O documento pede à Rússia e aos EUA para “continuar as consultas sobre o assunto, acerca do cumprimento das obrigações contratuais do Tratado das Forças Nucleares de Alcance Intermédio, bem como retomar o diálogo construtivo de assuntos estratégicos com base na abertura, confiança mútua e de oportunidade reais para a cooperação, que é de extrema importância, especialmente no contexto de mudança, e espera-se que este diálogo contribua para o progresso na redução das armas nucleares e o reforço da segurança internacional e a estabilidade”. O draft do documento também sugere que a ONU considere como ameaça à “estratégia global para a estabilidade” qualquer acção que vá contra os objectivos e condições do Tratado das Forças Nucleares de Alcance Intermédio.
“Estamos dispostos a dialogar com os parceiros americanos sobre esta questão fundamental, e esperamos que eles respondam com toda a responsabilidade”, disse Putin, acrescentando que “a decisão dos EUA sobre a saída do Tratado não pode ficar sem resposta da nossa parte”. O líder russo lembrou que quando os EUA saíram unilateralmente do Acordo sobre a Defesa Anti- Mísseis, a Rússia disse, abertamente, que iria preparar uma resposta e isto é dado sob a forma de uma arma hipersónica capaz de superar qualquer sistema de defesa, lembrou o Presidente russo. Ele também expressou a esperança de que o senso comum e a mútua responsabilidade servirão de base ao diálogo sobre estabilidade estratégica e fortalecimento do sistema de segurança colectiva. Putin também explicou que a decisão dos EUA sobre a saída do Tratado das Forças Nucleares de Alcance Intermédio foi tomada muito antes e anunciaram no dia seguinte.
“O problema não surgiu ontem e não há três dias atrás, quando o Presidente dos EUA anunciou-a, ela foi preparada antes”, disse Putin. O Presidente da Rússia disse que o Congresso dos EUA já incluiu os custos para a realização de uma pesquisa e desenvolvimento do projecto de trabalho sobre mísseis de médio e curto alcance, o que significa que “a decisão já estava tomada e eles não trabalharam para colocar os resultados numa prateleira a acumular poeira. Isto significa que será dado um próximo passo”, disse Vladimir Putin. O Presidente da Rússia disse que o Congresso dos EUA destinou recursos financeiros para a o desenvolvimento de trabalhos de pesquisa para a criação de mísseis ainda antes da declaração de Washington sobre a saída do Tratado. Isso significa que os Estados Unidos da América adoptaram esta decisão há muito tempo, pensando que a Rússia não notaria isso, disse Putin.
Se os EUA apostam no Tratado das Forças Nucleares de Alcance Intermédio eles receberão não apenas um incentivo para a sua indústria militar na forma de produção de novos dispositivos portadores destas armas, como também a oportunidade de acolhimento de mísseis de médio e de curto alcance nas suas bases no exterior sem qualquer controlo. Naturalmente, isso afectará o equilíbrio de poder que poderia levar a uma guerra mundial, o que a Rússia se manifesta contrária. A intenção dos EUA de abandonar o Tratado das Forças Nucleares de Alcance Intermédio surgiu ainda no início da década de 2000, imediatamente após a saída de Washington de um acordo sobre limitação de sistemas de defesa anti-mísseis, explicou o director do Departamento de Assuntos de Não-Proliferação e Controlo de Armas do Mirex russo. “E eis que nas últimas duas décadas tentou convencer-nos a não fazê-lo, quando do lado dos EUA se acumularam muito graves violações incompatíveis com o tratado, os americanos decidiram não só não assumir a responsabilidade pela derrocada do tratado, como descarregar tudo sobre a Rússia”, disse o diplomata. A Rússia, segundo ele, recebeu infundadas alegações, pois os EUA não têm argumentos, porque não houve quaisquer violações por parte da Rússia.
Os americanos tiveram simplesmente de cobrir a decisão de sair do Acordo das Forças Nucleares de Alcance Intermédio”, concluiu o diplomata. Está-se diante da pura lógica americana: “você foi avisado, mas a decisão já está tomada, de modo que falar é inútil. E quando os EUA, pela voz do secretário Mike Pompeo, começaram a dizer que deixem de observar a posição de um Tratado sobre a Eliminação de Mísseis de Médio e Curto Alcance de 60 dias, se a Rússia não voltar a cumprir com os compromissos assumidos, em Washington, já foi decidido: saímos do Tratado. Assim que o “ultimato” e declarações sobre “violações graves” e a imediata ameaça russa para a Europa através de mísseis de cruzeiro SSC-8 (9M729) ecoaram sem sentido-, os EUA já soltaram as mãos e “legalizaram” os seus mísseis na Europa.
