Seca agudiza crise alimentar a três mil famílias nos Gambos

Seca agudiza crise alimentar a três mil famílias nos Gambos

POR: João Katombela, na Huíla

A seca que se prolonga há vários anos no município já provocou a morte de muitas centenas de cabeças de gado bovino, deixando os criadores tradicionais sem qualquer recurso para a sua sobrevivência. Além da morte de gado, mais de três mil famílias das localidades de Tyitongontongo, Fimo, Taka e Tyiku, das tribos Vátua, Himba e Vankhuvale poderão enfrentar uma crise alimentar, caso não chova, nos próximos dias. Esta situação está a preocupar as autoridades tradicionais da região e não só, que vaticinam dias difíceis pela frente, numa altura em que as populações dizem não possuir reservas alimentares suficientes nos seus celeiros.

O padre José Vinte Cordeiro, alerta para que se o governo não tomar uma atitude virada para a mitigação da fome, o sofrimento poderá tomar contornos alarmantes. “A situação que se vive aqui é lamentável, as famílias recorrem sempre à igreja para pedir alimentos e nós temos de os alimentar enquanto líderes religiosos, mas é preciso que o Governo trace políticas viradas para a mitigação dos efeitos da seca”, disse. Já o Rei dos Gambos, Katyito Kondjamba, teme por dias pior, por isso, pede a intervenção do Governo. Informou haver muitas famílias a passar fome nos Gambos.

Segundo apurou à nossa reportagem, desde Novembro do ano passado que não chove nesta circunscrição, facto que faz com que o pasto escasseie, obrigando os criadores a optarem pela transumância, percorrendo longas distâncias.O processo de transumância forçou cerca de 76 mil cabeças de gado bovino a ficar concentradas na localidade do Vale do Chimbolelo, onde há ainda reserva de pasto. A presença do gado neste local, segundo apurámos, tem causado conflitos entre os criadores tradicionais e os fazendeiros. O secretário da Associação dos Criadores Tradicionais de Gado, denominada “Ovathumbi” disse que os conflitos envolvem, também, alguns pastores das províncias do Namibe e do Cunene.

Escassez de serviços básicos

À semelhança da falta de pasto e água para o abeberamento do gado, os habitantes da vila de Chiange, sede do município dos Gambos, estão ainda preocupados com a inexistência dos principais serviços sociais básicos, como a Educação e a Saúde. No município, não existe uma Estação de Tratamento de Água (ETA) que garanta uma qualidade aceitável para o consumo humano. Por este facto, muitas famílias da sede e sobretudo do interior do município consomem água imprópria.O consumo de água imprópria tem vindo a causar doenças como diarreias, febre tifoide e shistosomiase, o que preocupa as autoridades sanitárias do município, como afirmou o director municipal da Saúde, Domingos Kapenda. Para além das doenças de fórum hídrico, o responsável do sector da Saúde nos Gambos disse existir ainda outras patologias que necessitam da atenção das autoridades, como o paludismos, tuberculose, sarna e HIV/SIDA. O responsável informou que a rede sanitária do município é composta por três centros médicos e 15 postos de Saúde, que funcionam com 92 técnicos, entre enfermeiros, médicos e pessoal administrativo.

Mais de 4 mil crianças sem estudar

O sector da Educação é um outro sector que também vive inúmeras dificuldades, desde a falta de escolas, professores e material didáctico. A falta de professores deixou pelo menos quatro mil e 133 crianças em idade escolar fora do sistema normal de ensino, o que preocupa alguns pais e encarregados de educação. Alguns pais que falaram à nossa reportagem, dizem que já não querem ver os seus educandos no pasto, no entanto, não estudam por falta de escolas e professores. “Tenho dois filhos, que já poderiam estar a estudar, mas como aqui não temos escola, então eles tem ido comigo até ao Vale do Chimbolelo pastar os bois”, disse Manuel Tyitalengue, na localidade de Tyipeio.

O soba da localidade de Tyipeio, a 50 quilómetros de Chiange, Pedro Kakutytua, defende a construção de uma escola definitiva na sua localidade, já que existe apenas uma única construída com material rudimentar. Nos Gambos, a rede escolar é composta por 67 escolas, sendo 64 do Ensino Primário, duas do Iº ciclo do Ensino Secundário e uma do IIº ciclo. Apesar deste número de escolas para o Ensino Primário, ainda 9 mil crianças estudaram ao relento no ano lectivo passado. Em 2018, foram matriculados 17 mil e 702 alunos dos três níveis de ensino disponíveis no município. Para o presente ano lectivo, a Direcção Municipal da Educação(DME) prevê matricular 19 mil e 785 crianças. Entretanto, o governador provincial da Huíla, Luís Nunes, que efectuou recentemente uma visita neste município, garantiu resolver o problema da água ainda no primeiro trimestre deste ano. em curso.