Museu Afro destaca contributo de “heróis negros” no Brasil

Museu Afro destaca contributo de “heróis negros” no Brasil

O espaço tem como missão destacar o contributo dos negros transportados para o Brasil, mesmo antes da abolição da escravatura, em 1888, de modo a contradizer imagens negativas associadas somente à violência e inferioridade

Por:Antónia Gonçalo, enviada a São Paulo, Brasil

O Museu Afro Brasil, localizado no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, é um célebre espaço artístico e etnológico voltado para a pesquisa, conservação e exposição de objectos relacionados ao universo cultural do negro do país. O espaço funciona desde 2004 e tem como objectivo ilustrar o contributo dos heróis negros transportados para o Brasil na época colonial, da sua participação no desenvolvimento da nação, mesmo antes da abolição da escravatura, em 1888.

Durante uma visita realizada ao local, é comum ficarem na memória questões relacionadas somente com a escravidão, pela história narrada, desde as memórias dos ancestrais afro-descendentes, sobretudo do processo difícil da escravatura, ao qual foram submetidos ao longo de mais de 500 anos. O que consta é que, mesmo nessa época, houve afro-descendentes intelectuais que se destacaram nas várias disciplinas sociais, como na literatura, medicina, arquitectura, geologia, artes plásticas, jornalismo e no teatro, facto que contraria argumentos negativos relacionados unicamente com a violência e inferioridade.

Visita

Pela sua história, torna o espaço num dos pontos de maior atracção turística da cidade, uma proposta de visita obrigatória a quem chega a essa cidade. Foi neste contexto que a caravana da Associação Angola na Globo Dikulu visitou o espaço, no percurso do intercâmbio cultural realizado de 2 a 16 do corrente mês, com o projecto brasileiro “Colectivo Raízes”. Numa extensão dividida em três pavimentos, no primeiro andar encontram-se expostos cerca de seis mil obras, que abarcam diversas facetas do universo das culturas africanas e afro-brasileira, abordando temas como a religião, o trabalho, a arte, a diáspora africana e a escravidão.

A mostra dá corpo à exposição permanente e regista a trajectória histórica e as influências africanas na construção da sociedade brasileira, produzidos entre o século XV até aos dias de hoje. De acordo com o guia do museu, a intenção da mostra é de se pensar numa outra memória, história e narrativa sobre a população negra. “Quando se fala dessa memória, sobre quem é essa população negra no período da escravidão, no caso do Brasil, são mais evidentes as referências negativas. Que viviam numa situação de violência e inferioridade, mas vimos que não. É importante sabermos que são os nossos heróis negros, e também pensar e repensar sobre a escravidão, porque o que sabemos é o que foi contado pelos brancos”, enfatizou.

Exposições temáticas

O acervo que retrata a vida dos antepassados abarca diversas facetas do universo cultural africano e afro-brasileiro, abordando seis temas. O primeiro, “Diversidade e Permanência” é dedicado à riqueza cultural, histórica e artística dos povos africanos. Nas vitrinas estão expostas, desde máscaras e estatuetas feitas em madeira, bronze e marfi m, todas originárias de diferentes países africanos, dos grupos culturais como Attie Tchokwé (Angola), (Costa do Marfim), Bamileque (Camarões), Luba (Republica Democrática do Congo) e Iorubá (Nigéria).

História e Memória

O tema está ligado à cronografia e lembrança de importantes personalidades negras que se destacaram em diversas áreas do conhecimento, desde o período colonial até aos dias de hoje. Fotografias e documentos exaltam a trajectória de escritores, engenheiros, geógrafos, e arquitectos. Entre os vários constam os nomes da actriz Ruth de Sousa e do futebolista Edson Arantes do Nascimento (Pelé).

Trabalho e Escravidão

Este núcleo tem como função ressaltar os saberes e tecnologias trazidas pelos africanos escravizados no campo de trabalho. Tanto no ambiente rural quanto no urbano, o conhecimento dos africanos foi determinante para o desenvolvimento dos ciclos económicos. Além de pinturas, gravuras e esculturas retratam parte dessas contribuições.

As Religiões Afro-Brasileiras

Centro consagrado às religiões e cultos brasileiros que possuem matriz africana. Visões de mundo e mitologias são ressaltadas por meio de rica iconografia, com destaque ao panteão.

O Sagrado e o Profano

Nesse núcleo estão representadas festividades celebradas no Brasil, ligadas ao sagrado e celebradas no espaço festivo de rua. Muitas das festas populares brasileiras, como a “Congada” e o “Maracatu”, remetem ao período colonial e eram considerados espaços de sociabilidade, aproveitados pelos africanos escravizados para que celebrassem às suas tradições para assim salvaguardar as raízes e identidades culturais.

Artes Plásticas

O foco expõe obras que perpassam diferentes períodos da arte no Brasil, desde o Barroco e o Rococó, o século XIX e a arte académica, bem como a Arte Popular, a Arte Moderna e a Contemporânea.

O museu

Visando a formação do público, o museu mantém uma eclética agenda cultural, oferece palestras , cursos e diversas exposições temporárias ligadas ao tema da produção cultural afro-brasileira e do resgate da memória do universo negro. O seu acervo tem sido ampliado consideravelmente, por meio de aquisições, doações e empréstimos de coleccionadores particulares e de outras instituições.