Cidadãos socorrem Celma e filhos

Cidadãos socorrem Celma e filhos

Para muitos é mais uma história, para outros é a salvação de mais uma família que vive na precariedade nas redondezas da capital, Luanda. Celma António Manuel, de 32 anos, é mãe de cinco filhos e há dois anos que enfrenta inúmeras dificuldades.

Em entrevista a OPAÍS, Celma Manuel conta que a sua situação se agravou com a morte do seu irmão, que o ajudava, e o surgimento de casos do novo Coronavírus no país, pois o seu marido, que sustenta a família através de “biscatos”, tem tido poucas oportunidades.

Há duas semanas que Celma teve um parto difícil de gémeos e se alimentava graças a ajuda dos seus vizinhos que partilham consigo o pouco que têm. A Fundação 100% Humano decidiu ajudá-la, oferecendo um curso de costura e consigo trabalhar para conseguir um emprego quando concluir a formação, a fim de que possa sustentar a família.

Ofereceram também diversos bens materiais como dois sacos de fuba de milho, dois sacos de açúcar, duas caixas de óleo, uma caixa de lixívia, quatro sacos de arroz, oito caixas de massa, uma caixa de sabão líquido, 30 embalagens de água, um colchão, uma caixa de atum, duas caixas de detergente, quatro latas de leite Nido, quatro latas de leite Ná.

Por outro lado, recebeu também 30 embalagens de fraudas para os bebês gémeos, roupas, entre outros.

Celma agradeceu o gesto, afirmando que mudou o seu dia, uma vez que não esperava receber tantas coisas. “Tenho passado fome e só sobrevivi à gravidez destes bebés por obra dos vizinhos que me davam um pouco de comida para alimentar a minha família”, contou.

Disse ainda que teve de abandonar o trabalho por causa da gravidez, para preservar a sua vida e a dos bebés. Limitou-se a ficar em casa, que alguém lhes cedeu para controlar há dois anos, a cuidar dos filhos.

“O meu marido não trabalha e já está desempregado há dois anos. Faz uns biscatos e quando surgem. Quando não aparece nada, ficamos assim. Ele tem uma outra relação”, frisou.

Desesperada, a jovem pede ajuda para construir pelo menos um quarto num terreno que o seu falecido irmão deixou no bairro Benfica para viver com os filhos.

Manifestou ter consciência dos riscos que as pessoas correm com a Covid-19 e que têm tentado cumprir com as medidas de prevenção, apesar das dificuldades.

“As pessoas não têm noção de como as doações têm ajudado a minha vida. Até militares já me trouxeram algo. Nunca pensei que a minha história pudesse mexer com o coração das pessoas. Espero que esse tipo de gesto não pare por aqui porque somos muitos a passar pelo mesmo”, apelou.

Por sua vez, Eda Vicente, vizinha de Celma, a autora do vídeo que se tornou viral nas redes sociais, confirmou que a mesma vive há dois anos no bairro, mas que quando chegou à localidade o seu irmão mais velho ainda estava em vida e a prestava o apoio necessário. “Mas desde que o senhor morreu começou o sofrimento dela. O marido desde que saiu daqui Segunda-feira ainda não apareceu porque tem outra relação”, contou.

Edna Vicente conta que após receberem a notícia de Celma teve gêmeos ficaram muito contentes, mas quando Celma chegou a casa não havia nada para comer. Foi no instante que se apercebeu que ela nem leite tinha para amamentar as crianças por não ter o que comer que decidiram fazer o pedido ajuda.

Fundação promete continuar dar assistência a Celma

A secretária-geral da Fundação 100% Humano, Rossana Lino, disse ser uma acção que vai continuar por terem como missão oferecer assistência educacional, material e moral levando conforto social e humanitário. “Somos motivados pelas crises humanitárias, sobretudo pelos principais problemas de educação que assolam o nosso país”, disse.

Questionada sobre a escolha de Celma, a responsável disse que receberam um pedido de socorro e sem pensar duas vezes foram conduzidos a atender, uma vez que Celma é uma mãe de recém-nascidos em desespero. “Sentimos que é um sinal de Deus. Não somos nós quem escolhemos a Celma, foi Deus que tocou nos nossos corações para que agíssemos. Nós simplesmente fomos objectos da escolha de Deus”, frisou.

Apesar da contaminação comunitária que se vivencia por Luanda, Rossana Lino disse que o medo “não nos impeça de ajudar o próximo. Devemos nos cuidar a nós e aos nossos, mas devemos nos lembrar também de olhar sempre pelo próximo, só assim construímos um mundo melhor”, disse.