“O Sol Não Se Abre” livro de poesia da autoria do escritor Adriano Botelho de Vasconcelos será apresentado nos próximos dias, na União dos Escritores Angolanos, a maior casa das lestras do país, e desta vez sem a presença do seu público devido à pandemia da Covid-19.
Segundo o secretário-geral da instituição, David Capelenguela, a obra pode ser adquirida na sua sede, por marcação via Whatsapp, depois de autografado. A decisão de isolar o público desta sessão de apresentação da obra, surge em função do Estado de Calamidade, que proíbe a aglomeração de pessoas em diferentes recintos.
O livro “O Sol Não Se Abre”, segundo o autor, é um pequeno volume, onde o mesmo diz ser na escrita que tem a emoção quando ouve música africana.
“Gosto de entrelaçar um conjunto de emoções como se não tivessem marcadores, encontrar a filosofia existencial por conta dos nossos trajectos e alguma coisa do passado que chamam a memória de origem”, disse.
Adriano Botelho sublinha que hoje, mais ou menos fixado na preocupação de apresentar novas máximas que também podem, e muito bem, trazer novas plásticas à poesia, todas as vezes que escreve não se deixa dominar por nenhum dos padrões que foi construindo.
Reacções
Ana Lúcia Sá, mestranda em Estudos Africanos e licenciada em Língua e Literatura Moderna, ao comentar a obra, referiu que “os trabalhos de Adriano Vasconcelos são indagações à sufocante necessidade de pensar a memória colectiva e as suas fracturas.
São, no seu entender, o testemunho, claro, mas também o monumento que ergue para que todas as pestes presentes e passadas tenham o lugar que lhes é devido na memória – seja da família, da nação, do grupo, ou do Estado – e no legado com que se quer construir a África sonhada por Aires e pela sua geração”.
Já Jurema Oliveira PhD, da Universidade Federal Fluminense, do Brasil, entende que, com um dinamismo típico de um contador de histórias, Vasconcelos estabelece um pacto com a escrita para manter viva a chama que alimenta a existência de toda uma colectividade.
A docente sublinha, que a sua poesia revigora o ritual da transmissão de conhecimento e irriga com as experiências individuais e colectivas a cadeia primordial da arte de narrar, que na sua obra vai pouco a pouco adquirindo um status mágico, ritualístico, mesmo que “O sol não se abre”.
Por sua vez, o ensaísta e membro da União dos Escritores Angolanos, Akiz Neto, admitiu que Botelho de Vasconcelos, emaranhamos num saco de serrapilheira com metáforas arquitectadas numa sequência de encavalgamentos que norteiam a singularidade do protótipo poético, assim misteriosamente, da apassivação conceptual anuncia que “as lavras são protegidas pelos curandeiros”; daí a demonstração do poder da autoridade tradicional que se faz sentir em todas as latitudes, sendo que “o Rei/deve sentir ao segurar o húmus da terra que rodeia os cemitérios/ e possa, em grande força e amizade, dizer que a hora que demorada passa agora surgir” como fórmula de arquitectação poética e, logicamente, “como uma dádiva de todas as famílias.”
O autor
Poeta, escritor e político, Adriano Botelho de Vasconcelos fez o curso de Administração e Comércio e o Politécnico de Gestão em Portugal. Esteve ligado a várias actividades de desenvolvimento comunitário no exterior do país.
Foi Diplomata em Portugal, onde exerceu o cargo de Adido Cultural da República de Angola, durante 6 anos. Foi eleito deputado pelo partido MPLA, em Outubro de 2008. Foi secretário-geral da União dos Escritores Angolanos.
Viveu quase uma década num exílio consentido e, talvez por esta razão, a sua poesia tenha muito de cosmopolita. Adriano Botelho começou a escrever na 4ª classe.
A sua proposta de escrita, considerada pela família como surrealista, não levou propriamente em conta o drama da colonização.
Vertente poética
Foi na sua vertente poética que Adriano Botelho mais se permitiu dar voz ao “outro”, opondo-se ao princípio estilístico da estandardização da linguagem angolana. Em Lisboa, durante a sua estadia, Adriano Botelho lançou o Jornal Angolê, Artes e Letras; no Porto.
Reuniu mais de 200 especialistas de literatura angolana – encontro muito concorrido, que possibilitou ao poeta a organização de textos sobre a obra de Agostinho Neto. Com mais de 500 páginas e intitulada A Voz Igual, Ensaios sobre Agostinho Neto, a obra reuniu mais de 24 especialistas actuantes em várias Universidades dos diversos recantos do mundo.