Podia ser até um desejo fútil de Verão, ou outra tolice qualquer, como discutir o nome do museu das descobertas em Lisboa, que ainda não existe; ou o simbolismo tecnocrático da gravata grega de Alexis Tsipras, que finalmente aconteceu.
POR: José Manuel Diogo
Podíamos até alimentar com isso a importância temporária de assuntos menores, mas a ideia do meu amigo Sérgio Dávila, director da Folha de São Paulo, é muito melhor. -Final: Brasil – Portugal! Atirou ele do lado de lá do Atlântico. -Isso era lindo! E dá! Respondi-lhe, a pensar no calendário. É só preciso que Portugal termine em segundo do grupo e o Brasil em primeiro. Ou vice-versa. Aí o Brasil elimina a Alemanha, a Espanha e a Argentina; e nós, o Uruguai, a Dinamarca e a Bélgica. Dá não dá? Já vimos isso acontecer. E lá nos encontramos todos em Moscovo, que é também Moscou: Sérgio e José, Tite e Fernando, Ronaldo e Neymar. O Brasil e Portugal. De bandeira na mão e tinta na cara. Índios bandeirantes a escrever de novo a história. Manchete! A língua portuguesa conquista a Rússia de Putin. Final, Brasil Portugal? Não sei se o nosso coração aguenta Sérgio! Isso é até emocionalmente perigoso. E contei o que aconteceu na véspera, à hora de almoço, em Leiria, cidade a norte de Lisboa, ainda mais longe de São Paulo. O Brasil sofria com a Costa Rica em todos os ecrãs. A selecção não conseguia marcar e o povo protestava. Lamentava a exibição, o empate zero a zero e as quedas do Neymar. Parecia até excursão de brasileiros, mas não era. Era apenas o bom povo de Leiria apoiando o “escrete” canarinho como se fosse o deles. Quando o Filipe Coutinho marcou, já no tempo dos descontos, os portugueses rebentaram de alegria. Quando o Neymar confirmou, o estrondo foi ainda maior. Ali, à sombra do castelo medieval de onde o Rei D. Dinis mandou plantar uma floresta de navios em plena areia da praia, o povo das descobertas sem museu era afinal, brasileiro. – Não vai dar, Sérgio. Vamos ficar de coração dilacerado. Sem saber como torcer, sem saber quem aplaudir, sem saber quem apoiar. Porque vocês adoram o Ronaldo, mas nós amamos o Neymar. – Final, Brasil Portugal? Era bom Sérgio, era bom. Mas ia ser uma merda.