Estudo aponta Polícia Nacional como instituição mais corrupta em Angola

Uma alta patente do Comando Geral da Polícia Nacional, contactado ontem, para se pronunciar sobre o assunto, diz que a corporação vai reagir tão logo tenha acesso ao relatório, tendo garantido estar tranquila.

O relatório é apresentado nesta Segunda-feira, 27, às 17 horas, em Luanda, na 2ª Conferência de Disseminação, que tem como tema “Corrupção e Confiança nas Instituições em Angola”.

O investigador Carlos Pacatolo, da Ovilongwa, em declarações, ontem, a OPAÍS, explicou que a sua instituição vai fazer a apresentação pública dos segundos resultados do inquérito para os angolanos perceberem sobre a corrupção e a confiança nas instituições em 2019.

Baseando-se no estudo, o investigador sublinhou ser necessário haver mudança de atitudes para se inverter o quadro, que aponta como preocupante para os organismos visados, como é o caso da Polícia Nacional.

Sobre a Polícia Nacional, tendo em conta a natureza das suas atribuições enquanto autoridade do Estado, Carlos Pacatolo diz que é preciso ter-se mais atenção no que concerne ao combate à corrupção no seio da corporação. Para a fonte, esta acção não pode resumir-se em relatórios, mas em fazer claras demonstrações que, efectivamente, demonstrem o esforço para banir este mal.

“ É preciso combater os corruptos, leválos às barras do tribunal, e expulsá-los se se comprovar os actos de que são acusados”, disse Pacatolo. O estudo sustenta que a percepção sobre o envolvimento da Polícia Nacional em actos de corrupção “é comparativamente maior nos angolanos mais escolarizados (85 por cento), residentes na região Leste, sendo 78 na zona urbana, 74 nos homens e 72 % nos mais jovens.

Administração Pública

Depois da Polícia Nacional, segundo o estudo efectuado nos últimos dois meses do ano passado, cuja apresentação vai ser feita em directo pela Rádio Mais, do Grupo Media Nova, seguem-se os funcionários públicos e os membros das Administrações Municipais, com 67 e 66 por cento, respectivamente.

A percepção sobre o envolvimento dos funcionários públicos em actos de corrupção é também comparativamente maior nos angolanos mais escolarizados, havendo 82 porcento. A maioria dos angolanos percepciona o sector público como sendo bastante corrupto, revelando que o envolvimento dos membros das Administrações Municipais em actos de corrupção é igualmente maior nos angolanos mais escolarizados, com 78 por cento.

Baixo índice de corrupção

O estudo revela, por outro lado, que entre 2018 e 2019, 44 por cento dos angolanos consideravam que a corrupção em Angola “diminuiu um pouco/diminuiu muito”, enquanto para 33 porcento “aumentou um pouco/aumentou muito”.

Acesso a bens e serviços

Sobre a experiência pessoal com actos de corrupção no acesso aos bens e serviços públicos gratuitos ou tendencialmente gratuitos, segundo o estudo, 42 por cento dos angolanos afirmaram ter recorrido à famigerada “gasosa” para ter assistência policial ou evitar problemas com a Polícia.

Deste percentual, 39 disseram que para obter um documento de identificação pessoal ou para ter acesso aos serviços da escola pública e 33 para obter assistência médica ou medicamentosa pública, tiveram de recorrer a actos de corrupção

. Quanto à denúncia dos actos de corrupção, a maioria dos angolanos (54 porcento ) não se sente livre para denunciar, pois receia “riscos de retaliação ou outras consequências negativas”.

A percepção do “risco de retaliação ou outras consequências negativas” é comparativamente maior nos angolanos mais escolarizados, estando na ordem de 72 por cento, diz ainda o documento a que OPAÍS teve acesso.

Combate cerrado à corrupção

Sobre a possibilidade de se perdoar as pessoas envolvidas em actos de corrupção até 2017, a maioria dos angolanos (51 por cento) “discorda/discorda totalmente” de tal hipótese.

