A visão é da eurodeputada Ana Gomes e foi apresentada durante a terceira conferência sobre corrupção realizada pela AJPD, que recomendou a criação de um Plano Nacional Contra a Corrupção e Impunidade e uma maior independência dos órgãos de comunicação públicos na divulgação de matérias do género
A eurodeputada Ana Gomes admitiu que Portugal foi um dos países da União Europeia mais cúmplices com a transferência de activos ilegais provenientes de Angola. Sem adiantar números concretos, a parlamentar, que animou um debate sobre branqueamento de capitais, em Luanda, no âmbito da terceira conferência sobre corrupção, promovida pela Associação Justiça, Paz e Democracia (AJPD), não descartou a possibilidade de ser possível o Governo angolano criar alianças com outros Estados no sentido de recuperar estes activos ilícitos.
Ana Gomes considera inadmissível que os portugueses compactuem com práticas dos corruptos, sendo um dever deste país ajudar Angola na sanidade, no combate à corrupção e na recuperação de activos ilegais. Acrescentou também ser preciso um manifesto político, da parte do Governo angolano, em que se prove que, de facto, aqueles activos foram transferidos contra a vontade do povo angolano. Ana Gomes disse antever que na próxima visita do chefe de Estado angolano a Portugal, agendada inicialmente para os dias 23 e 24 deste mês, poderão ser rubricados acordos neste sentido.
A parlamentar do Partido Socialista (PS) reconheceu existir vontade de mudança em Angola, embora seja preciso apoiar as pessoas com capacidade de alerta para supervisionar o sistema de justiça, administrativo e, inclusive, os actos de corrupção. Ana Gomes salientou existir vontade das autoridades europeias para ajudar no processo de recuperação do activo ilegal no exterior, mas é preciso que as autoridades angolanas se organizem, pois os tribunais arbitrais, tal como aconteceu com o de Londres, acabam por ser vulneráveis.
A eurodeputada, que desde 2015 não visitava Angola, voltou desta vez a convite da AJPD para abordar a questão do branqueamento de capitais e o papel de Portugal e da União Europeia nesta luta.
A sua intervenção na mesa redonda, realizada no auditório Cônego Manuel das Neves, em Luanda, foi antecedida por duas figurais notáveis da política doméstica, Adalberto da Costa Júnior (UNITA) e Mário Pinto de Andrade (MPLA), tendo ambos abordado o actual momento político, aferindo se os partidos políticos estão preparados para a cultura de prevenção e combate à corrupção.
A AJPD é uma organização nacional, apartidária, de carácter voluntário, que procura contribuir para a participação activa, consciente e responsável de todos os angolanos no processo de consolidação do Estado de Direito Democrático.