O líder da Oposição no Zimbabwe, Nelson Chamisa, rejeitou nesta Sexta-feira, 3, os “resultados falsos sem verificar”, que deram a vitória ao Presidente Emmerson Mnangagwa nas primeiras eleições desde a queda de Robert Mugabe em Novembro.
O Zimbábue amanheceu nesta Sexta com o anúncio de que Mnangagwa, ex-braço direito de Mugabe, havia sido eleito Presidente com 50,8% dos votos, de acordo com a Comissão Eleitoral, o que evita uma segunda volta. Nelson Chamisa obteve 44,3% dos votos, anunciou nesta madrugada a presidente da Comissão, Priscilla Chigumba, em entrevista colectiva na capital, Harare. Este, inconformado, rejeitou os resultados no Twitter, denunciando que, por não terem sido verificados, os “resultados são falsos”. “O escândalo da ZEC (a Comissão Eleitoral) publicando resultados falsos sem verificar é lamentável”, twittou Chamisa. “O nível de opacidade, a falta de verdade, a deterioração moral e a ausência de valores são desconcertantes”, acrescentou. Mnangagwa foi, por mais de 30 anos, um aliado fiel do Presidente e autocrata zimbabwea no Robert Mugabe.
Dirige o país desde Novembro, após um golpe militar que obrigou Mugabe a renunciar. Foi escolhido pelo partido no poder, o ZANU-PF, para lhe suceder. Desde a sua Independência da Grã-Bretanha em 1980, o país teve apenas dois chefes de Estado, ambos do ZANU-PF: Mugabe e Mnangagwa. Esta semana, Mnangagwa disse que a sua vitória significa um “novo começo” para o país. “Embora tenhamos estado divididos nas urnas, estamos unidos nos nossos sonhos”, escreveu no Twitter. Em Harare, a capital, a Polícia invadiu com escudos e granadas de gás lacrimogêneo o Hotel Bronte, onde Chamisa pretendia conceder uma entrevista colectiva, mas os agentes saíram do local pouco depois. Na Quarta-feira, o anúncio de uma vitória esmagadora do ZANU- PF nas legislativas provocou protestos de partidários da Oposição para denunciar fraude eleitoral.
Os militares atiraram contra os manifestantes, deixando seis mortos na capital. Na Quinta-feira, os militares patrulharam o centro de Harare, onde a Polícia do Batalhão de Choque estava estacionada diante da sede do opositor MDC, enquanto um grupo de soldados vigiava os escritórios do partido do Governo. Nesta Sexta-feira, as ruas da capital voltaram à sua movimentação habitual, onde os partidários do ZANU-PF festejavam o resultado. “Este é um novo Zimbábue, estamos felizes”, disse TendaiMugadzi, de 32 anos, que não se preocupou com a apertada margem de vitória para evitar uma segunda volta. “Apenas mostra que esta foi uma eleição livre e justa”, afirmou.
‘Vamos continuar a sofrer’
Os analistas da EXX Africa estimam que o país voltará à normalidade nas próximas semanas, sem a organização de grandes protestos, “devido às fortes medidas de segurança na capital e em outras cidades”. A vitória do Presidente em final de mandato “significa que vamos continuar a sofrer”, afirmou Emion Chitsate, um guarda de segurança privado. “Esperávamos ter um novo dirigente e um novo Governo com novas ideias. Por fim, o futuro será mais sombrio do que com Mugabe”, disse. Os zimbabweanos votaram em massa na Segunda-feira nas eleições presidencial, legislativa e municipal, com uma participação que chegou a 80% na maioria das dez províncias do país. O ZANU-PF obteve a maioria absoluta no Parlamento, com 110 cadeiras de um total de 210. Em nota, os observadores da União Europeia (UE) denunciaram na Quarta-feira “a desigualdade de possibilidades” entre os candidatos às eleições gerais no Zimbabwe e “intimidações aos eleitores”. Durante o regime de Mugabe, as eleições estiveram marcadas pela violência e pela fraude. Nos últimos dias, a presidente da comissão, Priscilla Chigumba, descartou as denúncias.