A discordância da possibilidade do perdão é comparativamente maior nos angolanos mais escolarizados (64 por cento), residentes das províncias de Luanda e Cabinda (57), mais velhos (55) e mais jovens (54), residentes no espaço urbano (54) e nos homens (53).

Sobre a recuperação de todos os bens financeiros/patrimoniais adquiridos por meio da prática da corrupção, a maioria dos angolanos (58 porcento) “concorda/concorda totalmente” que sejam recuperados. O acordo é comparativamente maior nos angolanos mais escolarizados (79) residentes na província de Cabinda (78), nas zonas urbanas (67), nos mais jovens (61) e nos homens (60).

MPLA

Quanto à possibilidade de o Presidente do MPLA, João Lourenço, estar a usar a luta contra a corrupção como instrumento de combate político para afastar adversários políticos internos no MPLA, a maioria relativa (39%) dos angolanos “concorda/concorda totalmente” com esta hipótese e 31% “discorda/discorda totalmente”.

Esta divisão da percepção dos angolanos mantém-se nos grupos sociodemográficos, sendo 49 por cento dos angolanos residentes na região Centro, 42 dos mais escolarizados, 41 dos mais velhos e mais jovens, 40 dos residentes nos centros urbanos que “concorda/concorda totalmente”.

Confiança nos líderes religiosos

No que à confiança diz respeito, a maioria dos angolanos confia mais nos líderes religiosos(53 porcento), relativamente nas Forças Armadas Angolanas(43) e autoridades tradicionais (42) do que nos órgãos eleitos como o Presidente da República (37)e a Assembleia Nacional(31).

De acordo com o estudo, os angolanos mais velhos (66) destacam-se na confiança nos líderes religiosos, com ensino primário (58), em situação de pobreza extrema (57), residentes das regiões Leste e Centro (57), das zonas rurais (56) e as mulheres (54).

O documento divulga ainda que no sector público, os angolanos confiam relativamente mais nas FAA (43 por cento ) e nos tribunais judiciais (38) do que nos órgãos eleitos. Os angolanos mais velhos também se destacam na confiança nas forças armadas (54), com ensino secundário (52), residentes das regiões Sul e Leste, sendo (48) em situação de pobreza extrema e as mulheres (46).

Partidos políticos

Em termos partidários, os angolanos confiam relativamente mais no partido no poder (34 por cento) do que nos partidos políticos na Oposição, sendo (31). Entretanto, os residentes na província de Luanda encontram-se na situação inversa, pois 27 por cento confiam mais nos partidos políticos na Oposição e 19 no partido no poder.

Os angolanos mais velhos continuam a merecer maior atenção, pois a maioria (51 por cento) confia no partido no poder, seguem-se em termos relativos os residentes na região Sul (47), os da zona rural (43), os sem educação formal (41) e as mulheres (34).

A Comissão Nacional Eleitoral, responsável pela gestão do processo eleitoral, é a instituição pública em que os angolanos menos confiam (27 por cento), sendo os valores de Luanda os mais baixos (15).

Afrobarometer

Afrobarometer é uma rede de pesquisa pan-africana e nãopartidária que fornece dados quantitativos fiáveis sobre a vivência e avaliação dos africanos da democracia, da governação e da qualidade de vida.

Foram realizadas sete rondas de pesquisas de opinião pública em 38 países, entre 1999 e 2018.

A 8ª Ronda está prevista em 35 países africanos, entre 2019/2020. O Afrobarometer realiza entrevistas face-a-face na língua da escolha do entrevistado, com uma amostra nacional representativa.

No seu primeiro inquérito de opinião pública em Angola, a equipa do Afrobarometer, liderada pela Ovilongwa – Estudos de Opinião Pública, entrevistou 2 mil e 400 angolanos adultos, entre 27 de Novembro e 27 de Dezembro 2019.

Uma amostra deste tamanho produz resultados nacionais com uma margem de erro de +/-2 pontos percentuais e um nível de confiança de 95%.