UNESCO aconselha a descolonizar o ensino de África

UNESCO aconselha a descolonizar o ensino de África

Falando, ontem, via zoom, durante a sessão inicial da 1ª Conferência Internacional sobre a Inserção das Línguas de Angola na Educação e Ensino, a representante da UNESCO e versada em matérias de língua, comunicação, ensino e cultura, Edvanda de Oliveira, recomendou a Angola e a outros países africanos a descolonizarem os seus sistemas de educação

Para Edvanda de Oliveira, a medida passa pela necessária inserção das línguas locais no sistema de ensino, de maneira que as mesmas constituam um meio e um factor de comunicação que predomine, de forma total, na vida do indivíduo, a partir de tenra idade.

“O continente africano é uma hiper-diversidade em termos linguísticos, tendo entre duas ou três mil línguas faladas no seio familiar, nas ruas, nos bairros ou nos mercados, menos nas escolas. Daí que para a UNESCO e, sobretudo, para o BIE(International Bureau of Education), há necessidade de se descolonizar o ensino africano”, disse a prelectora.

Segundo ela, isso criaria, imediatamente, impacto positivo e actuante ao nível individual, comunitário e nacional. Detalhando, Edvanda de Oliveira adiantou que, ao nível individual, as crianças ou os alunos melhorariam, rapidamente, as aprendizagens e a construção da personalidade, além de assegurarem a consolidação da identidade cultural.

Relativamente ao impacto na comunidade, a especialista começou por assegurar que a utilização das línguas regionais, nas escolas, impulsionaria os pais a acompanharem mais e melhor a vida escolar dos seus filhos e reconciliaria a escola com a comunidade.

Já ao nível nacional, valorizaria as culturas e os saberes locais, de modo que as heranças culturais fossem bem transmitidas, de geração em geração. Edvanda de Oliveira reiterou a recomendação que o Banco Mundial tem vindo a dar, principalmente, aos africanos, segundo a qual se deve ensinar às crianças numa língua que elas utilizam, diariamente.

A especialista referiu-se sobre as experiências do Burundi e do Tchad, onde a inserção das línguas locais no ensino permitiram alcançar resultados positivos nas aprendizagens, na construção das personalidades dos indivíduos e na afirmação dos valores culturais dessas duas regiões africanas. O primeiro país superou outros países da mesma região de Africa, por ter aplicado essa medida,

ao ponto de escolarizar e instruir as suas crianças nas línguas locais, nos primeiros quatro anos de ensino, segundo ela. O Tchad que, em 2013, começou a aplicar o sistema bilingue, no ensino, que permitia a convivência das línguas árabe, francesa com as locais, também passou a ter êxitos nas aprendizagens e na afirmação das suas culturas. “As crianças passaram a estudar e aprender por via da comparação das línguas em convivência”, realçou

Ensinar pessoas na própria língua

Ao proceder à abertura da 1ª conferência internacional que se dedica à inserção das línguas no sistema de ensino, a ministra da Educação, Maria Luísa Grilo, considerou que, para uma pessoa poder aprender melhor, é preciso ensiná-la na sua própria língua. “Todo aquele que não é ensina- do, primeiramente, na sua língua, não aprende”, reforçou a titular do órgão que superintende o ensino geral em Angola.

Para assegura-se do que afirmou, fez alusão ao pensamento do primeiro presidente e funda- dor da nação angolana, António Agostinho Neto, que evoca a necessidade de inserção das línguas locais ou regionais no sistema de ensino, tendo, por isso, considerado esses idiomas, nas escolas, como um imperativo.

Recomendou que essa conferência tome atenção para o facto de a língua da escola não ser só portuguesa, apelando, por isso, às academias a engajarem-se, no sentido de colocarem à disposição todo o seu saber, para que, a pouco e pouco, se possam inserir as línguas de Angola. Finalmente, a ministra da Edu- cação reconheceu que, entre as cinco principais línguas regionais de Angola, a Umbundu é a mais falada, seguida da Kimbundu e a Kikongo.