TV , a loja dos milagres

O conforto espiritual dado pelas igrejas está a ser, cada vez mais, uma coisa do passado. Agora as igrejas têm uma espécie de menu. Tudo é feito em troca. A ideia da salvação, da vida eterna, isso já não pega, o que está a bater são os milagres.

POR: José Kaliengue

Tantos que até estou espantado que haja tanta miséria no nosso país, tanta gente a sofrer, tanta gente a morrer por doenças que poderiam ser evitadas e que para os milagreiros seria canja. Ao contrário de Deus, que se fez homem para salvar a humanidade, os nossos milagreiros dizem que a salvação é individual, e cara. Se dás tudo o que tens, pode esperar por um milagre. Esperar! não há milagres para a sociedade. Não se salva um bairro inteiro, cada um com a sua doença. Acho graça aos “milagrados” na televisão, nunca há um antes, a história da doença que os médicos “desconseguiram” de curar nunca é certificada por um hospital. Não há fotografias do paralítico de nascença, aos sete anos, e que aos dezoito anos usou uma certa água e passou a andar. É curioso, no início, as missões convertiam as pessoas ao cristianismo católico, depois os protestantes instalaram escolas e escolas de ofícios, além do acompanhamento espiritual, trabalhavam nas aldeias, lá no interior, formaram gerações, consciência. Agora, as igrejas novas erguem templos no meio da cidade e têm programas de televendas de milagres. E também na rádio. Gostaria de ver estes “pastores-vendedores” num debate de televisão, um dia, a falar sobre fé, Cristo, a história das religiões, a Bíblia e, já agora, gostaria de os ver a curar, aleatoriamente, sem produção, ao menos uma criança internada com cancro na pediatria.