Rui Kandove: “UNITA está muito colada à agenda da sociedade civil”

Rui Kandove: “UNITA está muito colada à agenda da sociedade civil”

O ano de 2020 está prestes a terminar e foi marcado, de alguma forma, por uma série de manifestações. Já se percebe o que esteve na base destas contestações?

Há um conjunto de questões elencadas pelos manifestantes, nomeadamente a falta de emprego e o aumento do custo de vida, que legitimam a aspiração no que se refere à melhoria das condições de vida dos angolanos. Ocorre que não faz sentido a pessoa que reclama ser a mesma que vandaliza os bens públicos. Aliás, é bom lembrar que anarquia está fora do sistema político vigente. Portanto, tenho dúvidas de que o objectivo final das reivindicações seja exclusivamente a melhoria das condições de vida.

Como foi que as autoridades lidaram com o processo, sobretudo após a ocorrência de mortes?

Um dos postulados da governação de João Lourenço foi a garantia das liberdades. De facto, uma série de manifestações foi realizada sem qualquer tipo de problema, ou melhor, a polícia esteve sempre muito bem. Não se entende a desastrosa actuação das autoridades nas manifestações de 24 de Outubro e 11 de Novembro. É evidente que, depois da morte do jovem estudande, a polícia teve de corrigir a sua actuação.

Inicialmente falou-se em sair à rua para forçar o Executivo a realizar as eleições autárquicas e melhorar as condições de vida. Agora existem figuras e personagens ligadas aos referidos movimentos que dizem que as manifestações são para o MPLA abandonar o poder. Há uma linha de acção consensual entre os manifestantes ou existem vários movimentos em direcções opostas?

Parece-me bastante claro que a agenda é forçar o MPLA a abandonar o poder. Penso que a pretensão até é legítima para quem anda na política de forma profissional. A Democracia também é alternância, mas essa alternância deve ser construída de acordo com os marcos institucionalizados. Os players concordaram com o sistema democrático. Ora, é com base nele que se devem aspirar a mudanças. É bom sublinhar que o partido político é a via natural da acção política (não é a única) e, na maior parte, o único caminho institucionalizado pelo qual se pode buscar formalmente o poder. Em sociedades democráticas preservam-se as diferentes correntes de opinião, mas a promoção dessas diversas correntes é função dos partidos políticos. Eles organizam a acção política, dão-lhe direccionamento, procurando evitar desperdício.

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