SINPROF na Huíla adverte que MED vai comprometer as futuras gerações

SINPROF na Huíla adverte que MED vai comprometer as futuras gerações

“Ministrar o ano lectivo 2020 em apenas cinco meses será comprometer as futuras gerações”, alerta o secretariado do SINPROF na Huíla, reagindo à decisão do Ministério da Educação (MED) de retomar as aulas de 13 de Julho a 30 de Dezembro do corrente ano. 

Esclarece que este ano lectivo, suspenso no primeiro trimestre por causa da pandemia da Covid-19, seria o de recuperação do déficit negativo de 2019, resultante dos efeitos da seca que fustigou severamente a região Sul do país, provocando um êxodo enorme das populações em busca de zonas de maior estabilidade. 

Deste modo, centenas de crianças foram forçadas a abandonar as salas de aula, pelo facto de ter aumentado a área de transumância, o que provocou a elevação dos índices negativos no aproveitamento escolar. 

“O mês de Junho era o indicativo para o Ministério da Saúde, antes, como sendo o pico da pandemia. Estes meses por si só, já são férteis para as doenças do fórum respiratório”, diz o SINPROF. Acrescenta de seguida, que “a nossa população é maioritariamente pobre, sem recursos para aquisição de agasalho para os seus educandos”.  

Para aclarar a gravidade da situação em que, em seu entender, o Ministério da Educação vai expor os estudantes, a correr riscos de saúde, a estação seca é um período em que as temperaturas baixam muito, chegando a atingir 4 graus Celsius, principalmente na região Centro e Sul do país, resultando, para as crianças, em dificuldades de pontualidade, assiduidade e concentração. 

Declara ainda que as crianças de famílias de baixa renda ficam sem agasalhos, incapacitadas de ingestão de água potável, sumos, chás, frutas e mel e, para agudizar ainda mais a situação, estudando ao ar livre. 

Baseando-se nos depoimentos de vários especialistas em medicinas, recordam que as crianças estão entre as principais vítimas de muitas patologias do fórum respiratório que afectam as vias respiratórias aéreas ou superiores e baixas ou inferiores, com maior ênfase na época do Cacimbo, que vai de 15 de Maio a 15 de Agosto.  

“Segundo o Ministério da Saúde, o pico desta doença Covid-19, poderá ocorrer durante o período do Cacimbo, época onde as doenças respiratórias (como pneumonia, asma, gripe, conjuntivite, bronquite, reumatismo) se manifestam com muita fluidez, afectando principalmente crianças e idosos”. 

O secretariado do SINPROF na Huíla diz que as crianças ficarão vulneráveis em termos de saúde, por terem costumes que ajudam a espalhar doenças, como, por exemplo, levar tudo para boca, ter contacto com outras pessoas de forma mais próxima e não possuírem o costume de lavaras mãos e outros hábitos de higiene. Acrescenta ainda a necessidade que elas têm de contacto constante com adultos.  

“Além desses hábitos externos, possuem factores específicos da idade como a imaturidade do sistema imunológico, que é a proteção do nosso corpo, e a falta de exposição prévia a alguns agentes”. 

Por outro lado, advertem que ainda não há testagem comunitária para aferir o estado sanitário das populações angolanas, nem vacinas contra a Covid-19.  

Nação alegadamente desfortalecida 

No entender dos sindicalistas, a decisão do MED de reiniciar as aulas no período acima mencionado entra em contradição com o slogan do Executivo segundo o qual “a cultura fortalece a nação, mais cultura mais Angola” e com a cultura das diversas regiões do país.  

Invocam para o efeito a importância desta na consolidação da paz e da soberania nacional, com o papel estratégico que tem com efeitos imediatos na coesão interna da sociedade angolana, bem como na marcha em direcção aos objectivos globais que o país se propõe atingir. “Deixa as comunidades em maior grau de vulnerabilidade, sem identidade, retirando as oportunidades de desenvolvimento equilibrado”. 

A contradição com a cultura a que se refere está relacionada, por um lado, a aspectos como o efiko (ritual de iniciação feminina) e ekuendje (ritual de iniciação masculina) que acontecem na época do Cacimbo, retirando os alunos da escola por mais de duas semanas. 

Por outro lado, a mesma tem a ver com o “modus vivendi” dos habitantes do Sul e Centro do país que vivem da pastorícia e da agricultura. Fundamenta que em época de Cacimbo as famílias movimentam-se com o gado em busca de melhores zonas de pasto e em período de colheita dos cereais as crianças juntam-se às famílias, tornando-se ausentes da escola. “A luta pela auto-sustentabilidade económica das comunidades sofre um aumento, pois as crianças são elementos a ter em conta na produção familiar”, diz. 

Sindicalistas propõem aulas de Setembro a Junho

O Sindicato dos Professores propõe a alteração do calendário escolar, com início em Setembro deste ano e término em Julho do próximo ano, dividido em trimestres. O primeiro iria de Setembro a Dezembro (de 2020), o segundo de Janeiro a Março e o terceiro de Abril a Julho (de 2021). 

Em seu entender, se as aulas reiniciarem em Setembro, as autoridades e a população terão mais conhecimento sobre o comportamento do vírus, sinais sólidos dos pesquisadores e investigadores sobre uma possível vacina e permitiria ao Ministério da Saúde a realização da testagem comunitária. 

Advogam ainda que será tempo suficiente para criar condições colaterais para o combate à Covid-19, tais como água e toda segurança sanitária nas escolas, etc. 

“O Governo teria tempo para rever o orçamento alocado ao Sector da Educação, dando resposta à construção de mais salas de aula, a contratação de mais agentes de ensino, na perspectiva de reduzir o número de alunos por sala, visto que ainda temos turmas com mais de 60, 80 alunos por turma ou mais, um professor com mais de uma classe, isto no ensino primário”, diz o documento. Acrescenta de seguida que “este processo, a sua execução não leva menos de seis meses”.  

Os sindicalistas alertam que o calendário estabelecido pelo MED violará o direito essencial do trabalhador, relativo ao gozo de férias, uma vez que o professor encontra vários empecilhos devido à época festiva, fazendo com que este nunca descanse para renovar as energias.  

Segundo eles, o mês de Dezembro é por si só agitado para permitir um descanso laboral e que, caso a sua proposta seja aceite, estes passariam a ter férias no mês de Agosto com maior tranquilidade.