Ismael Mateus diz, sobre o alegado caso de racismo no Café del Mar, na Ilha de Luanda, contra o jornalista Simão Hossi, que “um dia alguém perde a cabeça e aí é que serão elas”. Não nestas palavras, mas foi como interpretei. Este apelo não é novo vindo de Ismael e não é novo vindo de muita gente.
Por: José Kaliengue
A prática também não é nova e parece encorajada pelas autoridades e pelas elites. Uns por corrupção, comodismo, incompetência e deixa andar, e outros pelo desejo de distinção e “sangazulismo” com dinheiro fácil e roubado.
Em Angola, o racismo é feito por via da selecção dos “convivas” nalguns locais, com base no tom da pele, e disfarçado com um apartheid com base económica. Preto rico já não é assim tão preto.
E nem ele próprio se sente preto. Ismael Mateus, que é jornalista e conselheiro do Presidente da República, diz que deixará de frequentar o restaurante. Luísa Rogério, antiga secretária-geral do Sindicato dos Jornalistas e Sizaltina Cutaia, activista cívica, alinham e vão bater outras portas.
Tudo bem, é para o lado onde dorme melhor a direcção do restaurante e de todos os outros da Ilha, Talatona, Sangano, etc..
Os boicotadores não perceberam que nunca lá foram bem vindos, a menos que fossem ricos para gastar acima de cem mil kwanzas num almoço para dois na marisqueira. Não afectam a clientela, não interessam, não é com eles que se conta. Poupam o esforço de os afastar.
Resultado mesmo, só se os que lá são bem vindos aderissem ao boicote. Resta saber se lhes interessa. Não pelo racismo contra o Hossi que o Bloco de Esquerda irá ao Parlamento luso com camisolas estampadas.