O jornal OPAÍS ouviu as histórias de dois jovens ex-toxicodependentes que entraram no mundo das drogas ainda adolescentes e perderam muitas coisas. Recuperados, hoje defendem que a confiança da família é dos maiores bens que conseguiram conquistar e lhes tem servido de suporte
Francisco Homem, de 27 anos de idade, começou a fumar liamba com 16 anos de idade, no colégio em que estudava. Sempre que consumia droga era agredido fisicamente pelos amigos e muitas vezes zombado. Ao todo calcula 10 anos de de- pendência, tendo a família o levado à igreja, para uma reabilitação espiritual, o que contribuiu para que deixasse de consumir por um período de três anos. Para a sua infelicidade, passado aquele período voltou a usar duas vezes mais droga do que antes.
Francisco Homem era usuário de vários tipos de drogas, designadamente canábis e, depois, foi evoluiu para cocaína. Além de estudar, Francisco era músico e quando não tinha dinheiro para adquirir droga roubava na bolsa da sua mãe, irmã, pai; assaltava a casa dos vizinhos, e, num dos assaltos, a Polícia foi chamada e a família de Francisco teve de devolver o Ipad furtado. Deixou de estudar por decisão própria, durante dois anos, tendo o pai aceitado o seu pedido, uma vez que o progenitor dizia que estava apenas a gastar dinheiro. Foi difícil abandonar o vício sem ajuda, até porque os amigos o convidavam sempre para consumir, onde quer que fosse havia sempre alguém que o chamava.
A situação foi ficando cada vez mais crítica, até que encontrou dificuldades de memorização. Foi o seu pai que encontrou o centro do INALUD e convidou- o a entrar. “Fui fazer uma visita ao centro com a minha tia, gostei do espaço, tem piscina, ginásio, pomar, sala de cinema, refeitório, etc. Longe de mim que os utentes é que fazem o trabalho doméstico, mas tinha de cisem de conselhos para saírem do vício, estou aqui para ajudar. Sair do mundo das drogas não é impossível, só é difícil. Não pretendo voltar para este mundo, porque não me fez bem”, disse.
Começou aos 12 anos e piorou com a perda dos pais
Um outro jovem que também superou o mundo das drogas é Francisco Cassoma, de 28 anos de idade, que começou a usar bebidas alcoólicas quando tinha 12 anos. O que tinha começado por curiosidade, por ocasião da comemoração da quadra festiva, às escondidas, ficou viciante.
Passou a consumir bebidas alcoólicas na escola, aonde levava consigo quase sempre uma garafa para beber durante o intervalo, e, com o passar do tempo, dada as amizades, passou também a consumir a liamba. A diversidade de droga aumentou ainda quando o seu pai morreu. “Passei a misturar liamba e pedra, e tive a ousadia de usar também a cocaína. Mesmo as- sim, o quadro piorou ainda mais depois de perder também a minha mãe. A vida para mim já não tinha sentido, estava sem esperança, estava no fundo do poço. Também cheguei a roubar para sustentar o vício”, disse. De acordo com Francisco Cassoma, no seu local de trabalho os colegas já não o respeitavam, por isso, deixou de trabalhar.
Os familiares tiveram de intervir e, mesmo sem o seu consentimento, o internaram no centro de reabilitação. Já recuperado, Francisco Cassoma agradece a atitude dos seus parentes e afirma que foi a melhor coisa que fizeram. Também recuperou a confiança da família, que tem sido uma das ferramentas necessárias para vencer na vida. De acordo com Francisco Cassoma, a triste realidade é encontrar sempre alguém que tem o desejo de contar a sua história como forma de baixar a sua auto-estima, porém, no centro foram preparados para enfrentarem tais situações. Por agora, a vida segue o seu curso normal, está a trabalhar, já é pai e em breve vai viver com a família que está a constituir. Francisco Cassoma foi um dos beneficiados dos cursos profissionais que o MAPTSS oferece ao INALUD, não trabalha directamente na área em que foi formado, mas quando é chamado a intervir dá os seus préstimos e tem ajudando a custear algumas despesas de casa.