O comandante da Polícia Nacional do Distrito do Patriota, apontado como presumível autor dos disparos que vitimou, mortalmente, no dia 13 de Março um agente e deixou dois feridos, está detido. a família da vítima mortal mostra-se preocupada com o andamento do processo
Texto de: Romão Brandão
Completa hoje dois meses, desde que o agente Fernando António, de 43 anos, morreu após não resistir aos dois tiros na cabeça e quatro do peito, feitos pelo seu então comandante, dentro do carro da divisão de Polícia em que trabalhava. Fernando teve morte imediata.
Os disparos, feitos supostamente pelo comandante, João Lourenço Neto, deixaram também ferimentos graves nas pernas e barriga a outros dois colegas. Destes, o primeiro anda com o apoio de muletas e o segundo está na cadeira de rodas, depois de muito tempo hospitalizado.
Passados dois meses, a família da vítima mortal mostra-se preocupada com a morosidade do processo de responsabilização criminal do comandante que efectuou os disparos. Segundo o irmão da vítima, Salvador Simão, que falou ao Jornal OPAÍS, desde que foram ouvidos pela Polícia e lhes disseram que o caso está no Ministério Público, há duas semanas, até ao momento, aguardam. “Ouviram a nós (como família do malogrado), os outros colegas atingidos e os homens que estavam em serviço.
Sentimos que há uma demora no processo e nos têm limitado determinadas informações, bem como visitar o comandante que dizem estar detido na cadeia do Tombo”, disse. O entrevistado disse que receberam a informação de que o caso estava sob a alçada da Polícia Judiciária Militar e, por isso, o comandante foi enviado para a Unidade Prisional do Tombo, que dista 160 quilómetros a Sul da cidade de Luanda, e subordina-se administrativamente à Direcção Nacional dos Serviços Prisionais das FAA e da Região Militar Luanda.
“Disseram ainda que ele não tem direito a visita de ninguém. Nós não tivemos qualquer contacto com ele, só para saber por que razão matou o meu irmão. Da mesma forma, não tivemos contacto com os resultados do inquérito para apurar o móbil do crime que a Polícia instaurou, na altura”, reclamou.
Sem resultados do inquérito
O inquérito a que se refere o entrevistado foi aberto, segundo informações avançadas, na altura, pelo Director de Comunicação do Ministério do Interior, Mateus Rodrigues, no mesmo dia, 13 de Março. “Foi aberto de imediato um inquérito policial para apurar as circunstâncias e os motivos dos crimes”, reforçou. Aém do inquérito, tinha sido instaurado um processo-crime e outro disciplinar, no sentido de garantir a responsabilização pelos referidos actos.
O presumível autor dos crimes foi detido. Mateus Rodrigues foi novamente contactado pelo jornal OPAÍS, ontem, para se pronunciar sobre o resultado do inquérito e disse que “o inquérito foi aberto pelo Gabinete de Investigação do Comando da Polícia, pelo que ainda não recebemos informações adicionais, o que acreditamos que ainda não tenha terminado”. Entretanto, aquele responsável garantiu que tão logo tenham em mãos os resultados do referido inquérito poderá falar com maior propriedade.
Embriaguez poderá estar na base
Fernando, a vítima mortal, trabalhava na Divisão do Talatona e, normalmente, quando saísse tarde aproveitava a boleia de um colega. No dia do crime, antes de sair com o colega, o comandante do distrito estava embriagado e pediu que o deixassem em casa, como conta o irmão, Salvador Simão.
“Saíram os quatro e, no Patriota, o comandante João Lourenço Neto pediu que fizessem uma paragem, pois precisava de urinar. Tão logo terminou de urinar, sacou a pistola, sem mais nem menos, e disparou contra os três que estavam na viatura”, conta Salvador.
O entrevistado conta ainda que, depois de disparar contra os colegas, o comandante fez parar e tirou a viatura a uma cidadã que passava na rua, apontando-lhe a arma, para pôr-se em fuga, mas João Neto foi detido posteriormente.