Nefwani Júnior: “A pandemia forçou-nos à procura de outros conceitos para expor as nossas obras de arte, enquanto as salas de exposições estão fechadas”

Nefwani Júnior: “A pandemia forçou-nos à procura de outros conceitos para expor as nossas obras de arte, enquanto as salas de exposições estão fechadas”

Como surgiu a exposição “Do Kubico Para O Mundo” e quanto tempo levou a preparação da mesma?

A exposição surgiu como resultado de uma residência artística feita em colaboração à distância em que os processos que criação das obras eram partilhados num grupo criado na Internet, isto aconteceu durante a primeira e segunda fase do Estado de Emergência no nosso país, todos artistas em confinamento, em casa, e assim começou a criação das obras que fazem parte da exposição do “Do Kubico para o Mundo” focado nas experiências e situações vividas em tempos de emergência causada pela pandemia Covid-19 na nossa sociedade e no resto do mundo.

Que balanço faz desta colecção duas semanas depois da sua apresentação online?

O balanço é positivo, os cliques continuam, conseguimos levar os amantes das artes e o público em geral num site para verem arte. É uma experiência nova para os artistas, para a produção/curadoria e para público que convidamos visitar a nossa exposição virtual.

Fale-nos um pouco mais desta experiência.

É interessante saber que mesmo à distância podemos mostrar o que temos produzido, com todos os requisitos no que diz respeito a expografia e museologia. Como curador e produtor é a minha primeira experiência neste conceito, mas como artista é a minha segunda experiência pois recentemente participei numa outra exposição virtual do Laboratório de Crítica e Curadoria, LabCC e tem sido bom viajar nesta nova aventura no mundo das artes, aprendendo todos os dias. A plataforma online onde está a acontecer a exposição dá apenas um espaço, numa espécie de terreno virtual com os blocos (Risos) e ferramentas de trabalho. Nós mesmos é que construímos a sala virtual do zero e por fim fomos montando as obras no espaço. A pandemia forçou-nos a procura de outros conceitos para expor as nossas obras de arte enquanto as salas de exposições estão fechadas. Em nenhum período ou situações que humanidade atravessou os artistas ficaram parados, mesmo quando aí não eram considerados de Artistas (autónomos).

Quantos internautas visitaram a exposição e que mensagem deixaram aos artistas participantes?

Segundo as estatísticas do blogue Mwini AO, o dia inaugural da nossa exposição, 14 de Agosto de 2020, foi até agora o pico máximo de visualizações em um dia. Visitaram a exposição 130 internautas e 47 baixaram o catálogo. Isto no primeiro dia. Hoje depois de uma semana e 2 dias, temos no total mais de 150 visitantes e 60 donwloads do catálogo. Alguns internautas que visitaram a exposição deixaram algumas mensagens de incentivo no espaço de comentários do blogue.

Quanto tempo ficará a exposição patente ao público?

A exposição ficará patente ao público até quando acalmar-se a situação da pandemia. Outras actividades serão realizadas em torno da exposição, uma delas são os Artists Talks. Pedimos que todos que tiveram dificuldades em visualizar a exposição podem voltar a dar um clique no link e também podem baixar o aplicativo Artsteps para um melhor experiência em exposições virtuais nesta plataforma.

Como está a pintura representada e o que retrata?

No caso concreto da pintura, nenhuma obra está exposta no seu estilo tradicional, apenas em técnicas mistas como acrílico e colagem sobre cartão, óleo e colagem sobre cartão, óleo e colagem sobre contraplacado, acrílico sobre cartão, e acrílico e colagem sobre tela. Somente uma pintura foi feita em tela que é um meio convencional mas também foi adicionado a colagem. Incentivamos o uso de qualquer meio disponível ou encontrado devido a falta de materiais e sem a possibilidade de sair para procurar em lojas, ou melhor, lojas fechadas e sem direito à circulação no Estado de Emergência.

Quais foram as técnicas usadas na preparação das obras e quanto tempo serão exibidas virtualmente?

As técnicas usadas na criação das obras são: mista sobre cartão, mista sobre tela, mista sobre contraplacado, acrílico sobre cartão, lápis sobre papel, marcador sobre papel, instalação, fotografia, fotoperformance, e vídeo-performance. A exposição continuará exibida virtualmente enquanto durar a pandemia Covid-19.

