Cidadãos angolanos desconhecem o Dia da Cultura Nacional

Cidadãos angolanos desconhecem o Dia da Cultura Nacional

A nossa ronda iniciou-se em Talatona, estendeuse ao 1º de Maio e terminou no Largo das Escolas, com o objectivo de perceber os pontos de vista de estudantes, funcionários públicos e do público, cada vez insatisfeito, pelo rumo a que tomou a nossa Cultura.

A maioria dos interlocutores aponta o dedo acusador ao Ministério da Cultura pela fraca divulgação das acções em torno dia da nossa identidade cultural que muitas vezes tem passado despercebido, sobretudo os hábitos e costumes, o folclore, a música, a dança, a forma como é representada e as restrições em pequenos recintos.

Conversamos com o jovem Mário Costa, supervisor do Call Center em Talatona, que disse sentir-se surpreso pelo Dia da Cultura Nacional, que hoje é assinalado, por dois motivos: a fraca representatividade de actividades culturais em vários locais para comemorar a data e pouca divulgação nos meios de comunicação.

Mário Costa referiu que a Cultura Nacional perdeu a sua dimensão em todos os aspectos e está cada vez mais distorcida e ignorada à semelhança do 4 de Janeiro de 1961, consagrado Dia dos Mártires da Repressão Colonial, que marcou a Revolta da Baixa de Cassanje.

“Não há futuro sem história e sem Cultura. É muito triste ver a juventude a crescer e não saber nada sobre a sua identidade cultural e o que foi feito no passado”, lamentou. Ideia semelhante, defende o jovem Domingos Bernardo, técnico de frio, que apontou uma fraca produção de actividades que dignificassem o 8 de Janeiro na sua dimensão cultural.

O jovem disse ter constatado no 1º de Maio um grande vazio em termos de acções artísticas em todas as vertentes, que dignificassem este dia. “Estamos a perder a nossa identidade e a pautar pela cultura que nada tem a ver com a nossa. Estamos a aculturar-nos. Pensamos sempre, que o que vemos e vem de fora é melhor. Enganamo-nos”, disse.

Preocupado com esta situação, Domingos Bernardo apelou ao Ministério da Cultura a encarar com atenção as grandes manifestações culturais do país, preservá-las e divulgá-las da melhor forma, para que as novas e futuras gerações tenham conhecimento.

Por seu turno, o também assistente de clientes da Ucall, José Quintas, realçou que apesar de muitas pessoas nada saberem sobre o Dia da Cultura Nacional, a efeméride é muito importante para a Nação, cabendo ao Mincult realizar mais actividades, pesquisar trabalhos junto da sociedade e difundi-los. Já Sandra Geraldo caracterizou a Cultura como parte importante e crucial de um país, uma vez que representa as suas origens, a sua identidade e deve ser festejada como ela assim determina.

Não obstante ter registado alguma interferência por conta da globalização com influência nos hábitos e costumes, não é muito tarde para poder recuperá-los, numa acção que envolva os esforços de todos, da própria sociedade. “Acredito que também exageramos muito e perdemos, até certo ponto, o que são os nossos valores.

Somos angolanos, somos africanos e temos perdido em parte aquele costume que nos identifica”, disse Sandra Geraldo. Atento às várias transformações, o escritor e crítico literário, Hamilton Artes, referiu que por Angola ser um país multicultural, fica-se com algumas pulgas quanto à ideia de Cultura Nacional. No seu entender, é factual e urge a imperiosidade de se repensar o estado da Cultura angolana e as suas manifestações.