Protestos pós-eleições no Zimbabwe deixam três mortos

Protestos pós-eleições no Zimbabwe deixam três mortos

Os protestos no Zimbabwe contra uma suposta fraude nas eleições presidenciais deixaram três mortos Quarta-feira (1), quando os militares abriram fogo para reprimir as manifestações, afastando as esperanças de que o pleito marcaria o início de uma nova era no país africano

Os soldados atiraram durante o protesto do partido opositor MDC (Movimento para a Mudança Democrática) no centro de Harare, disseram testemunhas. Um dos manifestantes morreu com um tiro no estômago, revela um fotógrafo da AFP.

“A Polícia confirma a mal-afortunada morte de três pessoas durante os protestos e distúrbios no distrito de negócios do centro de Harare”, explicou a porta-voz da força pública, Charity Charamba, à TV estatal.

O ministro do Interior, Obert Mpofu, avisou que o governo não tolerará protestos da oposição nas ruas. “A oposição talvez tenha entendido a nossa compreensão como fraqueza, mas se testar a nossa determinação estará a cometer um grande erro”.

Os confrontos em Harare com as forças de ordem começaram depois de os partidos da oposição teremacusado a Comissão Eleitoral de fraude após o anúncio da vitória do partido ex-governo no Zimbabwe desde 1980, o ZANU-PF, com maioria absoluta na Assembleia Nacional.

Os Estados Unidos declararamse “profundamente preocupados” com a situação e fizeram um apelo ao Exército para “demonstrar moderação quando dispersar manifestantes”. Em Londres, a ministra encarregada de África na pasta das Relações Exteriores, Harriett Baldwin, disse no Twitter que estava “profundamente preocupada” com a violência no Zimbabwe e pediu aos líderes políticos “que assumam a responsabilidade de garantir a calma e a moderação neste momento crítico”, apontou.

A organização de direitos humanos Amnistia Internacional pediu às autoridades que iniciem uma investigação “rápida e efectiva” sobre a repressão militar.

“A conduta do exército deve ser investigada sem demora e os responsáveis devem comparecer em justiça”, disse Colm Ocuanachain, secretário-geral interino da organização com sede em Londres. Antes de atirar em manifestantes, a Polícia também usou bombas de gás lacrimogêneo e jactos de água para dispersar a multidão, concentrada em frente dos escritórios temporários da Comissão Eleitoral, ao que os manifestantes responderam atirando pedras e erguendo barricadas.

As Nações Unidas também pediram aos líderes políticos e cidadãos do Zimbabwe que rejeitem qualquer forma de violência. “Fazemos um apelo aos líderes políticos e à população em geral para que ajam com moderação e rejeitem qualquer forma de violência, enquanto esperam a resolução das disputas e o anúncio dos resultados eleitorais”, disse o porta-voz da ONU, Farhan Haq.

“Estamos preocupados com os informes de incidentes de violência em algumas partes do Zimbabwe”, acrescentou. “Não queremos os soldados na rua. Não vão nos calar com fuzis”, advertiu, pouco antes, Beridge Takaendesa, ex-corrector imobiliário de 43 anos.

O presidente Emmerson Mnangagwa, que em Novembro sucedeu Robert Mugabe, deposto por um golpe após quase 40 anos no poder, acusou o partido opositor MDC pelos incidentes. “Consideramos responsáveis a aliança opositora MDC e os seus líderes por essa perturbação da paz nacional, cujo objectivo era desestabilizar o processo eleitoral”, declarou o presidente num comunicado.

Pouco antes desta declaração, Mnangagwa havia pedido numa mensagem no Twitter que todos os sectores demonstrassem responsabilidade e evitassem “fazer declarações provocadoras” até ter os resultados definitivos, escreveu.

As consultas eleitorais na era Mugabe regularmente eram marcadas por fraude e violência. “Desigualdade de possibilidades” Os observadores da União Europeia (UE) denunciaram nesta Quarta- feira, num comunicado, “a desigualdade de possibilidades” entre os candidatos às eleições gerais no Zimbabwe e “intimidações aos eleitores”.

A missão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) saudou, por sua vez, “o clima pacífico” que prevaleceu durante a campanha e no dia de votação, que “deu ao povo zimbabwano a possibilidade de exercer seu direito constitucional”.

Caso os resultados não sejam aceites, a SADC “exortou” aos candidatos “de se absterem de toda forma de violência”. A Comissão Eleitoral (ZEC) publicou nesta Quarta-feira os primeiros resultados parciais das legislativas. Em 153 circunscrições de um total de 210, o ZANU-PF obteve 110 assentos, enquanto a força opositora do MDC elegeu 41 deputados.

Segundo estes resultados, o partido do governo ZANU-PF teria obtido a maioria absoluta na Assembleia Geral. No entanto, o líder da oposição, Nelson Chamisa, denunciou no Twitter que a comissão eleitoral, criticada pela sua parcialidade durante a era Mugabe, “quer publicar os resultados para ganhar tempo e impedir a vitória do povo nas eleições presidenciais”.

“A estratégia tem como objectivo preparar mentalmente o Zimbabwe para que aceite os falsos resultados das presidenciais”, reiterou Chamisa, cujo partido, o MDC, reivindicou a vitória na Terça-feira.

Oposição indignada

Os resultados definitivos podem ser conhecidos hoje, Sexta, ou no Sábado, o que causou indignação nos opositores ao MDC, que acusam a comissão eleitoral de querer manipular os resultados. Se nenhum dos candidatos alcançar a maioria absoluta na primeira volta, vão se enfrentar numa segunda volta, no dia 8 de Setembro.

Os resultados das legislativas, anunciados na Quarta-feira pela comissão eleitoral, contradizem a vitória reivindicada na Terça pela oposição ao MDC. “Recebemos os resultados dos nossos colaboradores (…)

Os resultados mostram que, além de qualquer dúvida razoável, vencemos as eleições e que o próximo presidente do Zimbabwe será Nelson Chamisa”, o candidato às presidenciais do MDC, assegurou um líder do partido, Tendai Biti. Chamisa tinha sido o braço direito de Mugabe. E neste pleito, o nonagenário deposto pediu votos para a oposição.-