Quais são as dimensões das obras e quantos artistas participam na área da pintura?

As obras variam em termos de dimensões, as mais pequenas entre os 30×40 cm e 42.5×30 cm e as maiores entre 120×60 cm e 120×100 cm, e no caso das instalações as dimensões são variáveis consoante o espaço. Temos pintura (em técnica mista) de 4 artistas, mas a exposição não está dividida em áreas, as obras estão na distribuição consoante os temas e todas as forma um discurso. Por exemplo, temos uma artista que apresenta uma pintura e a segunda obra é vídeo-performance.

O que mais desperta a atenção do público nesta primeira Expo Colectiva Virtual?

O conjunto de obras, esta exposição apesar de ser colectiva as obras estão ligadas através dos temas e a sua montagem no espaço (sala virtual) formam um discurso desde a primeira obra até a última obra. E também depende do público, sendo uma exposição com obras muito conceptuais, os mais atentos no que diz respeito às Artes Visuais ficarão pela expografia, técnicas, conceitos e outros ficarão apenas na procura do belo.

Como estará representada a instalação e a fotografia?

As instalações não estarão em 3D, apenas teremos as fotografias destas instalações pois as obras formam criadas e instaladas no atelier dos artistas e sendo uma sala virtual ficamos pela fotografia, isto em 2D. E as fotografias estão fixas num suporte e depois na parede como as pinturas.

O que retratam as duas disciplinas?

As fotografias expostas retratam o trabalho extraordinário de muitos angolanos que têm as ruas como base do seu sustento e estão a viver um grande drama nas suas casas, não ainda pela doença ou calamidade pública, mas pela falta de tudo nas suas casas, e as instalações, uma retrata.

Como estará igualmente representada a foto-performance e vídeo-performance?

A foto-performance estará apresentada por meio de 5 fotografias tiradas no momento da performance da Kingica que tem como título “A Espera”. A vídeo-performance é um vídeo reduzido a 1 min e 45 seg de 4MB, tamanho máximo aceite na plataforma online que estamos a usar (original 04 min e 53 seg) que estará a passar numa tela virtual fixada na parede da sala virtual, obra da artista Ima Tchitanga e que fecha a exposição em termos de discurso.

Qual é o retrato das duas?

A foto-performance retrata a fome e as dificuldades das famílias para sobreviverem nesta pandemia. E vídeo-performance “No Coment” inspirada no grande problema de saúde pública que o mundo inteiro vive desde 31 de Dezembro de 2019, isto é a Pandemia do Coronavírus ou Covid-19, visa pôr em causa a interpretação da obra pelo telespectador, sendo o próprio a ter as suas conclusões sem influência da artista e pôr em causa a questão de sobrevivência visto que a mesma pandemia já fez inúmeras vítimas pelo mundo todo.

Quem é o curador da exposição e o que diz em relação a esta prestigiada colecção?

A curadoria está a cargo de Nefwani Júnior, que também é um dos artistas participantes e de forma resumida o que diz sobre esta exposição é que: Pensar em produção artística em tempos de crise e caos social, para os artistas pode ser uma oportunidade de experimentar outros meios e possibilidade de fazer e mostrar a sua arte. Entre o medo e a incerteza, a arte desempenha um grande papel em momentos de caos, e a produção das obras que compõem esta exposição reflectem essas incertezas e a luta pela sobrevivência na nossa sociedade e do mundo.

Uma palavra para o público apreciador das artes plásticas…

Convidamos todos amantes da artes a seguirem o link, de momento não podemos estar numa sala física, portanto ficaremos à espera dos vossos cliques.

Como deverá este público a cessar o site ou o link desta colecção?

Iremos disponibilizar o link no dia e na hora da exposição (14 de Agosto de 2020 pelas 18h) a partir de uma publicação no Blog Mwini. AO (www.mwinimagazine.wordpress. com), com partilhas nas redes sociais.

Qual será o próximo passo depois desta exposição virtual?

O próximo passo será os “Artists Talks”, devido à falta de contacto entre o público e os artistas, pensamos em publicar vídeos com os artístas falando das suas obras e as experiências vividas nesta pandemia que não quer deixar-nos.

Outras considerações a acentuar?

Teremos uma linha para possíveis vendas e também para apoios aos artistas participantes para a continuação do projecto.