações Exteriores no primeiro Governo constituído depois da Independência de Angola. 2º Vice-Primeiro Ministro, em 1978 e ministro do Planeamento, em 1978-79. Foi eleito Presidente do MPLA a 20 de Setembro de 1979 e investido no cargo de Presidente da República Popular de Angola até Outubro de 1992, altura em que decorreram as eleições presidenciais das quais saiu vencedor na primeira volta, com 49,6% dos votos.

De 1986-92 José Eduardo dos Santos esteve na base dos esforços de pacificação no país e na região, que culminaram com a retirada das tropas invasoras sul-africanas, o repatriamento do contingente cubano, a independência da Namíbia e o fim do regime do ‘apartheid’ na África do Sul.

Eliminados os factores externos que agravavam o conflito interno em Angola, José Eduardo dos Santos lançou as pontes para uma solução negociada, dinamizou a abertura ao pluralismo político e a economia de mercado, assim como organizou eleições democráticas multipartidárias de 29 a 30 de Setembro de 1992, sob supervisão internacional.

Biografia de João Lourenço
João Manuel Gonçalves Lourenço nasceu na cidade do Lobito, província de Benguela, a 5 de Março de 1954. Filho de Sequeira João Lourenço natural de Malange e de Josefa Gonçalves Cipriano Lourenço natural do Namibe, enfermeiro e costureira respectivamente.

Presidente da República de Angola, João Lourenço foi eleito ontem presidente do MPLA, substituindo José Eduardo dos Santos. Licenciado em História, já passou por várias posições dentro do partido e no Estado angolano, incluindo deputado à Assembleia do Povo entre 1984 e 1992, presidente do Grupo Parlamentar do MPLA entre 1993 e 1998 e 1º vice-presidente da Assembleia Nacional entre 2003 e 2014.

Cargos Exercidos: 1984 – 1987 1º Secretário do Comité Provincial do Partido e governador Provincial do Moxico 1987 – 1990 1º Secretário do Comité Provincial do Partido e governador Provincial de Benguela 1984 – 1992 Deputado a Assembleia do Povo 1990 – 1992 Chefe da Direcção Política Nacional das FAPLA 1992 – 1997 Secretário da Informação do MPLA 1993 — 1998 Presidente do Grupo Parlamentar do MPLA 1998 – 2003 Secretário-geral do MPLA 1998 – 2003 Presidente da Comissão Constitucional Foi ministro da Defesa de Angola desde dezembro de 2016 a 2017