Médicos aderem à greve e pacientes reclamam contra o atendimento

Médicos aderem à greve e pacientes reclamam contra o atendimento

Sindicato fala em adesão maciça e queixa- se de intimidação por parte da Polícia na província do Huambo. Em Luanda, a maioria das unidades estão a prestar os serviços mínimos, enquanto o ministério de tutela diz não existir razões objectivas para a greve.Arrancou, ontem, mais uma paralisação no sector da Saúde, com previsão de duração de três dias, na qual se registam constrangimentos no atendimento dos utentes, devido à adesão de muitos médicos. A ronda feita por OPAÍS, neste primeiro dia, começou no Hospital Pediátrico David Bernardino, onde encontramos a menina Dádiva que, até às 10:30min, altura em que saímos do local, não tinha sido atendida. “Chegamos aqui às 8h e disseram- nos que o atendimento estava demorado por causa da greve dos médicos” frisou Eva Ramos, mãe de Dádiva.

No centro de oncologia, o cenário era mais greve, os pacientes instalaram-se no quintal, corredores e na sala de espera à procura de uma explicação da enchente. Num dos cantos da unidade, médicos grevistas sentados conversavam, enquanto a direcção da instituição encontrava- se fechada numa sala, reunida com outro grupo de médicos, de forma à convencê-los a não aderirem à greve e traçar métodos enquanto passam por este período. Simeão Gabriel acabava de chegar do Hospital do Prenda de onde o seu parente foi transferido com urgência por lhe ter sido diagnosticado um cancro na garganta. Com uma aparência debilitada, o paciente decidiu regressar à casa depois de ter sido informado pelos enfermeiros que já não havia mais atendimento. “Nos foi dito que o médico só nos vai atender na próxima Segunda- feira, em função da greve”, disse Simeão.

Na mesma unidade, o médico que atenderia a irmã de Samuel Costa, que padece também de câncro, não esteve presente ontem, o que levou os familiares a concluir que faz parte do grupo dos grevistas. A família chegou ao Centro de Oncologia às 6h, e depois de quatro horas de espera não lhes tinha sido dada nenhuma explicação. “Ela está à espera de uma cirurgia, trouxemos alguns resultados de análises encomendadas pelo médico, mas eles não se faz presente”, esclareceu. Foi assim no Josina Machel e nos outros hospitais em que passamos, onde, com excepção dos serviços mínimos, nomeadamente os cuidados intensivos, bancos de urgência, serviços de sangue e rádio e quimioterapia (que registou um movimento fora do normal), as consultas de especialidade estavam paralisadas.

Sindicato fala em adesão maciça

O presidente do sindicato, Adriano Manuel, disse a OPAÍS que o objectivo é forçar o diálogo, mantendo-se com a esperança de que os pontos do caderno reivindicativo venham a ser apreciados positivamente pela entidade patronal. O médico pediatra disse que a adesão à greve, em todo país, é positiva, acrescentando que os filiados ao sindicato estão conscientes de que esta é uma das vias para a melhoria das condições salariais e de trabalho.

Ameaças no Huambo

No Huambo, a Polícia Nacional e o governo local insurgiramse contra os grevistas, segundo o sindicalista, o que para ele representa um mau sinal das autoridades. “Rasgaram os cartazes dos nossos colegas e estão a ser intimidados. Mas, de qualquer forma, vamos continuar com a greve até Quarta-feira”, realçou. Adriano Manuel disse que os médicos não estão a pedir nada que o Governo não consiga resolver, frisando que está em causa a vida dos utentes e o alto nível de mortalidade nos nossos hospitais. Caso a entidade patronal se negue a ceder às exigências da classe depois da greve, o sindicato ameaça fazer novas paralisações por mais tempo, diminuir o número de médicos nos bancos de urgência e nas unidades de cuidados intensivos. Entre outros assuntos, os médicos reclamam a integração dos 3.500 médicos que se encontram no desemprego, o fornecimento de material de trabalho (seringas, luvas e medicamentos para um atendimento humanizado) e os subsídios para os médicos que trabalham em zonas remotas.

MINSA diz que não há razões para a greve

Em comunicado de imprensa divulgado, ontem, o Ministério da Saúde (MINSA), reconhece o direito à greve, realçando que sempre manteve-se disponível para negociar com os médicos através de uma comissão dirigida pelo secretário de Estado para área Hospitalar, Leonardo Europeu. No documento, o MINSA adianta que, a 14 do mês em curso, reuniu-se com o Sindicato dos Médicos e “discutiram exaustivamente o ponto um do caderno reivindicativo e marcaram uma outra reunião para esta semana, a pedido dos sindicalistas”, lê-se no comunicado. Perante essas situações, o ministério dirigido por Sílvia Lutucuta entende não existirem razões objectivas para o início da greve e apela ao sindicato e aos profissionais que dêem mostras de bom senso, de modo a se poder garantir o serviço integral dos utentes do Serviço Nacional de Saúde, reiterando a disponibilidade do diálogo.

“Não há greve no Hospital do Prenda”

Já no Hospital do Prenda, apesar da existência de um grupo de grevistas, o seu director geral, Tomás Cassinda, disse que todos os serviços estão a funcionar normalmente e não se está a registar qualquer constrangimento. “Aqui no Hospital do Prenda não há greve, estamos a trabalhar de forma normal”, disse, acrescentando que pretende manter esta dinâmica enquanto durar o período previsto para a greve. Tomás Cassinda disse que não existe nenhum tipo de coacção por parte da sua direcção, acrescentando que estes profissionais fizeram juramento para salvar vidas e enquanto existirem utentes a solicitar os seus serviços, não cruzarão os braços.