A probabilidade de que o Presidente Trump atenda os pedidos da Rússia, China, dos representantes da UE e dos principais países europeus que pediram para não deixar o Tratado das Forças Nucleares de Alcance Intermédio devido a efeitos indesejáveis desta decisão para a segurança europeia e mundial é extremamente baixa. Se o acordo for quebrado, este será o primeiro caso, quando a actual administração da Casa Branca sair do tratado internacional de controlo de armas. Lembremo-nos da teimosia de Trump, quando os países da União Europeia incentivaram-no a não sair do Acordo de Paris sobre o Clima e não houve um pouco de persuasão. Não influenciaram o líder americano os apelos da EU e da Rússia a não se retirar do acordo nuclear com o Irão, sendo difícil que Trump recue sobre os mísseis de médio e curto alcance. É improvável a opção de meter o Tratado em estado de reforma constante que poderia troná- lo mais aceitável para os EUA.
E digamos que se a Rússia poder reduzir o alcance dos seus mísseis, pela redução dos tanques de combustível, então teria de se certificar que os lançadores americanos MK-41 na Polónia e na Roménia não serão capazes de ignorar o tratado de mísseis de cruzeiro. A situação é ainda mais complicada com a China, para quem os mísseis terrestres e balísticos de médio alcance são portas de valor estratégico para Pequim, no teatro do Pacífico, razão pela qual a China não vai aderir ao Tratado das Forças Nucleares de Alcance Intermédio sem maiores concessões por parte de Washington. De acordo com o presidente da Federação Russa, os EUA já violaram o acordo, “estabelecendo um sistema de defesa anti-mísseis na Roménia e utilizando, para isso, lançadores de “Aegis”, colocando- os sobre a terra” Putin ressaltou que as instalações podem ser usadas para foguetes ofensivos, mas não possuem anti-mísseis. Para isso, você deve apenas mudar de software do programa do computador.
“É um trabalho de algumas horas, mas ainda não entendemos o que aconteceu, não veremos o resultado”, disse ele, acrescentando que os países europeus, que concordaram com isso, “devem entender que eles colocam o seu próprio território sob a ameaça de uma possível resposta”. “Eu não entendo a necessidade de se trazer para a Europa um estado de alto risco. Eu não vejo, na verdade, nenhuma razão para isso”, acrescentou Putin. Outro ponto importante, com base na interpretação unilateral das disposições do tratado, os EUA não cumprem com as obrigações em relação aos assim chamados mísseis-alvos, e, na verdade,- mísseis de características balísticas similares aos mísseis terrestres de médio e curto alcance. Também não resolvida permanece a questão referente a uma série de aparelhos aéreos não tripulados “drones” com impacto potencial aceite pelos EUA como armas, enquanto tais armas caem sob alçada do contido no Tratado sob a definição de “mísseis cruzadores terrestres”.
Acreditamos que esta questão deve ser resolvida no campo jurídico do tratado. É que se os EUA têm a intenção de sair do Tratado das Forças Nucleares de Alcance Intermédio, pode afirmar-se, com alta probabilidade, a aceitação da maioria dos especialistas. A Rússia não cobrará o mesmo facto, se fizer as mesmas concessões, porque o principal motivo está relacionado não com a implantação pela Rússia de mísseis proibidos e sim com a relutância da administração americanade se limitar a qualquer controlo de armamentos. Significa que o mundo espera por nova gama de armas nucleares ofensivas com participantes que não sejam só a Rússia e os EUA, mas também a China, os países da OTAN, a Índia, o Paquistão, Israel e Coreia do Norte.
Do ponto de vista de Washington, as negociações sobre o desenvolvimento de um novo modo de controlo de armas têm um significado apenas no caso em que assinará o acordo não só com a Rússia mas também com a China. Os EUA cuidam com ansiedade o acúmulo de capacidades de mísseis por parte da China, reconhecendo o perigo que ela representa para os seus aliados no Pacífico. Se tais negociações começarem, com certeza que Moscovo vai querer alcançar a eliminação de bases americanas/OTAN de defesa anti-mísseis na Polónia, Roménia e também vai elevar o tema da renovação do tratado sobre a redução de armas estratégicas dependem da posição da China, e ela dificilmente será inclinada a desistir dos seus arsenais de mísseis de curto e médio alcance, porque, é a sério, limita a capacidade de projecção de força na região.